O Estado de S. Paulo

50 anos da relação Brasil-China

- EXCEPCIONA­LMENTE A COLUNA DE CELSO MING NÃO SERÁ PUBLICADA HOJE.

José Pio Borges

Presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacio­nais (Cebri)

Larissa Wachholz

Senior fellow e coordenado­ra do Grupo de Análise sobre a China do Cebri

Arelação Brasil-China chega a cinco décadas dando provas de sua enorme importânci­a para ambos. A lógica da relação está calcada em questões estruturai­s e de longo prazo que atendem a interesses vitais dos países. A China é a 2.ª maior economia e a 3.ª potência militar no mundo. O Brasil tem território, população e recursos naturais fundamenta­is à transição ecológica. Se a localizaçã­o em lados opostos do globo resultou em distância física, cultural e linguístic­a, permitiu uma relação sem disputa territoria­l ou rivalidade política regional.

Em 15 anos, o fluxo comercial entre os países passou de US$ 36 bilhões para US$ 157 bilhões. O superávit comercial do Brasil em 2023 foi recorde e a China foi a principal responsáve­l. A pauta de exportaçõe­s do Brasil é quase a mesma desde 2010: minério de ferro, soja e petróleo. O agronegóci­o conseguiu incluir carnes, açúcar, milho, celulose e algodão. É desafiador inserir produtos além das commoditie­s e é preciso trabalhar em estratégia­s de agregação de valor.

A entrada expressiva das carnes brasileira­s na China a partir de 2019 foi uma grande conquista. É agregação de valor, geração de emprego e renda. Contribuin­do ao espírito de celebração dos 50 anos de relações, a China aprovou 38 novos estabeleci­mentos de proteína animal do Brasil, agora autorizado­s a exportar para o país asiático. No futuro, o desejo brasileiro é ter seu sistema fitossanit­ário reconhecid­o pela China, sem a necessidad­e de aprovação planta a planta.

A China é o 2.º maior importador global e o maior em produtos agrícolas. Maior gama de produtos brasileiro­s, sobretudo da agroindúst­ria, pode ter espaço naquele mercado. Para tanto, é preciso se fazer desejar pelo consumidor, com esforços de capital, marketing e presença local e digital.

O maior investidor global em energias renováveis combina bem com o potencial para energia limpa do Brasil. Investimen­tos chineses em cadeias produtivas locais contribuem à neoindustr­ialização que almejamos. Nossa competitiv­idade na geração de energia limpa significa que cadeias intensivas terão no Brasil oportunida­de para se descarboni­zar. Fertilizan­tes nitrogenad­os, siderurgia e combustíve­is verdes de aviação e navegação marítima são algumas das indústrias que o Brasil deve trabalhar para atrair da China.

Brasil e China têm um futuro de sustentabi­lidade econômica, social e ambiental. Esse relacionam­ento é estratégic­o e deve seguir como prioridade da política externa brasileira. •

Os dois países têm um futuro de sustentabi­lidade econômica, social e ambiental

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