Entre luzes e sombras, Soft Cell faz caminho de volta aos anos 80
Duo britânico do hit ‘Tainted Love’, que estreia em maio no Brasil, mostra em festival canções que captam as dores do mundo
Integrante da primeira geração do pop eletrônico britânico, o duo Soft Cell, que ganhou impulso na carreira com a canção Tainted Love, de 1981, fará sua estreia no Brasil no dia 18 de maio, na segunda edição do C6 Fest, que ocorrerá no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e que terá ainda Cat Power, Pavement e Fausto Fawcett.
O maior hit do duo é uma regravação de Gloria Jones, de 1964, que ganhou atenção mundial na versão dos britânicos mais de 20 anos depois. Ao longo do tempo, a faixa inspirou outros covers, incluindo do Sepultura, em 2020, feita para a série Desalma – que Dave Ball, metade do Soft Cell com Marc Almond, confessa não ter ouvido.
“Existem tantos covers e diferentes versões e remixes que é difícil acompanhar todos. Obviamente o mais conhecido foi o sample de Tainted Love no SOS de Rihanna, em 2006, que vendeu milhões em todo o mundo. Estamos felizes porque algumas de nossas outras músicas também foram regravadas – como Say Hello Wave Goodbye, pelo A-Ha, assim como David Gray, que a levou de volta às paradas.”
Com sua obra mais relevante fincada nos anos 1980, o duo, que chegou a anunciar o fim da parceria nessa mesma década, retomou a carreira a nos anos 2000, quando lançou cinco álbuns.
O último, Happiness Not Included, saiu em 2022. O show deve girar em torno de canções como Memorabillia (1981) e Down in The Subway (1984), até mesmo para matar a curiosidade dos brasileiros que nunca os viram por aqui.
Assim como o trabalho, os personagens que cruzaram o caminho do duo também exalam a década de 1980. Um deles foi o artista plástico Andy Warhol. Na faixa Polaroid, Ball canta sobre The Factory, estúdio de arte fundado pelo artista americano, e sobre o Velvet Underground, que ali surgiu liderado por Lou Reed. Foi uma cena que definiu a cultura pop.
“Conhecer Andy foi uma experiência maravilhosa e não tenho certeza se eu e Marc realmente acreditamos que isso aconteceu de verdade. Andy foi uma grande inspiração para nós dois. Não veremos alguém como ele novamente.”
BOWIE. Musicalmente, um grande impacto foi causado por David Bowie e Siouxsie Sioux. “Não creio que alguém que cresceu no início dos anos 1970 e se interessava por música não tenha sido impactado por Bowie, que foi um pioneiro em todos os sentidos da palavra e meio que reescreveu as regras para uma nova geração – e continua a inspirar os fãs de música mais jovens com o seu legado”, observa Ball.
“Siouxsie fez a mesma coisa no final daquela década, quando o punk surgiu e provou sua validade e relevância quando o Siouxsie and the Banshees lançou alguns de seus melhores e mais bem-sucedidos trabalhos após o pico do punk.”
Mas a música do Soft Cell foi também sempre marcada pela ironia. Humor britânico ou algo além, talvez uma tentativa mais saudável de olhar para o futuro? Ball já definiu que os temas do duo são amores desfeitos e obsessões, mas também a observação do mundo, repleto de “coisas erradas”.
“O Soft Cell sempre se preocupou com a luz e a sombra e, na verdade, com um senso de humor bastante britânico, que muitas vezes é cínico, como muitos de nossos compatriotas são! Como a maioria das pessoas, nos desesperamos com o quanto há de errado no mundo, como Marc bem descreve nas letras do nosso último álbum, Happiness Not Included.”
O olhar está atento também às novas gerações. “Amamos muitas das novas músicas dançantes e eletrônicas que estão surgindo e certamente nos inspiramos na maneira como os produtores trabalham, em como é muito mais fácil gravar e produzir música atualmente. Mas também não há nada como resgatar alguns dos nossos sintetizadores originais do início da nossa carreira.” •
“Mesmo com um senso de humor britânico, que muitas vezes é cínico, nós nos desesperamos com o quanto há de errado no mundo, como Marc bem descreve nas letras do nosso último álbum, ‘Happiness Not Included’”
Dave Ball
Músico