SpaceX tem de enfrentar novas startups, mas continua líder com folga
Com o surgimento de concorrentes como a Blue Origin e a Rocket Lab, empresa de Elon Musk encara pela primeira vez uma competição mais dura
Desde sua entrada no setor espacial, há mais de duas décadas, a SpaceX evoluiu de uma startup desastrada para uma gigante que continua a dominar o mercado de lançamentos de foguetes espaciais atingindo um marco inédito após o outro.
No entanto, depois de vários anos rivalizado apenas por países como a China, o empreendimento espacial de Elon Musk pode finalmente ter que enfrentar uma nova geração de concorrentes, que cresceu em seu rastro e está pronta para desafiar sua companhia em várias frentes.
Empreendimentos espaciais, incluindo a Blue Origin de Jeff Bezos, a Rocket Lab e a United Launch Alliance – a joint venture da Lockheed Martin e da Boeing – estão prontos para lançar novos foguetes de carga pesada neste ano para competir com o Falcon 9, o mais conhecido da SpaceX.
O Pentágono está procurando outro fornecedor para o lucrativo negócio de lançamento de cargas úteis de segurança nacional. A Boeing está pronta para finalmente lançar uma tripulação de astronautas da Nasa para a Estação Espacial Internacional, dando à a agência americana, que contou com a SpaceX nos últimos quatro anos, outra maneira de colocar seus astronautas em órbita.
Embora a SpaceX tenha dominado o setor de satélites de internet lançando cerca de 6 mil objetos do serviço Starlink, a Amazon, com um investimento de US$ 10 bilhões (R$ 52 bilhões), também está se preparando para lançar sua própria constelação de satélites.
TARDE DEMAIS?. Os avanços da concorrência, porém, podem estar ocorrendo tarde demais para representar um desafio sério a Musk, dizem os analistas. A SpaceX continua a avançar com grandes reservas de dinheiro e uma pressa semelhante à de um tempo de guerra. Seus laços profundos com a Nasa e o Pentágono, que lhe concederam bilhões de dólares em contratos e a elevaram ao status de contratada principal, também lhe deram uma liderança que será difícil de ser corroída.
No ano passado, seu foguete Falcon 9 voou quase 100 vezes – um ritmo sem precedentes em um setor que, durante anos, colocou no ar cerca de uma dúzia de artefatos por ano. Em 2024, a meta é realizar cerca de 150 lançamentos do foguete, que retorna à Terra para que possa ser reutilizado.
Em relatório, o Morgan Stanley estimou que a receita da SpaceX para este ano deve ser de US$ 13 bilhões (R$ 67,5 bilhões), aumento de 54% em relação ao ano passado. Até 2035, com o crescimento da constelação de satélites de internet Starlink da SpaceX, a receita poderá chegar a US$ 100 bilhões (R$ 519,4 bilhões), informou a empresa.
“Basicamente, a visão audaciosa e os sucessos de engenharia da SpaceX desestruturaram o lançamento de satélites, a exploração, a fabricação de satélites e todos os tipos de submercados e aspectos do ecossistema espacial de uma forma que eu diria ser positiva: criando pressão para preços mais baixos e desempenho aprimorado para acompanhar esses preços mais baixos”, diz Carissa Christensen, CEO da BryceTech. “Isso significa que acho uma boa ideia a SpaceX ser o único fornecedor monopolista? Não, não acho.”
Procurada, a SpaceX não quis comentar o assunto.
SPACE ROCKET LAB E FIREFLY. O sucesso da SpaceX também abriu as portas para outras empresas espaciais comerciais. Sem a SpaceX, “não acho que a Space Rocket Lab existiria”. “Eles abriram o caminho ao dizer que o espaço pode ser comercial e que é possível investir”, diz Peter Beck, CEO da Rocket Lab.
Bill Weber, CEO da Firefly Aerospace, concordou que a SpaceX é uma concorrente que revolucionou o mercado. “Poderíamos ver um cenário em que um fornecedor tem uma vantagem tão grande que é impossível recuperar o atraso no pedido, onde haverá uma verdadeira concorrência”, diz ele. Ele diz, porém, que ainda há um mercado para pequenos satélites para empresas como a Firefly, que opera um foguete menor, o Alpha.
ESTRATÉGIA. O governo dos EUA e o setor comercial estão ansiosos para trabalhar com mais empresas espaciais, portanto, ainda há muitas oportunidades. O Pentágono, que recentemente lançou uma nova estratégia projetada para trabalhar melhor com o setor espacial comercial, está ansioso para “aproveitar a notável inovação do setor espacial comercial para aumentar nossa resiliência e fortalecer a dissuasão integrada como um departamento”, diz John Plumb, secretário assistente de defesa para política espacial, ao revelar a iniciativa no início deste mês.
Na semana passada, a Força Espacial dos EUA divulgou uma estratégia comercial própria, que afirma que o serviço procuraria evitar “a dependência excessiva de um único fornecedor ou solução”.
Uma recente missão da SpaceX, conhecida como Bandwagon, levantou preocupações entre muitos no setor porque o preço era extremamente baixo, o que foi visto como uma tática para tirar negócios dos concorrentes. Algumas empresas reclamaram para o Pentágono.
Muitos executivos no setor esperavam que a Blue Origin, de Bezos, desafiasse a SpaceX. No entanto, embora tenha levado turistas para o espaço, ela tem sofrido para competir. A empresa ainda não colocou um foguete em órbita e, em 2021,
Novo mercado O Pentágono procura outro fornecedor para o lucrativo negócio de lançar cargas ao espaço
“Eles (SpaceX) abriram o caminho ao dizer que o espaço pode ser comercial e que é possível investir”
Peter Beck CEO da Rocket Lab
perdeu para a SpaceX um contrato com a Nasa para transportar astronautas até a Lua.
Neste ano, porém, ela está planejando, finalmente, lançar seu foguete New Glenn, que, assim como o Falcon 9, deve ter um estágio reutilizável. A empresa é uma das favoritas para se tornar um terceiro fornecedor de lançamentos para o Pentágono. No ano passado, depois de reformular drasticamente sua proposta, a empresa ganhou um contrato de US$ 3,4 bilhões (R$ 17,6 bilhões) da Nasa para levar astronautas à Lua, somando-se aos contratos da Nasa que já recebeu para construir uma estação espacial comercial e células solares na Lua.
A Blue Origin também está na corrida para comprar a United Launch Alliance, o que lhe daria a herança de um nome forte do setor, outro novo foguete, o Vulcan, e contratos de lançamento do Pentágono e da Amazon – que pretende usar o foguete para içar sua constelação de satélites Kuiper.
O sistema Starlink da SpaceX venceu a Kuiper no mercado e já tem mais de 2,5 milhões de assinantes, mas a Kuiper pode representar um desafio, embora tenha lançado apenas dois protótipos até o momento, diz Christensen, CEO da BryceTech. “Em primeiro lugar, a Amazon é uma das organizações mais bem-sucedidas do mundo na construção de relacionamentos de longo prazo com um grande número de consumidores”, diz ela. “Em segundo lugar, a Amazon Web Services tem relacionamentos variados e profundos com tantos usuários institucionais e individuais em torno de computação e conectividade.” •