O Estado de S. Paulo

Comissão investiga ministro da CGU por conflito de interesse

‘Estadão’ revelou que escritório de advocacia de Vinícius Marques de Carvalho atua para a Novonor, antiga Odebrecht

- WESLLEY GALZO

A Comissão de Ética Pública da Presidênci­a da República abriu uma investigaç­ão preliminar para apurar eventual conflito de interesses do ministro da Controlado­ria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho. O Estadão revelou na semana passada que o escritório de advocacia do ministro presta serviços para a Novonor, antiga Odebrecht, ao mesmo tempo que a CGU renegocia os acordos de leniência firmados no âmbito da Operação Lava Jato.

O caso será relatado pelo conselheir­o Edson Leonardo Teles, indicado para o cargo durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2021. O mandato dele tem vigência até maio deste ano. Após o processo de instrução e coleta de provas, a investigaç­ão é levada ao plenário da Comissão de Ética para os demais membros decidirem se conduzirão um processo que pode aplicar sanções ao ministro.

Procurada pela reportagem, a CGU afirmou que reforça os posicionam­entos já manifestad­os anteriorme­nte de que Vinícius Marques de Carvalho não participa de processos relacionad­os à Novonor. Na última semana, questionad­o sobre o suposto conflito de interesse, o ministro da CGU afirmou, em nota ao Estadão, que desistiu de receber qualquer dinheiro do escritório enquanto estiver no serviço público, mesmo tendo consultado a Comissão de Ética justamente para isso. Não esclareceu, no entanto, como os lucros do escritório estão sendo divididos atualmente – se sua parte está indo para sua mulher, se é mantida no caixa do escritório ou ainda se é repassada a outros advogados vinculados à banca. Disse também que está licenciado do escritório desde que assumiu o cargo no governo, no início de 2023, e evita atuar em situações que configurem conflito de interesse.

A investigaç­ão sobre o ministro da CGU foi aberta a partir das denúncias de três parlamenta­res de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio

Lula da Silva: o senador Rogério Marinho (PL-RN) e os deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PLSP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). As representa­ções foram unificadas e estão em fase de análise preliminar.

Como mostrou o Estadão, Vinícius Marques de Carvalho já se sentou à mesa com advogados da Novonor e de outras sete empreiteir­as para rediscutir acordos de leniência. Publicamen­te, o ministro tem dado declaraçõe­s de que os acordos não podem prejudicar as empresas financeira­mente, argumento que favorece a defesa das companhias.

LICENÇA. Batizado de VMCA Advogados, sigla com as iniciais do nome do ministro, o escritório atualmente é comandado pelas advogadas Marcela Mattiuzzo, mulher de Vinícius Marques, e Ticiana Lima. Para indicar que se desvinculo­u da empresa, o titular da CGU formalizou um pedido de licença da banca advocatíci­a no dia 10 de janeiro de 2023.

Em seguida, consultou a Comissão de Ética sobre a possibilid­ade de seguir recebendo os dividendos do escritório, mesmo licenciado. A comissão considerou que não haveria problema no recebiment­o.

Dividendos Mesmo licenciado de escritório, ministro consultou comissão sobre ganho de dividendos

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