Nas ruas, Portugal lembra os 50 anos da revolução que mudou a Europa
Aniversário de meio século da Revolução dos Cravos ocorre em um cenário de recrudescimento da extrema direita
Dezenas de milhares de portugueses saíram ontem às ruas de Lisboa para celebrar o 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, o golpe de Estado liderado por jovens oficiais que pôs fim a 48 anos de ditadura e a 13 anos de guerras coloniais na África.
A ditadura portuguesa foi estabelecida em 1926, mas o período acabou batizado de salazarismo em razão da mão pesada do ministro das Finanças, António Salazar, que governou Portugal de 1932 a 1968. Na fase de agonia do regime, ele foi substituído pelo professor de direito Marcello Caetano. O movimento que tomou o país de assalto, em 1974, funcionou como um efeito dominó.
Meses depois, a Revolução dos Cravos chegou à Grécia, derrubando o regime dos coronéis que governava desde 1967, e à Espanha, no ano seguinte, varrendo a ditadura do caudilho Francisco Franco.
UNIÃO EUROPEIA. A redemocratização dos países do Mediterrâneo foi a senha para a primeira grande expansão da então Comunidade Econômica Europeia, que nos anos 90 se transformaria na maior união aduaneira do mundo, a União Europeia.
Além do atraso econômico, a Revolução dos Cravos pretendia resolver o problema da guerra colonial. Entre 1961 e 1974, mais de 1,2 milhão de pessoas foram recrutadas para lutar na África – em uma população de menos de 10 milhões de habitantes. Praticamente todas as famílias portuguesas, a menos que pertencessem à elite econômica, tiveram parentes na linha de frente. A revolução acabou conhecida pela distribuição de cravos pelos revoltosos aos soldados, que os enfiavam nos canos dos fuzis.
TURBULÊNCIA. O 50.º aniversário do movimento foi comemorado em um momento turbulento, de avanço da extrema direita, capitaneada pelo partido Chega!, de caráter anti-imigração, e após as declarações do presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre reparações para as vítimas da escravidão e do colonialismo.
Ontem, no tradicional desfile na Avenida da Liberdade, local dos muitos eventos comemorativos nas últimas semanas, uma multidão se reuniu aos gritos de “25 de abril, sempre!” e “Fascismo, nunca mais!”, com cravos vermelhos nas mãos ou nas lapelas.
O dia começou com uma cerimônia às margens do Rio Tejo, com veículos militares restaurados, e terminou com um encontro de Rebelo de Sousa com os presidentes de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe – pelo menos ontem, diante dos líderes africanos, o português não repetiu o discurso sobre reparações. •