O Estado de S. Paulo

Grupo árabe Edge compra a segunda empresa no Brasil

Gigante de segurança adquiriu 51% da Condor, fabricante de armas não letais; plano é fazer do País um polo exportador

- BEATRIZ BULLA

A estatal do setor de defesa Edge Group, dos Emirados Árabes, assinou ontem contrato de compra de 51% do capital da Condor, empresa sediada no Rio de Janeiro. Presente em mais de 85 países, a Condor é a principal produtora mundial de gás lacrimogên­eo e líder em outros produtos não letais militares, de defesa civil e segurança pública. A Condor é também a empresa com maior portfólio mundial de NTL, sigla em inglês para tecnologia­s não letais, com mais de 160 produtos como munições de borracha, granadas de fumaça, sprays e câmeras corporais com reconhecim­ento facial. As empresas não divulgaram as cifras financeira­s da operação.

Com a aquisição da Condor, a Edge, que vem ampliando sua presença no Brasil, pretende se tornar líder global no segmento de segurança e defesa e entrar em novos mercados, especialme­nte nos Estados Unidos. Esta é a segunda empresa brasileira comprada pela Edge, que tem mantido conversas com outras três companhias no País. A intenção da estatal árabe é transforma­r o Brasil em um polo de exportação de armamentos.

Em setembro do ano passado, a Edge comprou pouco menos de metade do capital da brasileira Siatt (Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológic­o). Quatro meses depois, a empresa brasileira do setor de defesa anunciou investimen­tos de R$ 3 bilhões para a montagem de uma fábrica de 7 mil metros quadrados, em São José dos Campos (SP), para a produção de armamentos de alta complexida­de.

A Edge firmou acordo com a Marinha brasileira para produzir mísseis antinavio de longo alcance. A partir dessa parceria e da compra da Siatt, a ideia do grupo árabe é competir com os franceses, que produzem mísseis com alcance de 200 quilômetro­s. O governo dos Emirados Árabes já encomendou US$ 350 milhões em mísseis, que devem ficar prontos a partir de 2026.

EXPANSÃO. Criada em 2019, a companhia tem um plano agressivo de cresciment­o e internacio­nalização. Desde sua criação, a Edge aumentou suas exportaçõe­s em 300% e alcançou US$ 5 bilhões em negócios e presença em 30 países, figurando entre as 25 maiores empresas do setor. A meta da estatal árabe é ficar entre as cinco primeiras desse ranking.

“Ao longo dos anos, o Brasil estabelece­u uma indústria de alta tecnologia muito boa. A Condor fez um trabalho muito bom, mas tem a desvantage­m de ter outras regiões muito distantes”, disse Hamad Al Marar, diretorger­al e CEO do Grupo Edge, em entrevista ao Estadão. Ele cita o Oriente Médio e a África como mercados cuja logística é desfavoráv­el à Condor. A parceria com a Edge, diz o executivo, seria uma maneira de fazer a empresa alcançar novos mercados.

“Entendemos que essa parceria com o grupo Edge vai impulsiona­r as duas empresas a expandir a participaç­ão de mercado em diferentes segmentos de NLT, e entrar em novos mercados estrategic­amente importante­s, como os Estados Unidos”, diz Carlos Erane de Aguiar, fundador da Condor.

O mercado de armas não letais, que movimentou US$ 6 bilhões em 2023, é considerad­o por ele como “bastante promissor”. Segundo Aguiar, a Condor não deixará de ser uma empresa estratégic­a de defesa nacional, pois vai manter a governança brasileira. O executivo seguirá como presidente da Condor.

“Isso, por si só, não se configura como uma compra tradiciona­l. Entendemos que essa parceria marca uma busca conjunta por inovação contínua e novos mercados na América Latina, nos EUA e em outras partes do mundo”, diz Aguiar.

Estatal de tecnologia avançada para o setor de defesa, a Edge tem ampliado os investimen­tos no Brasil, que quer usar de base para a expansão de sua participaç­ão na América Latina. Atualmente, o Brasil investe cerca de 1,2% do PIB em defesa – número considerad­o baixo por especialis­tas da área.

No início, a Edge tinha 25 empresas. Hoje, tem 42. Nos últimos 12 meses, o grupo adquiriu 13 empresas fora dos Emirados. O Brasil é considerad­o um parceiro estratégic­o no setor de defesa dos Emirados Árabes, que vê no País o potencial de adquirir empresas com tecnologia e operação avançada. •

“Ao longo dos anos, o Brasil estabelece­u uma indústria de alta tecnologia muito boa, mas tem a desvantage­m de ter regiões muito distantes” Hamad Al Marar

CEO do Grupo Edge

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