O Estado de S. Paulo

Juiz manda Lula remover vídeo com infração eleitoral; Nunes vai à Justiça

No dia seguinte ao ato do 1.º de Maio onde pediu votos a Boulos, presidente retira registro do ar; MDB defende multa

- SAMUEL LIMA HEITOR MAZZOCO LAVÍNIA KAUCZ

Após decisão judicial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se antecipou ao YouTube e removeu o vídeo em que pede votos para o deputado Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, durante ato do 1.º de Maio. O petista cumpriu determinaç­ão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), que atendeu ontem a pedido do partido Novo e deu prazo de 24 horas para a exclusão do vídeo das redes sociais. Para o YouTube, o prazo era de 48 horas.

As reações ao pedido explícito de voto, prática vedada pela legislação eleitoral, se intensific­aram ontem. Lula também chamou Boulos de candidato, apesar de o período de convenções e registros de candidatur­a só ter início em julho.

A decisão que ordenou a remoção do vídeo foi do juiz eleitoral Paulo Eduardo de Almeida Sorci, da 2.ª Zona Eleitoral de São Paulo. Ele destacou o fato de o vídeo ter sido publicado na página oficial no YouTube do presidente da República, “figura de expressiva importânci­a nacional, com potencial de influencia­r seguidores e não seguidores, já que conta com 1.390.000 inscritos”.

“Tendo o referido vídeo mais de 63.000 visualizaç­ões em cerca de 20 horas, não restam dúvidas quanto à presença do ‘periculum in mora’, pois a permanênci­a do vídeo na rede pode macular a paridade entre os possíveis candidatos ao pleito vindouro, especialme­nte porque, além da extemporan­eidade do ato de campanha, se trata de um ‘cabo eleitoral’ de consideráv­el relevância”, disse o juiz na decisão liminar.

MULTA. O diretório municipal do MDB de São Paulo protocolou ontem ação na Justiça Eleitoral que pede aplicação de multa a Lula e Boulos. O parlamenta­r do PSOL é hoje o principal adversário do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela Prefeitura. Os autores da representa­ção alegam que o presidente e o deputado fizeram propaganda antecipada. O valor máximo da multa, em caso de condenação, é de R$ 25 mil. O partido também pede a exclusão de vídeos e a proibição de uso pela campanha.

Para o MDB, houve pedido explícito de votos pelo presidente fora do período eleitoral “com a inteira concordânc­ia e anuência de Guilherme Boulos, que se engajou claramente no ilícito praticado em seu favor” e replicou o conteúdo nas suas redes sociais.

O MDB ainda sinaliza na peça que o partido pode voltar a acionar a Justiça após o registro de candidatur­a de Boulos, cujo prazo final é 15 de agosto, sob o argumento de que o “comício eleitoral” realizado com recursos públicos e uso de estrutura

sindical pode caracteriz­ar “abuso de poder econômico e de autoridade”. Uma ação do tipo, se acatada pela Justiça, poderia levar até mesmo à impugnação do registro de Boulos e à inelegibil­idade de Lula por oito anos.

Nunes afirmou ontem que está “claro para todo mundo” que houve crime eleitoral. O emedebista também aproveitou o episódio para alfinetar a quantidade de pessoas no ato de 1.º de Maio, considerad­a pequena pelo próprio presidente. O ato reuniu menos de duas mil pessoas. A estimativa é do Monitor do Debate Político da Universida­de de São Paulo (USP).

O PSDB também enviou à Justiça Eleitoral representa­ção na qual pede que Lula seja investigad­o por uso da máquina do governo em favor de um candidato.

Ações de adversário­s falam em ‘abuso de poder econômico’ por parte do presidente

‘CORTINA’. PT e PSOL minimizara­m o caso. O coordenado­r da pré-campanha de Boulos, Josué Rocha, afirmou anteontem que Nunes “tenta criar cortina de fumaça para despistar o uso de eventos oficiais da Prefeitura, realizados com dinheiro público, para a promoção de sua candidatur­a à reeleição”. O ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicaçã­o da Presidênci­a, sustentou que Lula não pediu votos e que a fala dele está dentro da lei.

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