Reino Unido começa a expulsar imigrantes ilegais para Ruanda
Governo tenta conter entrada de refugiados e acredita que envio em massa para a África funcione como método de dissuasão
O governo britânico confirmou a detenção de um número não especificado de imigrantes que farão parte do contingente que será enviado para Ruanda. O primeiro caso de expulsão ocorreu na segunda-feira, de um refugiado de origem africana, não identificado, que aceitou a passagem e o pagamento de 3 mil libras (cerca de R$ 20 mil) para recomeçar a vida a 6,6 mil quilômetros do Reino Unido.
Em abril, o Parlamento aprovou uma lei que permite que os migrantes ilegais que tiveram seus pedidos de asilo negados sejam expulsos para Ruanda, na África. O governo do primeiro-ministro, Rishi Sunak, pretende reduzir o fluxo de entrada, usando a expulsão como mecanismo de dissuasão.
O Parlamento considerou Ruanda um país seguro, revogando uma liminar da Suprema Corte, segundo a qual “há motivos para acreditar que a remoção dos requerentes para Ruanda os exporia a um risco real de maus-tratos”.
EXPULSÕES. O governo planeja enviar 5,7 mil migrantes para Ruanda até o fim do ano, 2.143 dos quais estão no país e “já podem ser rastreados para detenção”. Os primeiros relatos de detenções de pessoas a serem colocadas em voos circularam no início da semana. O Ministério do Interior confirmou, na quarta-feira, que “operações em todo o país” estavam em andamento. “Os primeiros imigrantes ilegais a serem expulsos para Ruanda já foram presos”, afirmou o governo.
O Ministério do Interior disse que a nova lei era “outro marco importante” no projeto para conter a imigração e divulgou fotografias e um vídeo mostrando pessoas algemadas sob a custódia de oficiais de imigração em operações em diferentes locais.
A primeira expulsão, na segunda-feira, foi voluntária, segundo fontes do governo britânico. O homem viajou para Ruanda em um voo comercial. O governo ruandês teria recebido um fundo de 120 milhões de libras (R$ 760 milhões) e ganharia até 30 mil libras (quase R$ 200 mil) por imigrante enviado.
PLANO. “A partir de agora, estamos em condições de enviar solicitantes de asilo a Ruanda no âmbito de nossa associação para a migração e o desenvolvimento econômico”, declarou um porta-voz do governo. “Este acordo permite que as pessoas sem status migratório no Reino Unido sejam realocadas em um terceiro país seguro, onde receberão ajuda para reconstruir suas vidas.”.
Com uma população de 13 milhões de habitantes, Ruanda afirma ser um dos países mais estáveis da África. No entanto, grupos de defesa dos direitos humanos acusam o presidente ruandês, Paul Kagame, de governar em um clima de medo, de reprimir a dissidência e a liberdade de expressão.
Se Sunak acredita no efeito dissuasivo do envio de imigrantes para Ruanda, a oposição do Partido Trabalhista afirma que o plano do governo não passa de um “artifício” que não conterá o fluxo de chegadas no Reino Unido.
“Operações (de prisão de imigrantes) já estão em andamento em todo o país. Os primeiros imigrantes ilegais a serem expulsos para Ruanda já foram presos”
Ministério do Interior do Reino Unido, em comunicado
Sunak está em uma posição difícil. As eleições devem ocorrer em janeiro e a oposição trabalhista lidera com folga as pesquisas, com cerca de 44% das intenções de voto, o que renderia aproximadamente 400 deputados de um Parlamento com 650 cadeiras. Os conservadores seriam pulverizados e passariam dos atuais 277 para apenas 100 deputados.