Ronaldo sai no lucro e deixa o Cruzeiro melhor do que encontrou
Ex-jogador faz bom negócio com a venda das ações; sob seu comando, o prejuízo do clube apresentou redução expressiva
Responsável pelo primeiro caso de revenda de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no futebol brasileiro, Ronaldo abriu mão do Cruzeiro no início da semana ao negociar suas ações (90%) com o empresário Pedro Lourenço, dono da rede Supermercados BH. O ex-jogador decidiu passar o bastão ao quinto maior varejista do País por alguns motivos. Estava desgastado, sofria pressão de parte da torcida cruzeirense pelo pouco investimento em grandes jogadores, mas também por ver vantagem financeira no acordo.
O negócio entre Ronaldo e Pedro Lourenço gira em torno de R$ 600 milhões. Ao adquirir as ações da SAF, 28 meses atrás, o ex-jogador assumiu o compromisso de injetar R$ 400 milhões no futebol do Cruzeiro, ao longo de cinco anos.
Não se sabe qual o lucro real que ele terá com a venda das ações. Tudo indica, porém, que financeiramente deixará o clube melhor do que encontrou, ainda que a situação permaneça muito complicada.
O balanço financeiro divulgado pelo Cruzeiro em 2021 apontou que o clube tinha uma dívida de mais de R$ 970 milhões, e um prejuízo de R$ 113 milhões no ano. As receitas foram de R$ 138 milhões.
Em 2022, primeiro ano de Ronaldo como gestor, os débitos cruzeirenses superaram a faixa de R$ 1 bilhão, com uma receita bruta um pouco maior do que no exercício anterior, de R$ 150,4 milhões, e prejuízo menor, de R$ 24,6 milhões.
Os números de 2023 já foram aprovados pelo Conselho Deliberativo do clube e devem ser divulgados em breve.
“Nós fizemos muito, e o máximo que podíamos, pelo Cruzeiro”, disse Ronaldo, depois de 28 meses no comando.
COMPRA E VENDA. Ronaldo pagara apenas R$ 50 milhões no fim de 2021 para comprar 90% das ações do Cruzeiro e venderá o controle da SAF a Lourenço por cerca de R$ 600 milhões. No ano passado, o varejista já havia investido R$ 100 milhões, valor que foi convertido em 20% das ações na atual operação de compra. R$ 150 milhões devem ser pagos à vista e o restante, R$ 350 milhões em até dez anos.
Pelo contrato, Ronaldo tinha, por meio da Tara Sports
Brazil, uma de suas empresas, a obrigação de, ao adquirir o Cruzeiro, investir imediatamente R$ 50 milhões, o que foi feito, segundo o balanço contábil de 2022 do Cruzeiro, em duas parcelas, de R$ 26 milhões e R$ 24 milhões.
Os R$ 350 milhões restantes que deveria injetar no clube poderiam ser colocados de duas maneiras: por meio de novos aportes, isto é, investindo de seu bolso, ou por meio de receitas incrementais – valores superiores à média que o Cruzeiro faturava entre 2017 e 2021. Nesses cinco anos, a média de faturamento bruto anual foi de R$ 220 milhões.
Dessa maneira, o faturamento que superasse a média de R$ 220 milhões entraria como receita incremental e seria abatido do investimento obrigatório de R$ 350 milhões. Ocorre que, em 2022, o primeiro ano da SAF do Cruzeiro administrada por Ronaldo, o faturamento foi de R$ 150,35 milhões, inferior a R$ 220 milhões. Não houve, portanto, receita incremental no período.
Pelo acerto da venda da SAF, Pedro Lourenço tem de cumprir essas exigências e seguir os termos do acordo de acionistas. Pedrinho, como é conhecido, assumirá todas as responsabilidades que eram da Tara Sports.
“A dívida do Cruzeiro é enorme. Não é fácil de pagar, mas nós vamos pagar. Se não fosse a dívida, era fácil formar um time para brigar com os grandes. A gente tem que assumir os compromissos e pagar”, afirmou o novo dono do Cruzeiro.
A operação ainda tem de ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e ter a concordância da Associação do Cruzeiro, que detém 10% das ações da SAF e comunicou que uma comissão formada por conselheiros para avaliar o contrato da venda. Caso consumado o negócio, Ronaldo continuará como membro do conselho de administração da SAF. •
Outro clube
Ronaldo também tem o controle do Valladolid, da Espanha, que ele também cogita repassar