O Estado de S. Paulo

Bradesco tem lucro líquido de R$ 4,2 bi no primeiro trimestre

Com queda na inadimplên­cia e nas provisões, carteira de crédito voltou a crescer; banco avança em reestrutur­ação

- MATHEUS PIOVESANA

O Bradesco fechou o primeiro trimestre com lucro líquido recorrente de R$ 4,2 bilhões. O valor é 1,6% menor do que os ganhos no mesmo período de 2023, mas representa um salto de 46,3% em relação ao último trimestre de 2023. O resultado reflete a retomada da carteira de crédito, que havia encolhido no ano passado, acompanhad­a da queda nas provisões para devedores duvidosos.

A estratégia mais cautelosa na concessão de financiame­ntos levou a uma queda de 0,3 ponto porcentual na taxa de inadimplên­cia do banco, que encerrou março em 4,8%, e das despesas com provisões, que caíram 17,9% também na comparação anual, para R$ 7,8 bilhões no trimestre passado – que foi o primeiro completo sob a gestão de Marcelo Noronha, que assumiu a presidênci­a do banco em novembro do ano passado. “Ao longo do tempo, os nossos índices de inadimplên­cia vão convergir para os de mercado”, disse Noronha, em entrevista.

A carteira de crédito do Bradesco encerrou o trimestre em R$ 889,9 bilhões, um cresciment­o de 1,2% em base anual, e ainda abaixo das projeções do banco, de alta de 7% a 11% neste ano. Para Noronha, no entanto , a reversão da queda é um marco importante. “Não foi simplesmen­te um cresciment­o de 1,2%. Nós estávamos com um cresciment­o negativo nos dois últimos trimestres.”

‘LIMPEZA DO BALANÇO’. As concessões de crédito do banco no varejo de pessoa física cresceram 23% ante o primeiro trimestre de 2023. Para os analistas, o trimestre mostrou que o Bradesco pode voltar a crescer. “Vemos este como um trimestre mais fraco em termos de margem, mas mostrando uma tendência de limpeza do balanço e controle de custos”, disse Daniel Vaz, analista do Safra.

Desde o segundo semestre de 2022, o Bradesco reduziu as concessões em linhas como cartão de crédito e empréstimo­s a pequenas e médias empresas – mais arriscados, embora mais rentáveis. E esse movimento ainda pressiona a sua rentabilid­ade. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês, o indicador de rentabilid­ade) ficou em 10,2%, 0,4 ponto porcentual abaixo do primeiro trimestre do ano passado, e ainda distante dos 18% que o banco tinha até 2022.

O aperto nas concessões fez com que caíssem as margens do banco com clientes, o que levou a um recuo de 9% na margem financeira no trimestre passado, para R$ 15,15 bilhões – as projeções do banco para este ano são de alta de 3% a 7% na margem financeira.

PLANO DE REESTRUTUR­AÇÃO. “Todos os itens caminham para dentro do guidance (metas). O crédito cresce primeiro, e as margens vêm depois”, disse Noronha. De acordo com Cassiano Scarpelli, diretor financeiro e de relações com investidor­es do Bradesco, as margens provavelme­nte ficarão próximas ao piso do guidance, o que também deve acontecer com as provisões.

Além de marcar a primeira divulgação de um trimestre completo da atual gestão do banco, o balanço também foi o primeiro desde o anúncio do plano de reestrutur­ação, em 7 de fevereiro, que ambiciona tornar o banco mais ágil, reduzir custos e fazer com que volte a ganhar participaç­ão no mercado de crédito – segmento em que as fintechs avançaram sobre o público de baixa renda, que é o coração do Bradesco.

Há pouco mais de dois meses, o Bradesco montou um escritório, com 800 pessoas, que está dedicado a colocar as mudanças em prática – são mais de 2.600 iniciativa­s sobre a mesa. Os efeitos nos resultados financeiro­s ainda são limitados, mas Noronha afirmou que as despesas, que caíram 10,5% no trimestre, foram um primeiro reflexo das alterações.

Nos próximos meses, o banco deve intensific­ar a redução da estrutura física de atendiment­o a clientes, que passará a ser apoiada por agências mais enxutas e por um maior uso dos correspond­entes credenciad­os ao Bradesco Expresso. O banco também deve aprofundar a redução de níveis hierárquic­os, o que já aconteceu na alta administra­ção, que passou a contar também com executivos vindos do mercado.

As ações do Bradesco fecharam em queda de 1,14%, ontem, na Bolsa de Valores.l

“Todos os itens caminham para dentro dos guidances (projeções). O crédito cresce primeiro, e as margens vêm depois”

Marcelo Noronha Presidente do Bradesco

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