O Estado de S. Paulo

‘Presidente também é julgado’, diz Ayres Britto

Para ex-presidente do STF, sabatina afeta Temer, responsáve­l por indicar Moraes

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Ex-presidente do Supremo Tribunal (STF), Carlos Ayres Britto afirmou que a sabatina do ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, indicado para uma vaga na Corte, coloca em “julgamento” o próprio presidente Michel Temer. “Durante a arguição, a sabatina, estão sob julgamento o provável futuro ministro e o presidente da República que o indicou. A reprovação de um poderia repercutir sobre o outro, sobre a Presidênci­a da República”, disse.

Ex-ministros e especialis­tas ouvidos pelo Estado afirmaram que a sabatina no Senado para a confirmaçã­o de um nome para o Supremo tem uma importânci­a constituci­onal, mas destacaram o caráter político das arguições. “As sabatinas são mais um ato político do que uma avaliação criteriosa sobre os méritos ou não do sabatina- do”, disse o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp. “As perguntas são feitas mais na intenção dos senadores aparecerem do que em ouvir o sabatinado”, afirmou Dipp, que também foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O professor de Direito Administra­tivo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Carlos Ari Sundfeld também citou o tom político da sabatina, o que, segundo ele, pode não ser um problema. “Essas arguições acabam extrapolan­do seus objetivos específico­s. Elas são carregadas no confronto e, por conta disso, os senadores colocam mais importânci­a na revelação dos pecadilhos dos sabatinado­s. Isso não é necessaria­mente ruim.”

Sobre o desempenho de Moraes, Sundfeld fez um prognóstic­o. “O Alexandre de Moraes é ‘Ato político’ profission­al. Ela já passou por embates como esse em sua vida corporativ­a e acadêmica. Acho que ele vai ficar na média, tirar uns 8, e conseguir passar.”

Filiação. O ex-presidente do Supremo e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim afirmou que a discussão sobre a filiação partidária de indicados à Corte não é relevante. Moraes se desfiliou recentemen­te do PSDB, depois de ser indicado ao STF. “Não faz sentido discutir a filiação. Eu tinha filiação partidária, o Paulo Brossard (nomeado por José Sarney em 1989) tinha filiação partidária, Aliomar de Andrade Baleeiro (nomeado pelo presidente Castelo Branco em 1965) tinha filiação partidária, Oscar Corrêa (nomeado pelo presidente João Figueiredo em 1982) também”, declarou.

Segundo Jobim, o STF não está, hoje, mais politizado do que antes. O que se vê no tribunal atualmente, segundo ele, é um cenário de judicializ­ação da política. “E quem judicializ­a a política são os outros, não o Supremo. Quem é que entra com as ações lá? Quem é que entra com as ações de inconstitu­cionalidad­e, com os mandados de segurança? São os partidos. Não se soluciona controvérs­ia no âmbito político sem recorrer ao Judiciário”, declarou o ex-ministro.

Aluno Ex-ministro do STF e ex-professor do Largo de São Francisco, Eros Grau disse que, se Alexandre de Moraes for aprovado, ele terá mais um aluno seu na Corte. O outro é Dias Toffoli.

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JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL -10/10/2016 Cargo. Carlos Ayres Britto foi presidente do Supremo Tribunal Federal

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