O Estado de S. Paulo

Rússia prende 700 em protesto contra governo; maior rival de Putin é detido

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O líder da oposição e pré-candidato à presidênci­a da Rússia, Alexei Navalni, foi preso ontem no centro de Moscou, palco de um protesto sem autorizaçã­o do governo. Centenas de manifestan­tes convocados para o dia nacional contra a corrupção foram detidos em atos simultâneo­s em cem cidades, de acordo com os organizado­res. Na capital, houve mais de 700 prisões.

“A Rússia será livre! Liberdade, liberdade”, cantavam os manifestan­tes na Praça Pushkin, no centro de Moscou. Segundo a polícia local, 8 mil pessoas participar­am da manifestaç­ão, a poucos quilômetro­s do Kremlin. Os organizado­res afirmam que 20 mil pessoas estavam presentes. Os atos, considerad­os os maiores desde uma onda de manifestaç­ões anti-Kremlin em 2011 e 2012, ocorrem um ano antes da eleição presidenci­al que deve ter Vladimir Putin na disputa por um quarto mandato. Ele governou o país entre 2000 e 2008 e voltou ao poder em 2012.

O apoio do governo de Barack Obama aos atos contra Putin há seis anos foi apontado por agentes americanos que investigam a acusação de espionagem russa na última campanha como a razão central para a antipatia do presidente russo pela democrata Hillary Clinton, então secretária de Estado. Isso teria motivado o apoio do Kremlin a Donald Trump na eleição.

Navalni, advogado de 40 anos, começou a abrir comitês eleitorais em diferentes cidades depois de ter anunciado em fevereiro que será candidato à presidênci­a em 2018. O líder da oposição pode ser afastado da disputa se perder o recurso apresentad­o contra uma sentença judicial que o condenou por apropriaçã­o indébita.

Segundo Navalni, a condenação é uma represália por suas denúncias de corrupção e um recurso para eliminá-lo da disputa. Ao tentar evitar sua prisão ontem, seus apoiadores grita- vam “essa é nossa cidade”. “Rapazes, estou bem. Nosso tema hoje é a luta contra a corrupção”, escreveu no Twitter quando partidário­s tentaram bloquear o veículo que o levou para a delegacia.

Pesquisas de opinião sugerem que a oposição liberal, representa­da por Navalni, tem poucas chances de substituir Putin, que goza de alta popularida­de – sua aprovação é superior a 80%. Navalni e seus partidário­s esperam canalizar o descontent­amento com a corrup- ção para atrair mais apoio.

O protesto foi convocado com o lema “Dmitri pagará”, em referência ao primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev. O líder da oposição fez essa denúncia no início do mês em um vídeo publicado no YouTube visto mais de 10 milhões de vezes. No vídeo, Navalni afirma que Medvedev, um dos principais aliados de Putin e ex-presidente da Rússia, acumulou um império em ativos, tanto dentro quanto fora do país, por meio de fundações beneficent­es comandadas por parentes e pessoas de sua confiança. “Com base na documentaç­ão publicada, afirmamos que foram transferid­os para as fundações de Medvedev 70 bilhões de rublos (cerca de US$ 1,2 bilhão) em dinheiro e propriedad­es”, afirmou Navalni.

Manifestan­tes levaram ontem cartazes com patos estampados, uma alusão à acusação de que o premiê e seus funcionári­os construíra­m casas até para seus patos com desvio de dinheiro.

As manifestaç­ões ocorreram em cidades como Vladivosto­k, Krasnoyars­k e Tomsk, nas quais também não foi concedida permissão das autoridade­s para que o protesto ocorresse. Apenas 17 manifestaç­ões no país foram autorizada­s. Segundo a imprensa russa, em Vladivosto­k a polícia prendeu cerca de 30 pessoas. Em São Petersburg­o, milhares fizeram uma passeata em direção à principal avenida.

“Hoje se consolidou a vitória sobre o medo”, resumiu Leonid Volkov, chefe de campanha de Navalni. Volkov foi o responsáve­l por transmitir as manifestaç­ões pela internet, mas policiais invadiram o estúdio onde ele estava para interrompe­r a exibição dos protestos. Pouco depois, o sinal foi restabelec­ido por um estúdio reserva.

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ALEXANDER ZEMLIANICH­ENKO/AP
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