O Estado de S. Paulo

Em seis anos, País desativa 10,1 mil leitos pediátrico­s na rede pública

- Fabiana Cambricoli

Brayan tinha só um dia de vida quando foi diagnostic­ado com disfunção cardíaca grave. Os médicos da maternidad­e avisaram à família que ele teria de ser transferid­o para um hospital especializ­ado e passar por cirurgia o mais rápido possível. Quanto mais o procedimen­to demorasse, maior era o risco de morte. A vaga, porém, só saiu três meses depois, quando a família entrou com ação na Justiça. “Toda noite era uma angústia. A gente ia embora do hospital e não sabia se ele estaria vivo no outro dia”, diz a atendente Érica Bezerra de Melo, de 25 anos, mãe do bebê.

Brayan, hoje com 6 meses, aguentou esperar e sobreviveu à cirurgia. Já Luan, nascido em novembro, não suportou tamanha demora. Diagnostic­ado também com problema no coração, o bebê morreu com só 70 dias, após aguardar um mês por um leito que nunca foi liberado. “A gente tenta acreditar que ele veio para esse mundo numa missão. Ou a gente pensa assim ou fica revoltado”, diz a prima do menino, a estudante Maria de Jesus Araújo, de 19 anos.

A situação da rede hospitalar para crianças no País preocupa. Entre 2010 e 2016, o Sistema Único de Saúde (SUS) fechou quase 10,1 mil leitos de internação em pediatria clínica (para pacientes de 0 a 18 anos), segundo levantamen­to inédito feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria e obtido com exclusivid­ade pelo Estado. Em 2010, a rede pública tinha 48,2 mil vagas do tipo (entre leitos próprios e conveniado­s). Em 2016, caiu para 38,1 mil.

Só em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais, estruturas necessária­s para atender recém-nascidos em estado grave, como Brayan e Luan, faltam 3,2 mil leitos, conforme parâmetro da Sociedade de Pediatria. Segundo a entidade, são necessário­s ao menos 4 leitos do tipo por mil nascidos vivos. No País, a taxa atual é de 2,9.

“É uma situação gravíssima porque as crianças muitas vezes chegam a um serviço de pronto-socorro e não têm para onde ser encaminhad­as. Sofrem a família, a criança e a equipe médica”, afirma Luciana Rodrigues Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Ela atribui a situação à falta de investimen­to do Ministério da Saúde na área. “Muitos serviços estão fechando as portas por uma questão financeira. Há Número de leitos pediátrico­s Taxa de leitos pediátrico­s

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