Com superlotação, hospital de Goiás tem duas mortes
Consequência do déficit de leitos pediátricos na rede pública de Goiás, a superlotação de uma unidade de tratamento semi-intensivo neonatal do Hospital Materno Infantil, referência em Goiânia, pode ter sido responsável pela morte de dois bebês por infecção hospitalar neste mês.
“Estamos investigando a raiz desse surto de KPC (superbactéria), mas, sem dúvida, a superlo-
ainda casos de unidades desativadas porque não têm profissionais suficientes no quadro.”
Dificuldade. Nascido no interior do Tocantins, Luan foi um dos cinco bebês que morreram nos últimos meses no Estado à espera de transferência. No caso dessas crianças, a dificuldade era ainda maior do que a oferta do leito. Não há, em todo o tação da Ucin (Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal) contribuiu para essa situação. Temos uma capacidade instalada de 22 leitos na unidade e, no período em que ocorreu o surto, estávamos com 36 bebês internados”, afirma Rita Leal, diretora regional do Instituto de Gestão e Humanização (IGH), organização social que administra o Hospital Materno Infantil.
Ela explica que, embora a superlotação aumente o risco para os pacientes, o hospital não pode negar atendimento aos bebês e gestantes que procuram a unidade. “Somos um hospital porta
Tocantins, serviço que faça cirurgia cardíaca infantil. O governo estadual depende da liberação de vagas em Goiás, que também enfrenta déficit de leitos.
“Como não há o serviço organizado aqui, sempre que surge paciente com essa necessidade, o Estado fica no escuro, tentando resolver de última hora e achar a vaga em outros locais”, explica Maria Roseli de Almei- aberta. Temos de atender a quem procura. No entanto, é claro que quando você tem uma superlotação, há problemas. A distância adequada entre os leitos não é respeitada e o número de profissionais é insuficiente para todos os pacientes”, afirma Rita.
Rita ressalta que, assim que o surto foi identificado, todas as providências foram tomadas para isolar os pacientes com suspeita de infecção e evitar novas contaminações. “Colocamos uma equipe exclusiva pra cuidar desses bebês,”, afirma. Procurada, a Secretaria de Saúde de Goiás não se manifestou. /
da Pery, promotora do Ministério Público Estadual (MPE) do Tocantins. Após as mortes dos bebês, ela entrou com ação civil pública para tentar obrigar a Secretaria Estadual da Saúde a criar uma unidade de saúde que absorva a demanda.
Maria de Jesus até chegou a procurar o MPE na tentativa de conseguir a transferência de Luan. “Entraram com ação, mas aí tem muita burocracia na Justiça, teve o feriado de carnaval no meio e as coisas não andavam. No dia 1º de março, na Quarta-Feira de Cinzas, ele não aguentou mais”, afirma.
O quadro dramático não se limita a regiões com estrutura mais precária. São Paulo, Estado mais rico do País, é também o que mais perdeu leitos pediátricos no período. No Estado, a Defensoria Pública acumula casos de crianças da capital que só conseguiram vaga por decisão judicial ou cuja sentença favorável chegou tarde.
“A fila é a coisa mais cruel que existe porque quem cuida da regulação dos leitos acaba tendo que brincar de ser Deus, organizando por gravidade os que vão conseguir”, afirma Flávio Américo Frasseto, defensor público da Infância e Juventude.
Embora tenha tido alta, Brayan vai precisar de cirurgias cardíacas no futuro. Para a família, fica o receio de enfrentar tudo de novo. “Não gosto nem de pensar para não sofrer por antecipação. Nossa maior preocupação é ele não conseguir leito quando precisar”, afirma a mãe.