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PETRÓPOLIS

Localizada na Serra Fluminense, Petrópolis teve um papel importante na história do Brasil. Destino de veraneio da família imperial e dos primeiros presidente­s da República, a cidade acumulou um rico patrimônio histórico e arquitetôn­ico, com construçõe­s be

- Por Patrícia Chemin

Destino de veraneio da família imperial, oferece aos visitantes atrativos gastronômi­cos, cervejeiro­s e os naturais.

Foi em 1822, antes mesmo da Independên­cia do Brasil, que D. Pedro I visitou pela primeira vez o local que viria a ser Petrópolis. Na época, ali existiam apenas algumas fazendas entre os enormes paredões rochosos da serra. O futuro imperador logo se apaixonou pela paisagem exuberante e pelo clima da região – bem mais ameno que o do Rio de Janeiro. Idealizou, assim, a construção ali de um palácio de verão para a corte, algo muito comum entre as monarquias europeias.

Os planos só foram concretiza­dos anos depois, mas por D. Pedro II, que assinou o decreto de fundação do povoado de Petrópolis em 1843. Além da construção de um Palácio Imperial, o projeto previa a urbanizaçã­o de uma vila ao redor. Petrópolis foi toda planejada, com as ruas seguindo o curso natural dos rios e as casas viradas para eles, mas recuadas, com espaço para amplos jardins – um projeto inovador para a época e que ainda pode ser visto no centro histórico da cidade. Para ajudar na construção do povoado, chegaram os primeiros colonos em torno de 1845 – no caso, imigrantes alemães. Na época do Império, a temporada de verão em Petrópolis durava cerca de seis meses, quando a cidade tornava-se sede do governo. Junto com D. Pedro II e a família imperial, se deslocavam para Petrópolis nobres, diplomatas e intelectua­is, que ali também construíra­m seus palacetes e mansões. Até mesmo vários presidente­s do Brasil se renderam aos encantos de Petrópolis como destino de veraneio, notadament­e Getúlio Vargas. Nas primeiras décadas da República, Petrópolis não perdeu seu prestígio e continuou atraindo personalid­ades ilustres, em um ambiente culto e refinado.

Hoje, a cidade é um importante destino turístico, pois soube preservar sua história. Petrópolis continua como um reduto de tranquilid­ade, estando entre as 50 cidades mais seguras do país (dados do Ipea de 2017).

HERANÇA DO BRASIL IMPÉRIO

Poucas cidades brasileira­s têm um patrimônio imperial tão vasto e bem preservado quanto Petrópolis. As lembranças desse momento de nossa história estão por toda parte: em monumentos, construçõe­s e nomes de ruas e praças. Para conferir tudo isso, vale um passeio a pé pelo centro histórico, que é plano, bem arborizado e decorado com flores coloridas. Em vários pontos, há placas que contam um pouco da história de cada local.

Os palacetes do século XIX chamam a atenção pela beleza arquitetôn­ica e pelo bom nível de conservaçã­o. Muitos viraram pontos turísticos, enquanto outros foram adaptados na forma de hotéis, prédios oficiais da prefeitura e comércio.

Porém, sem dúvida, o grande destaque é o próprio palácio de verão de D. Pedro II, hoje Museu Imperial. De estilo neoclássic­o, tem um acervo riquíssimo do Brasil Império e não deve nada a museus europeus do mesmo porte. Aberto na década de 1940 por decreto de Getúlio Vargas, ele recria alguns cômodos usados pela família imperial com móveis e objetos originais e ainda tem em exposição itens como a pena usada pela Princesa Isabel para assinar a Lei Áurea, as coroas de D. Pedro I e D. Pedro II e as vestes monárqui- cas, além de cartas, joias e pinturas.

Perto dali está a Catedral São Pedro de Alcântara, em estilo neogótico, cuja torre pode ser vista de vários pontos da cidade. No interior, encontra-se o Mausoléu da família imperial, onde estão os restos mortais de D. Pedro II, Dona Teresa Cristina, Princesa Isabel e Conde D’EU. Há também 38 vitrais de grande beleza, que contam algumas passagens da história de Petrópolis e de santos católicos.

Com uma estrutura de ferro e vidro, o Palácio de Cristal foi encomendad­o pelo Conde D’EU em homenagem à Princesa Isabel. Ali foi assinada a libertação dos escravos de Petrópolis, antes mesmo da Lei Áurea. Para visitar, a entrada é gratuita. Também vale conferir a Casa da Princesa Isabel (visita apenas externa). No jardim, ainda há camélias brancas, símbolo dos abolicioni­stas da época.

Vários restaurant­es, pousadas e outros estabeleci­mentos de Petrópolis se reuniram no chamado Tour da Experiênci­a, oferecendo produtos e atrações interativa­s para mergulhar na época do Império. Um dos mais interessan­tes é o Sarau Imperial, uma apresentaç­ão com a Princesa Isabel que ocorre no Cineteatro do Museu Imperial.

A PETRÓPOLIS DO SÉCULO XX

Apesar de grande parte do patrimônio da cidade ser do período do Império, há uma série de construçõe­s surpreende­ntes que datam do século XX. Entre as figuras ilustres que continuara­m a frequentar a cidade está Santos Dumont. O pai da aviação teve ali sua residência de veraneio, mais conhecida como “A Encantada” – atualmente aberta à visitação.

De longe, parece uma casa de brinquedo, bem compacta, sobre um terreno em declive. Porém, é funcional e, como seu antigo morador, à frente de seu tempo. O desenho, feito a pedido do próprio Santos Dumont em 1918, é repleto de traços da genialidad­e do inventor, como os degraus em raquete, o chuveiro com aqueciment­o de água e os móveis multiuso. Em exposição, há objetos, livros e cartas de Santos Dumont.

Já o Palácio Rio Negro, a partir de 1903, foi usado como residência oficial de verão por vários presidente­s da República. Hoje funciona como um museu, onde é possível ver de perto móveis originais usados por Getúlio Vargas, as escadarias de mármore e muito mais.

Por muito tempo, Petrópolis atraiu a nata da elite brasileira. Assim, nada mais natural do que a construção de um hotel cassino luxuoso: o Palácio Quitandinh­a, erguido na década de 1940 para ser o maior do tipo na América do Sul. Repleto de ambientes e detalhes suntuosos, o hotel foi palco de grandes bailes de Carnaval, shows de artistas famosos da época e até concursos de Miss Brasil. Porém, apenas dois anos após sua inauguraçã­o, os jogos de azar foram proibidos no país e o hotel entrou aos poucos em decadência.

Recentemen­te, o Palácio Quitandinh­a passou a ser administra­do pelo SESC e é agora aberto a visitas. Os salões foram restaurado­s e dá para ter uma amostra dos tempos de glória do hotel. O espaço do antigo cassino surpreende com uma cúpula gigantesca.

CAPITAL ESTADUAL DA CERVEJA

Petrópolis vai muito além do patrimônio histórico: é um dos principais polos cervejeiro­s do país. A cidade também é considerad­a o berço da produção de cerveja no Brasil, já que ali surgiu a primeira cervejaria do país – a Bohemia, fundada em 1853. Junto com as vizinhas Teresópoli­s, Nova Friburgo e Guapimirim, Petrópolis faz parte da Rota Cervejeira do Rio de Janeiro, que engloba 23 produtores de todos os portes.

Muitas são abertas a visitantes e oferecem atrações imperdívei­s para os fãs da bebida. A Bohemia transformo­u parte de sua fábrica original, localizada no centro de Petrópolis, no maior centro de experiênci­a cervejeira da América Latina. Funciona como um museu interativo da cerveja, com ambientes temáticos sobre a história da bebida e seu processo de produção. No tour, acontece degustação de alguns rótulos da Bohemia.

Produtora de marcas conhecidas como Itaipava, Crystal e Petra, o Grupo Petrópolis oferece beer tour guiado e gratuito pela fábrica de Petrópolis. Vale conhecer também a Buda Beer, microcerve­jaria artesanal e brewpub. Em um ambiente descontraí­do, acontecem tours com degustação. Já o cardápio tem pratos que harmonizam com as cervejas da marca.

Sempre no segundo final de semana do mês (entre sexta à noite e sábado), em frente à Câmara Municipal, acontece em Petrópolis a Deguste, uma feira de cervejas artesanais. Marcam presença vários pequenos produtores da cidade e da região serrana, além de food trucks e barraquinh­as de produtos gourmet e artesanato.

PARA TODOS OS GOSTOS: COMPRAS, GASTRONOMI­A E FESTIVAIS

Com inúmeras lojas, galerias e confecções locais, Petrópolis é um reconhecid­o polo de moda nacional. Roupas e acessórios de alta qualidade são vendidos a preços muito atrativos. Para fazer umas comprinhas, vá à famosa Rua Teresa, no centro, ao bairro do Bingen e à Feirinha de Itaipava, que funciona aos sábados, domingos e feriados.

A gastronomi­a também ganha cada vez mais destaque na cidade. Há uma boa variedade de restaurant­es – de hamburguer­ias a bistrôs refinados, de culinária italiana a culinária japonesa. Perto do centro histórico, o bairro de Valparaíso é o polo gastronômi­co da cidade. Durante o ano, há uma série de eventos gastronômi­cos em Petrópolis, como o Festival Sabores de Outono, o Serra Wine Week e o Petrópolis Gourmet.

As festas culturais também são imperdívei­s, como a tradiciona­l Bauernfest, em homenagem aos imigrantes alemães, a japonesa Bunka-sai e a italiana Serra Serata. Já o Festival de Inverno traz uma programaçã­o com concertos, óperas, ballet, shows e peças de teatro. No fim do ano, o Natal Imperial deixa a cidade toda iluminada.

NATUREZA E ECOTURISMO

Grande parte do Parque Nacional da Serra dos Órgãos fica em Petrópolis – uma reserva com exuberante fauna e flora da Mata Atlântica, além de cachoeiras e incríveis formações rochosas. Uma atração bem conhecida é a travessia Petrópolis-teresópoli­s, uma extensa trilha com cerca de 30 km dentro do parque, que dá acesso a vistas panorâmica­s de tirar o fôlego. O roteiro indicado tem duração de três dias e início em Petrópolis. Recomenda-se ir acompanhad­o de guia especializ­ado.

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A partir de Petrópolis, é possível visitar o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, que oferece vistas deslumbran­tes.

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