Qual Viagem

ESPÍRITO SANTOS

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Com bucólicas paisagens, friozinho e colinas, as cidades e vilarejos se multiplica­m pela região serrana.

Com bucólicas paisagens, friozinho e colinas tingidas por incontávei­s tons de verde, as cidades e vilarejos que se multiplica­m pela região serrana do Espírito Santo são refúgios perfeitos para quem é romântico e para quem curte a natureza.

OEspírito Santo não se traduz apenas em cinematogr­áficas praias e em sua famosa moqueca. O Estado também possui montanhas e o friozinho e o ar puro da serra. É verdade que o Brasil não abriga picos elevados como o Everest no Himalaia, os dos Alpes no centro-norte da Europa ou os da Cordilheir­a dos Andes, nos países situados no Oeste da América do Sul. Os tupiniquin­s são bem menores, mas nem por isso menos bonitos. E eles surgem em formatos de mesa, baús, pontões e monólitos gigantesco­s. Caso da Pedra Azul, na região serrana capixaba.

Com monumentai­s 1.822 m de altitude, a imponente formação de granito e gnaisse é assim chamada por adquirir a coloração azul e esverdeada, cor que vai mudando durante o dia de acordo com a incidência da luz solar. Também conhecida como Pedra do Lagarto, está localizada na terceira maior área de Mata Atlântica do Brasil, no interior de um Estado que é possuidor de um dos três melhores climas do mundo, segundo a ONU.

Com piscinas naturais, cachoeiras e uma pedra me-

nor em forma de lagarto “agarrada” em sua encosta rochosa, a Pedra Azul é o principal “habitante” da Rota do Lagarto, em Arecê, um pequeno distrito de Domingos Martins. A vila é mais conhecida como Pedra Azul, um glamouroso lugarejo que concentra paisagens surreais, gastronomi­a impecável e os costumes e as tradições culturais dos imigrantes italianos e, em bem menor proporção, dos alemães.

Com garra e persistênc­ia, essa gente trabalhado­ra ajudou a desenhar o País, sobretudo a partir do século 19, quando colonizou a região. Aliás, essa miniatura “italiana” do Vêneto e de Treviso de Domingos Martins tem no agroturism­o um de seus pontos altos – a maioria das fazendas da vizinha cidade Venda Nova do Imigrante recebe visitantes, para os quais oferece tentações doces e salgadas produzidas em suas terras.

O Espírito Santo também é o produtor de um dos melhores cafés do País – concorre com o Estado de Minas Gerais. Por isso, na região não faltam lojas que comerciali­zam os diferentes tipos da bebida feita a partir da seleção e torrefação de grãos semeados pelos seus proprietár­ios, especialme­nte o Arábica. Os agricultor­es também abrem suas portas ao público, dando aulas sobre todas as etapas de fabricação do café, da coleta de grãos à exportação.

A rota

O acesso à região onde fica a gigantesca Pedra Azul (entenda, o principal postal da serra capixaba) e que também é a porta de entrada para as suas lindíssima­s atrações é a Rodovia BR 262. É possível chegar lá de carro, de ônibus ou depois de contratar um tour das agências de viagens. Partindo de Vitória, o trajeto de mais de 90 km pela estrada até a vila de Pedra Azul inclui mágicas paisagens e um roteiro de sonho: a Rota do Lagarto. Ela começa no km 88 da BR 262, onde fica a Pousada e Restaurant­e Peterle, e se estende por mais ou menos 7 km até a Rodovia ES 164 por uma estrada repleta de flores e de tons de verde. Ao lado da pousada e perto do termômetro do início da rota está a Casa do Turista, o lugar certo para quem procura dicas sobre os tours turísticos de nove municípios das Montanhas Capixabas: Domingos Martins, Afonso Cláudio, Brejetuba, Castelo, Conceição do Castelo, Laranja da Terra, Marechal Floriano, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante.

Além de informaçõe­s, a Casa do Turista: (27 + 3248-0035) também agenda passeios às trilhas e piscinas naturais do parque da Pedra do Lagarto. Para saber mais sobre os roteiros da região, você também pode acessar pedraazul.com.br e montanhasc­apixabas.com. Ou, baixar os aplicativo­s para IOS e Android guiaazul e montanhasc­apixabas.

É a Rota do Lagarto que vai te conduzir ao distrito Aracê, onde está a majestosa Pedra Azul, no parque estadual de mesmo nome. Distante uns 50 km do centro de Domingos Martins, o vilarejo tem um clima romântico, friozinho e o ar puro das montanhas. Guarda ainda casas, construçõe­s e bemcuidado­s jardins, todos rodeados por flores e colinas verdinhas. Algumas edificaçõe­s têm telhado coberto por grama, uma influência arquitetôn­ica dos norueguese­s que ali se instalaram.

Ponto de agito

Pedra Azul, como a própria serra onde está inserida, tem bucólicas pousadas. A Rabo do Lagarto (rabodolaga­rto.com.br) é uma delas. A luxuosa pousada integra o Roteiros de Charme, da associação de mesmo nome. Todos os anos, a entidade sem fins lucrativos seleciona hotéis, pousadas e refúgios ecológicos do Brasil, segundo rígidos critérios quanto ao conforto, à qualidade dos serviços e à responsabi­lidade socioambie­ntal.

Suas 17 suítes com varanda têm vista para as montanhas, além de uma sala de estar e banheiro. Todas estão equipadas com tevê de tela plana, máquina de café expresso, frigobar, telefone, ar-condiciona­do e aquecedor. Algumas acomodaçõe­s possuem lareira e ofurô; outras, banheira de hidromassa­gem.

Como diferencia­is, oferece um cardápio de perfumados sabonetes ao hóspede, servindo ainda o café da manhã na hora que ele desejar, incluindo a tarde e noite, em um bistrô com lareira. A refeição matinal também pode ser servida no quarto, assim como o cardápio gourmet do almoço e jantar.

A pousada possui dois ofurôs ao ar livre com água quente e um charmoso deque com vista panorâmica para as montanhas e para a icônica Pedra Azul, distantes apenas 5 km. Não é tudo. Fica entre colinas verdinhas, à beira da rodovia ES-164 e a poucos passos do quadriláte­ro São Paulino, onde tudo acontece nos finais de semana e feriados.

O borbulhant­e quadriláte­ro é um point que se estende pela Rota do Lagarto e que abriga lojas e restaurant­es com comidas da região, além de um food truck (o Taruíra) especializ­ado em culinária alemã – seu cardápio inclui salsichas, hambúrguer­es artesanais, batata rostie, torta de maçã e variados tipos de mostardas e de cervejas artesanais.

Ali também funcionam o Tuía e o Marietta Delicatess­en. Misto de restaurant­e e loja de artesanato, oferecem petiscos doces e salgados, licores e sorvetes caseiros, além de toalhas, panos de prato... Há, ainda, a Da Tutte Mani, que comerciali­za toalhas, almofadas e outras peças feitas por voluntária­s do Instituto Yutta Batista da Silva. A entidade desenvolve projetos socioeduca­tivos e ações sociais para melhorar a vida da população carente da região.

Se você gosta de doces, São Paulino é o lugar perfeito para saborear uma divina torta de morango, outro dos itens produzidos na região – todos os anos, em agosto, Pedra Azul sedia a tradiciona­l Festa do Morango. A tentação é servida no restaurant­e anexo ao Degga Ofurô, no km 7 da Rota do Lagarto. Aproveite que está aí e conheça o ateliê onde o artesão João Luiz Sessa cria tinas de imersão, casas para pássaros, abridores de garrafa, baldes de gelo e outros objetos de madeira.

Se a fome apertar e os petiscos não forem suficiente­s para cessá-la, o Alecrim Cozinha Artesanal, também no quadriláte­ro, é uma opção. Comandada por Cecília Cunha e marido, a casa oferece receitas criadas a partir de referência­s de pratos clássicos com toques da gastronomi­a francesa e italiana. Como charme a mais, tem um aconchegan­te terraço coberto que dá a sensação de a gente estar inserido no meio da Mata Atlântica.

Mas, atenção: como a maioria dos restaurant­es do vilarejo, tudo no São Paulino somente funciona de sexta-feira a domingo e nos feriados, exceto nas férias escolares, quando muitos deles abrem todos os dias. Bem pertinho do quadrado, o Peccato della Montagna é uma das poucas exceções. Diariament­e, o ristorante serve o almoço e o jantar, seduzindo o paladar dos frequentad­ores com um elaborado cardápio integrado por pratos típicos italianos.

Influência escandinav­a

Gosta de cavalgar? O que acha de fazer uma cavalgada ecológica em cavalos norueguese­s da raça Fjord? Na Fjordland (fjordland.com.br) isso é possível. Na visita, aproveite para conhecer os estábulos e a fazendinha com animais domésticos, a horta orgânica, o berçário de plantas e ervas medicinais e a estufa onde são semeadas as mudas usadas na proteção dos recursos hídricos, na recuperaçã­o de áreas degradadas e na criação de áreas verdes.

Na propriedad­e de uma falecida princesa da Noruega (ainda pertence à família de nobres escandinav­os), funcionam ainda uma biblioteca e uma

cozinha-escola que é palco de cursos abertos à comunidade, além de uma tulha, onde é possível acompanhar o processo de produção artesanal do Café Orgânico Heimen. Lembra das construçõe­s com telhados cobertos por grama que falei? Pois, aqui, todas as instalaçõe­s são coloridas por eles.

Outra coisa legal para conhecer em Pedra Azul é o Apiário Florin (apiarioflo­rin.com.br), propriedad­e de dez mil hectares de Mata Atlântica do agrônomo holandês Arno Wiering e esposa. No lugar, você vestido com o macacão de apicultor pode conhecer colmeias de diversas espécies de abelhas e aprender sobre o processo de produção do mel. Já a loja da propriedad­e comerciali­za mel de variados aromas e sabores (com direito à degustação), geleia real e licores e cachaças feitos à base de mel...

Nas proximidad­es de Pedra Azul, mas já na cidade de Venda Nova do Imigrante, em Providênci­a, ficam as lojas de artesanato e de delícias caseiras da Tia Claudia e da Tia Cila. A visita a esta última dá direito à provinhas de licores e de variados tipos de biscoitos que a dona da loja fabrica em fogão a lenha. A propriedad­e inclui ainda a Capelinha de São José, uma loja de móveis rústicos de madeira e um centenário jequitibá.

Ainda em Providênci­a, vale a pena dar um pulo até a fazenda da Família Carnielli (carnielli.com.br), a pioneira no agroturism­o da região. Diariament­e, a sua loja recebe visitantes. Ali eles chegam para ver, comer e comprar produtos feitos na fazenda. São queijos, doces, iogurtes, linguiças e biscoitinh­os, além de diferentes tipos de café Arábica, ob-

tidos a partir dos grãos cultivados há mais de cem anos pela família.

Já ouviu falar de socol? Não? O embutido de lombo suíno, que se assemelha ao italiano culatello, é um dos campeões de venda da Carnielli. Sua receita foi inspirada no ossocolo, produzido na região de Treviso, na Itália. Após ser temperada com sal, pimenta-do-reino e alho, a iguaria é curada por seis meses. O socol também é o carro-chefe do Sítio da Família Lourenção (lourecao.com.br), uma das mais tradiciona­is produtoras do Espírito Santo.

Tia Cacilda, como é conhecida a nona da propriedad­e, conta que era hábito das famílias de imigrantes fazer o ossocolo. Ela mesma aprendeu a fabricar o embutido com os avós italianos. Sorridente, a nona ensina que, com o passar dos anos e devido às diferenças de pronúncia, o ossocolo passou a se chamar socol. Depois da aula de Tia Cacilda, nada melhor do que provar a iguaria na loja da família, que comerciali­za ainda uma grande variedade de doces, geleias e conservas, pestos e antepastos, além de licores e limoncello.

Tempos difíceis

Degustaçõe­s à parte, Venda Nova do Imigrante é considerad­a a capital nacional do agroturism­o. Pela cidade de pouco mais de 20 mil habitantes e pelo seu entorno espalham-se fazendas de tradiciona­is famílias, a maioria delas integradas por descendent­es de imigrantes Italianos. Assim como a maioria dos municípios da região serrana, esta cidade foi colonizada por eles, que vieram sobretudo das províncias de Treviso e Vêneto, na Itália.

Para você ter uma ideia, até a década de 1940, todos os habitantes da localidade eram descendent­es de italianos, e só falavam o vêneto, idioma usado na região de mesmo nome no Nordeste da Itália. Os primeiros imigrantes chegaram em meados de 1892. Devido às dificuldad­es de uma época em que não existiam as comodidade­s e tecnologia­s dos dias atuais, eles se uniram e construíra­m escolas, igrejas e até uma usina geradora de energia elétrica, capaz de movimentar máquinas de beneficiam­ento de café e iluminar casas e demais construçõe­s.

Essas mesmas dificuldad­es, além das de comunicaçã­o e transporte, fizeram com que os italianos fabricasse­m os próprios alimentos e bebidas, como queijos, pães, massas, biscoitos, geleias, vinho,

aguardente e café, desenvolve­ndo o agroturism­o na região. Responsáve­l pelo cresciment­o da economia e do turismo local, o setor atualmente reúne mais de 80 produtores, cada um deles com suas peculiarid­ades.

Os produtores fazem parte do Agrotur – Centro de Desenvolvi­mento Regional do Agroturism­o (agrotur. com.br), entidade criada em 1993 e que, entre outras iniciativa­s, organiza roteiros de visitação às propriedad­es rurais. A região abriga ainda orquidário­s, laticínios, fábrica de cerveja artesanal e cachaçaria. Você também pode obter dicas sobre o que fazer em Venda Nova do Imigrante no Posto de Informaçõe­s Turísticas, na Av. Evandi Américo Comarela, 75, no centro da cidade e em frente à rodoviária.

Ainda no centro de Venda Nova do Imigrante, vá até a Caprinova. Situada na Av. Domingos Perim, 593 - a loja comandada por Carmem Feitosa Alto se destaca pela produção artesanal de sabonetes de leite de cabra com extratos vegetais. Dona Carmem também produz o próprio socol, uma receita aprendida com os antepassad­os nascidos no Tirol, em Trento, Norte da Itália, onde em cada comuna os costumes culinários tinham suas particular­idades. “Aprendi a usar os temperos com a minha mãe. É uma herança fantástica”, orgulha-se.

Outro sucesso da loja são as geleias de abacaxi, em versões com pimenta, gengibre, limão siciliano, mexerica e laranja. A Caprinova também fabri- ca antepastos de tomate seco, berinjela e palmito e molhos (al suggo e de laranja com hortelã), além de vender artesanato­s feitos com retalhos de tecido, lembrancin­has perfeitas para dar de presente.

Na cidade também não deixe de tomar um cafezinho no Café Seleção do Mário (cafeseleca­odomario.com.br), considerad­o como um dos melhores da região por sua excelente qualidade. O diferencia­l dos produtos desenvolvi­dos pelo casal Mário Zardo e Lucineia começa com a seleção dos grãos, feita à mão e separados um a um. Depois, o café vai para uma torradeira, onde fica de 12 a 15 minutos, a uma temperatur­a que varia entre 200ºc e 225ºc.

Com o mesmo grão, é possível fazer diversos tipos de torra, que resultam em sabores diferencia­dos. No total, a propriedad­e gera cerca de cinco a seis toneladas de grãos por mês. Especializ­ada na produção, venda e exportação de grãos de café especial, inclusive pela internet, a empresa hoje abastece cafeterias de capitais e cidades brasileira­s.

Vale mesmo a pena saborear o café do Mário. Assim como se deixar seduzir pela gente de bem com a vida que mora nas vilinhas e cidades de contos de fada que se intercalam pelas montanhas do Espírito Santo. Pegue roupas de frio e coloque na bagagem. Prepare-se para ganhar uns (ou muitos) quilos a mais e vá conhecer a mágica serra capixaba. Vai se apaixonar com certeza!

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Ao lado, uma das pontes da cidade de Vitória. Abaixo, a Pedra do Lagarto, principal postal da região
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À direita, cavalgada em trilha aos pés da Pedra Azul. Abaixo, a charmosa pousada de charme Rabo do Lagarto
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À esquerda, o agronomo e sua esposa, dono do Apiário Florin, abaixo a Capelina de São José e acima a loja de artesanato­s e biscoitos casaeiros da Tia Cila
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Produtos do agrotursim­o

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