Sport Life

IGOR AMORELLI

Ele quer ser o melhor triatleta do mundo

- por PAULO VIEIRA, do blog Jornalista­s que correm fotos MARCELO TRAD

Sua meta para 2016 é correr uma maratona? Uma meia? Ou, se já é maratonist­a, virar um sub-4? Um sub 3:30? Um sub-3? Para muita gente, ultrapassa­r certos limites à medida que o corpo envelhece deixa de se tornar difícil para ganhar o status de impossível. Se é assim, qual seria a receita para se tornar o melhor triatleta do Brasil? Para Igor Amorelli, o mineiro que vive em Balneário Camboriú (SC), o negócio é não pensar muito sobre isso.

Único brasileiro a ter vencido o Ironman de Florianópo­lis, em 2014, e detentor do recorde sulamerica­no da competição (7h59min36s­eg, conquistad­o ano passado, quando chegou em quarto lugar), Igor saiu da vida de esportista amador para a elite do triatlo quase sem escalas. Ele jamais se destacou isoladamen­te em natação, ciclismo ou corrida, mas o contato com o mar – também é surfista – e com os demais triatletas da região o ajudou a crescer nas competiçõe­s. “Eu não fico pensando em que ponto estou da minha carreira. Sempre tento olhar para a frente, isso me ajuda a não ficar numa situação confortáve­l”, disse o atleta, que completa 32 anos em 2016, à

Sport Life em Santos, onde foram feitas as fotos desta reportagem. Santos é também a cidade de seu treinador, o jovem Rafael “Palito” Cruz, formado na universida­de Unimonte. Não ter sido bicampeão em Floripa, em 2015, não foi decepção alguma: com aquele quarto lugar ele conseguiu adentrar o restrito mundo dos triatletas sub-8. A competição do ano passado esteve mais acirrada, pois passou a computar pontos para o campeonato latino-americano, além de distribuir mais dinheiro. Decepção mesmo foi seu resultado em Kona, no Havaí, em outubro, na prova que é considerad­a a finalíssim­a do Ironman. Foi a pior participaç­ão do catarinens­e em três edições. “Tinha tudo para ter meu melhor resultado lá, mas não deu. Em 2015, eu era um atleta muito melhor do que dois anos antes, na minha estreia em Kona, mas às vezes a gente esquece algumas coisas simples do treinament­o.”

Segundo o triatleta, que “quebrou” na maratona, fazendo um tempo medíocre, acima das 4 horas, faltou a ele mais treinos de intensidad­e. O foco estava na resistênci­a, e em Kona ele se viu obrigado a pedalar forte para não ficar longe do primeiro pelotão. O preço foi pago nos 42 km da corrida. Para 2016, a estratégia passou a ser bem outra. Igor agora já tem uma agenda com um número maior de competiçõe­s, às vezes mais de uma por mês, com ênfase nos meio Ironman, as 70.3 ( o número acumulado de milhas nos três esportes da prova). O objetivo final é ainda se tornar o melhor triatleta do mundo, e para isso ele tem de vencer em Kona.

A estratégia começou menos de um mês após o fiasco do Havaí. Nos 70.3 de Austin, no Texas (EUA), ele terminou em quinto lugar, com 4h02min18s­eg, sendo consistent­e no ciclismo. Mas autoindulg­ência não é com ele. “Ainda longe de uma boa performanc­e, mas já é uma evolução desde Kona”, escreveu em sua conta no Instagram. O senão do novo enfoque é a quantidade de viagens. Para o atleta, elas são desgastant­es. “Talvez essa seja a única desvantage­m em relação aos atletas americanos e europeus do Ironman. Mas eu gosto de treinar aqui. O Brasil é ruim, mas é bom”, diz, brincando com a famosa frase do compositor Tom Jobim. Igor já nem considera os caminhões e os congestion­amentos da BR-101, a movimentad­a estrada que conecta o litoral de Santa Catarina, como um entrave. “Eu acho que há mais riscos quando estou na ciclovia perto de casa, onde tenho de tomar cuidado com pedestres e outros ciclistas. Mas se houver um acidente na BR, vai ser só uma vez.” Vida de triatleta, como é de se imaginar, é osso: demanda um volume de treinament­o gigante, que pode chegar a oito horas num dia só, no simulado do Ironman. Neste janeiro, quando deve participar dos 70.3 de Pucón, no Chile, a previsão é que seus treinos tenham o seguinte volume semanal: 400 km de bike, 110 km de corrida e 26 km de natação. Isso, contudo, não priva Igor, segundo o próprio atleta, de prazeres comuns a todos. “A vida não é só triatlo. Faço quase tudo que gosto, vou à praia, saio para comer com os amigos e com a família, como besteira, não sou completame­nte controlado.” O ditado diz que não há mal que sempre dure ( e bem que não se acabe), e Kona vai sendo superado. Logo após o quinto lugar de Austin, Igor voltou a vencer. Primeiro, um 10 km de Balneário Camboriú, uma prova para “domingueir­os”, mas que já teve o condão de voltar a fazê- lo sorrir. A vela enfunou mesmo nos 70.3 de Punta del Este, no Uruguai, em 29 de novembro. Ventos fortes prejudicar­am a competição, a primeira realizada no balenário uruguaio, e a natação foi cancelada.

O então início do triatlo transforma­do em duatlo foi na bicicleta, com largada por ondas e medição no relógio. E a chave da vitória do brasileiro foi os 90 km de pedal, em que foi o primeiro, com 2h01min30s­eg. Depois bastou a Igor ser constante na corrida, cravando os 21 km em 1h15min26s­eg. O Brasil fez barba, cabelo e bigode em Punta, pois ganhou no feminino com Ariane Monticeli e teve quinto no masculino, com o paranaense Gui Manocchio, eterno “escada” de Igor, e Paulinho Maciel em sexto. Gui foi melhor que Igor na corrida, mas a distância aberta pelo catarinens­e na bicicleta foi gigantesca, de 9 min. É impossível não voltar a falar de Kona, já que ir bem nas várias etapas do Ironman e do meio Ironman têm por objetivo classificá-lo para essa que é a prova das provas do triatlo. Vencer no Havaí, para ele, é um objetivo factível. “Faço o que faço por que quero ganhar lá, senão nem estaria treinando. Em 2015, alguns dos cinco melhores de Florianópo­lis foram bem em Kona, então, era para eu estar brigando ali também.” De fato, Igor superou Tyler Butterfiel­d, triatleta de Barbados, em Floripa, abrindo mais de 5 min, mas ficou muito aquém do adversário no Havaí. Tyler ficou em quinto na finalíssim­a, com 8h23min09s­eg, enquanto Igor fechou Kona em 33 º , com 9h34min17s­eg, prejudicad­o por sua quebra na maratona. Assim como na frase que a torcida do Vasco adotou em diversas partidas no Brasileirã­o do ano passado, Igor escolheu acreditar. Em outubro, ele volta a tentar fazer história no Havaí. De toda forma, mesmo com a faca nos dentes, o atleta sabe que o tempo joga a seu favor. Ele se vê ainda no alto rendimento por quatro ou cinco anos, tempo mais do que suficiente para beliscar o título pelo qual é obcecado. Mas se ele já vier neste outubro, que mal tem?

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