Sport Life

POSSO CORRER GRIPADO?

Conversamo­s com alguns especialis­tas renomados para saber se você pode calçar o tênis agora ou se o melhor mesmo é vestir uma roupa confortáve­l, se esticar no sofá ou na cama e descansar

- Por THAIS SZEGÖ

Descubra se você pode correr gripado ou se é melhor ficar debaixo do cobertor

Você está naquela animação toda para os treinos, mas, para a sua tristeza, acorda com o nariz escorrendo, a garganta arranhando e a cabeça pesada. Apesar de não se sentir 100%, cava um restinho de força, pula da cama e vai treinar. Será que você fez a coisa certa? Depende do tipo de mal-estar que pegou você de jeito: se é gripe ou um resfriado. Paulo Olzon Monteiro da Silva, infectolog­ista e clínico geral da Universida­de Federal de São Paulo (SP), explica que o resfriado é uma infecção leve, que apresenta sintomas mais brandos, como coriza e dificuldad­e para respirar. “Ele dura poucos dias e não chega a atrapalhar muito o rendimento na atividade física. Já a gripe é um quadro mais sério, que desencadei­a dores no corpo e, muitas vezes, febre, podendo estender-se de 7 a 10 dias. Nesse caso, a pessoa tem, sim, que fazer repouso total.”

Assim, se você está apenas resfriado, não há por que deixar a preguiça tomar conta e ficar em casa. Um estudo da Universida­de Ball State (EUA) acompanhou dois grupos de 30 pessoas não fisicament­e ativas, todas doentes. Metade delas foi orientada a correr de 30 min a 40 min diariament­e, e metade, a não se exercitar de jeito algum. Após uma semana, os pesquisado­res observaram que o tempo de recuperaçã­o da doença foi semelhante nos dois grupos e que o grupo que se manteve correndo apresentou melhora dos sintomas ao longo dos dias. Ou seja, o exercício moderado não piorou o resfriado. O próprio Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), uma das mais respeitada­s inst ituições da área, defende que exercícios são bem-vindos, desde que tenham carga de leve a moderada, nunca intensa. “Com um resfriado, o atleta pode ser liberado para uma atividade de leve a moderada (abaixo de 80% do seu VO2 max). Ele deve pegar leve no começo do treino (cerca de 10 min) e, se não houver piora dos sintomas, pode aumentar a intensidad­e, se tolerar ”, in d i ca Gustavo Magliocca, médico do exercício e do esporte da Clínica Care Club, em São Paulo (SP). Outra boa notícia, vinda de outro estudo capitanead­o pelo ACSM, é que a corrida também serve como medida profilátic­a: quem está começando a correr fica menos doente do que antes de ter começado a treinar. A corrida estimula a produção de macrófagos, células do sistema de defesa que “engolem” organismos invasores como vírus e bactérias. Agora, quando a gripe pegar você, não tem jeito. A melhor opção é abrir mão do treino, relaxar e descansar. “Pessoas com mal- estar generaliza­do, fadiga excessiva, dores musculares, temperatur­a igual ou acima de 38 ºC e/ou frequência cardíaca 10 batimentos por minuto acima do valor basal médio devem evitar qualquer atividade atlética até que o quadro se normalize”, orienta Magliocca. David Nieman, diretor do laboratóri­o de performanc­e humana da Universida­de Estadual Appalachia­n (EUA) e também corredor (ele já disputou 58 maratonas), diz que se pode voltar aos treinos no dia seguinte ao desapareci­mento total dos sintomas. “Mas o ideal é esperar entre 1 e 2 semanas para retomar a intensidad­e e o volume que o corredor estava fazendo antes de ficar doente.”

Atenção! Nem pense em tentar burlar essa recomendaç­ão, pois o seu corpo pode pagar caro.“O organismo já está sobrecarre­gado, pois está gastando energia para combater o micro-organismo, e vai ter que trabalhar ainda mais para obter forças para se exercitar. Assim, há mais risco de exaustão por hipertermi­a, síndrome de fadiga pós-viral (fadiga crônica desencadea­da pelo micro-organismo) e até mesmo miocardite viral, uma inflamação do músculo do coração provocada pe l a infe c ç ão”, af i rma Magliocca. Isso sem falar que os vírus causadores da gripe podem acabar atacando também o trato respiratór­io inferior, que envolve os brônquios e os pulmões, entre outras estruturas. Mais: ao contrário do que muita gente pensa, suar a camisa não ajuda a combater a febre. Segundo Nieman, o exercício eleva a temperatur­a do corpo e, se você já está febril, pode se sentir ainda mais doente. “Durante a corrida, o coração bombeia uma grande quantidade de sangue dos músculos para a pele com o intuito de dissipar o calor gerado pela atividade. Com o corpo aquecido pelo exercício e um estado febril, a temperatur­a interna pode ficar elevada demais, e o músculo cardíaco, sobrecarre­gado. Em estudos com animais, esse esforço excessivo aumentou as chances de problemas muito graves e até de morte”, diz.

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