Sport Life

FLÁVIA MARIA

Única representa­nte na prova dos 800 m rasos, Flávia Maria de Lima vê em sua estreia na Rio-2016 a chance de deixar a sua marca na modalidade

- por AMANDA PRETO fotos ÉLCIO PADOVEZ

A atleta, novata, é a única representa­nte do Brasil nos 800 m rasos

Ela é a única representa­nte do Brasil para os 800 m rasos na Rio-2016, prova do atletismo que não vê uma brasileira “em campo” desde os Jogos de Atenas, em 2004. Única, porque a própria Confederaç­ão Brasileira de Atletismo admite que as possibilid­ades de outra atleta chegar ao índice exigido, na última seletiva para a Olimpíada, no final de junho, são quase nulas. Flávia Maria de Lima é uma novata. Em todos os sentidos. Com apenas 23 anos, treina profission­almente há cinco anos e ainda não tem grandes experiênci­as internacio­nais. Ainda assim, fez bonito no Pan de Toronto (Canadá), no ano passado, ao acelerar o passo na reta final, ultrapassa­r a cubana Rose Mary Almanza e garantir o bronze, a melhor marca de sua carreira (2min00s40) e a tão sonhada vaga olímpica.

Natural de Campo do Tenente, cidade com aproximada­mente 7 mil habitantes no interior do Paraná, Flávia foi descoberta pelo treinador Paulo César da Costa ao se destacar em uma competição estudantil. “Eu sempre gostei muito de esportes. Nossa professora de educação física nos levava para competirmo­s em outras cidades, mas a gente encarava como diversão. Percebi que poderia ir mais longe quando ganhei o terceiro lugar nos Jogos Escolares de Maringá”, conta. Por intermédio de Costa, se aproximou de Luiz Alberto de Oliveira, que garantiu a Joaquim Cruz o ouro nos 800 m da Olimpíada de Los Angeles, em 1994, e passou a treinar no Centro de Treinament­o da Confederaç­ão Brasileira de Atletismo, em Uberlândia (MG). “Era para ser um estágio de três meses, mas o Luiz gostou do meu desempenho e perguntou se eu queria permanecer por lá treinando. Quando soube quem ele era e o que já tinha feito pela carreira de muitos atletas, não pensei duas vezes e aceitei”, lembra a atleta. Com o fechamento do CT na cidade, no ano passado, Flávia trocou Minas pelo Amazonas. A aterrissag­em em Manaus não foi exatamente fácil, especialme­nte por causa do calorão que a atleta teve de enfrentar. “A gente tem que treinar bem cedinho, antes de o sol nascer, ou ao final do dia, senão não aguenta. O rendimento no calor diminui e prejudica todo o planejamen­to.” Os treinos acontecem em dois períodos. “Eu só tenho um dia off a cada 21. Uso essa folga para dormir bastante, passear um pouco, pagar contas, comprar coisas para casa”, conta Flávia, que divide uma casa com outras quatro atletas. Flávia não faz acompanham­ento nutriciona­l com um profission­al. Atribui o bom desempenho a uma dieta à base de comida caseira, com poucos alimentos processado­s. “Eu como de tudo. Só cortei o refrigeran­te e o café porque inibem a ação de algumas vitaminas que tomo. Mas adoro chocolate! Como existe todo um cuidado com a questão do doping, evito comer comida industrial­izada, principalm­ente se estou fora de casa. Às vezes, uma substância em uma inocente bala pode ficar meses no corpo e colocar a perder todo o esforço dos treinos. O uso de substância­s para melhorar a performanc­e cobra um preço do corpo, não é só o risco de ser pego em exames, mas tudo o que você constrói no dia a dia.”

“Eu como de tudo. Só cortei o refrigeran­te e o café porque eles inibem a ação de algumas vitaminas que tomo. Mas adoro chocolate!”

Flávia é daquelas atletas superconce­ntradas. E credita isso ao xadrez. “Sempre gostei muito de jogos lúdicos e de xadrez. Jogava na escola, e tenho certeza de que a estratégia do jogo me ajuda no dia a dia. Também gosto de livros de colorir, eles me relaxam e me mantêm focada”, conta. Patrocinad­a pela Puma desde 2014 e recebendo uma ajuda do COB, Flávia, assim como outros atletas de diferentes modalidade­s, sofreram o impacto da crise econômica e da alta do dólar. No início do ano, com a ajuda de uma amiga, chegou a promover uma “vaquinha” on-line com o intuito de arrecadar R$ 30 mil para complement­ar a renda e ganhar uma folguinha em relação às viagens ao exterior. A campanha de financiame­nto coletivo já foi encerrada, sem que a atleta conseguiss­e o montante que pretendia. “Também estou aguardando um incentivo do Ministério do Esporte, mas o processo para a liberação de verba é um pouco burocrátic­o”, comenta.

PARCERIA

Flávia atribui o amadurecim­ento na carreira e a boa fase à parceria com o técnico Luiz Alberto. “Ele me motiva bastante. Nossa relação se estende além das pistas. O Luiz é como um pai para mim, ele sabe quando não estou legal, e isso é muito importante. Quem me ensinou tudo o que sei foi o Luiz. Eu achava que sabia treinar antes dele, mas eu percebi que não (risos). Esse conhecimen­to que ele me passou me faz visualizar novas metas. O Luiz sempre cobra resultado em cada treino. Geralmente faço tudo sem reclamar, mas o que me dá uma preguicinh­a são os treinos de tiro, necessário­s para evoluir na velocidade. Fico muito cansada e não quero fazer nada depois disso”, confessa. Flávia se sente preparada para correr abaixo dos 2 min no Rio, mas diz que não está preocupada com a medalha. “Meu foco é ficar entre as 8 finalistas. Vou precisar mais do que treinament­o, vou precisar ter atitude, ou seja, não posso ter medo. Apesar de assustar, uma competição como essa é uma chance para mostrar que estamos no auge, mostrar capacidade de superação, comprometi­mento.” E já traça suas expectativ­as para a Olimpíada de Tóquio, em 2020. “Aí sim eu quero entrar para ganhar medalha, não apenas bater meu recorde. Mas um passo de cada vez. Claro que seria incrível se eu conseguiss­e ganhar uma medalha na minha estreia nos Jogos, mas isso é algo que só vamos saber no dia.”

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Quando viajou a San Diego (EUA), no ano passado, para fazer um treinament­o mais específico, Flávia conheceu Joaquim Cruz. “Foi ótimo conhecer alguém como o Joaquim. Ele deixou a marca dele no atletismo, fez história. Mas percebo que cada um tem a sua...
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