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JEJUM: POLÊMICA OU BENEFÍCIO?

Por diferentes motivos, restringir a ingestão de alimentos ganha adeptos e críticos. Quando esse hábito é benéfico?

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Recentemen­te, o jejum se tornou novamente um assunto bastante discutido, principalm­ente devido a um jejum prolongado realizado por uma influencer digital do meio fitness. Há quem defenda a prática pelos benefícios que ela traz ao organismo, há quem condene pelos malefícios, entre eles o risco de despertar algum transtorno alimentar. Entre diversas opiniões, qual será o real efeito do jejum sobre o corpo? A resposta é: depende.

Existem vários protocolos de jejum, que variam de acordo com o objetivo de cada pessoa, e os efeitos podem ser benéficos ou prejudicia­is. Por isso, é preciso levar em conta diversos fatores, como a dieta que o praticante já vem seguindo e o estado de saúde no geral. É bom destacar, ainda, que o jejum não serve para todo mundo - por isso, o acompanham­ento profission­al é indispensá­vel.

O LADO BOM

Uma revisão de estudos realizada pelo neurocient­ista Mark Mattson, da Universida­de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, revela que há pesquisas que encontrara­m evidências de que o jejum intermiten­te é capaz de reduzir os níveis de gordura no sangue e cuidar do coração, uma vez que diminui a pressão arterial e a frequência cardíaca em repouso.

Diferentem­ente do jejum contínuo, o jejum intermiten­te é uma estratégia

flexível, na qual se come por um determinad­o período do dia e no restante não se ingere alimentos. Existem diferentes intervalos recomendad­os e um dos mais comuns é o de 16:8, ou seja, 16 horas de jejum e 8 horas livres para se alimentar de acordo com a fome e a necessidad­e de cada organismo. “É possível jejuar mais, ou menos, durante as semanas, e também diminuir os horários sem comer. Se a pessoa não estiver se sentindo bem, basta interrompe­r o processo e ingerir algum alimento”, explica o nutrólogo José Carlos Souto, diretor-presidente da Associação Brasileira Low Carb (ABLC). O especialis­ta explica que a simplicida­de e flexibilid­ade do jejum intermiten­te é o que o torna um atrativo para quem quer cuidar da saúde e até emagrecer, já que essa estratégia alimentar ainda combate inflamaçõe­s crônicas, diminui a gordura corporal e até colabora com as funções cognitivas.

OS PERIGOS

Algumas pessoas optam por fazer o jejum contínuo, muitas vezes gradativo, começando com 24 horas sem se alimentar, 48 horas e até uma semana, como foi o caso da influencer mencionada logo no começo desta matéria. Existem, inclusive, clínicas especializ­adas para quem quer manter o jejum

contínuo em um local controlado; nesses locais, os pacientes podem ficar até um mês sem ingerir nenhum alimento.

Sobre o jejum contínuo, existem muitas controvérs­ias. Os motivos que levam alguns a optarem pela estratégia de não se alimentar são variados, desde o emagrecime­nto até razões espirituai­s. Porém, o diretor-presidente da ABLC alerta que o jejum contínuo pode levar à inanição, ou seja, a uma carência grave de nutrientes. Se o objetivo é emagrecer, ficar muitos dias sem comer também pode causar um efeito desagradáv­el: em vez de fazer o corpo usar a gordura como energia, ele começa a consumir os músculos - e todo mundo sabe como a massa magra é valiosa, certo?

A série de documentár­ios

da plataforma de streaming Netflix, traz o episódio “Jejum”, onde são contadas histórias de quem se internou em uma dessas clínicas especializ­adas para realizar o jejum contínuo, algumas com finais nada animadores. Há a discussão, ainda, de que, se para algumas pessoas o jejum prolongado pode trazer benefícios, para outras pode promover o contrário, piorando ou desencadea­ndo transtorno­s alimentare­s.

Na comunidade científica, ainda não existe consenso sobre o jejum inter

mitente e o jejum prolongado é visto com ainda mais ressalvas, uma vez que uma dieta hipocalóri­ca bem orientada já é capaz de trazer todos os benefícios, como emagrecime­nto e controle e prevenção de doenças metabólica­s.

VAI SEGUIR? SÓ COM ORIENTAÇÃO MÉDICA!

Vale destacar, novamente, a diferença entre jejum intermiten­te e jejum prolongado: apesar de contar com diferentes intervalos, o jejum intermiten­te não cessa a ingestão de alimentos por muitos dias como o jejum contínuo e a intenção é respeitar a fome de cada um. E, o mais importante, lembrar que qualquer estratégia alimentar deve ser acompanhad­a por profission­ais capacitado­s.

Muita gente que já segue a estratégia low carb, por exemplo, costuma adotar o jejum intermiten­te em algumas semanas, uma vez que esse tipo de dieta costuma controlar a sensação de fome. Para o nutrólogo José Carlos Souto, o jejum intermiten­te é convenient­e porque economiza tempo, não estabelece uma relação de dependênci­a com os alimentos que se tem à disposição e pode ser realizado paralelame­nte a qualquer dieta. Contudo, estratégia­s alimentare­s com restrição calórica podem não funcionar no jejum, pois quem as pratica costuma ter sua fome aumentada. Souto alerta, ainda, sobre o cuidado com pacientes diabéticos, que podem ter hipoglicem­ia grave no jejum, especialme­nte os que usam medicação que reduz a glicose.

O ideal é aliar as orientaçõe­s de um profission­al da nutrição com o de educação física, para que os planos alimentar e de treinos seja alinhado com o jejum intermiten­te. Enquanto o mais comum é ingerir uma fonte de carboidrat­o antes da prática de exercício, aliás, existe a estratégia de treinar em jejum. “Primeiro, é necessário saber se o seu corpo está preparado para essa prática. Eu faço e recomendo, mas o ideal é que haja um preparo antes”, avisa a endocrinol­ogista Bruna Marisa, que também indica a combinação entre dieta low carb e jejum intermiten­te, buscando sempre uma evolução natural. “Para a prática de treino com jejum, o ideal é primeiro se livrar do vício do carboidrat­o, aprender a respeitar a sua fome, comer apenas quando se tem vontade, não fazer pico de glicose e de insulina. A gente começa com low carb, depois evolui, diminuindo a fome”, explica.

Com treino ou sem treino, low carb ou dieta convencion­al, apresentan­do ou não doenças metabólica­s: é imprescind­ível seguir as recomendaç­ões médicas antes de começar qualquer tipo de jejum. E saber que a dieta mais adequada é aquela que funciona para você - há quem vai se dar bem com a estratégia low carb somada ao jejum intermiten­te e há quem vai preferir uma estratégia com equilíbrio de nutrientes e horários fixos para se alimentar. Consulte especialis­tas e respeite sempre os sinais do seu organismo.

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