A Nacao

Jorge Maurício deixa Enapor e embarca na ETE

- Daniel Almeida

Jorge Maurício renunciou ao segundo mandado como PCA da Enapor, para o qual tinha sido reeleito em Novembro de 2019. A mudança foi consumada oito meses depois, a 31 de Julho, e, no dia seguinte, esse mesmo gestor já estava ao serviço da ETE Cabo Verde, dona da empresa Interilhas e um das interessad­as na subconcess­ão dos principais portos do país.

A NAÇÃO sabe que a decisão de renúncia de mandato foi comunicada ao Governo um mês antes da sua consumação, a 31 de Julho, como antes referido. Este facto, ao que consta, surpreende­u o Executivo que tinha renovado o mandato do CA da Enapor sete meses antes dessa decisão unilateral de Maurício.

No dia 19 de Agosto foi reconstitu­ído o CA da Enapor, onde os seus membros designaram Alcídio Lopes, para desempenha­r as funções de PCA da empresa. Por deliberaçã­o do accionista Estado, de 06 de Agosto, Ireneu Camacho, que antes exercia as funções de director de Inovação e Tecnologia de Informação da empresa, foi promovido a administra­dor executivo. Eugénia Soares é outra administra­dora executiva. À Enapor cabe a gestão dos portos do país.

Troca de barco

O antigo PCA da Enapor resolveu passar para o lado da ETE, um dos principais playres do sector marítimo em Cabo Verde e, com ele, leva um conjunto de informaçõe­s privilegia­das sobre a subconcess­ão dos portos, um sector de grande interesse para a sua nova entidade patronal.

Jorge Maurício, que esteve intimament­e ligado ao processo de subconcess­ão dos portos, expressou de resto o seu engajament­o nesse dossiê durante um fórum, em 2018, sobre concessões portuárias. Ou seja, ao que tudo indica, em Cabo Verde, poucos possuem informaçõe­s tão privilegia­das sobre o sector portuário-marítimo, informaçõe­s essas que não deixará de facultar à ETE, que, segundo uma fonte bem posicionad­a, o contratou com um salário “substancia­lmente superior” aos 300 mil escudos que auferia na Enapor.

Mas, esta troca do público para o privado, apesar do melindre que o caso representa em termos de promiscuid­ade entre o público e o privado, “não é ilegal”, explica um jurista contactado por A NAÇÃO, que esclarece que não existe nenhuma norma que obrigue o gestor público a ter um período de “nojo” ou “sabático” quando pretenda transitar para o sector privado.

“Uma coisa é certa”, sublinha o interlocut­or do A NAÇÃO, “estamos perante uma situação eticamente reprovável. E é neste quadro que o assunto deve ser encarado, ainda por cima, em se tratando de alguém que acaba de ser eleito presidente da Câmara de Comércio de Barlavento, uma entidade que tem de lidar com vários operadores privados e o Estado.”

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 ??  ?? A mudança súbita de Jorge Maurício, de presidente do Conselho de Administra­ção (PCA) da Enapor, para vice-presidente do grupo ETE Cabo Verde, está a causar indignação em certos sectores da sociedade cabo-verdiana. Essa permuta de cargos e funções, que dá azo a um certo conflito de interesses, não é ilegal, mas fere os princípios da ética e da transparên­cia. Ainda por cima para quem acaba de ser eleito para dirigir a Câmara de Comércio de Barlavento.
A mudança súbita de Jorge Maurício, de presidente do Conselho de Administra­ção (PCA) da Enapor, para vice-presidente do grupo ETE Cabo Verde, está a causar indignação em certos sectores da sociedade cabo-verdiana. Essa permuta de cargos e funções, que dá azo a um certo conflito de interesses, não é ilegal, mas fere os princípios da ética e da transparên­cia. Ainda por cima para quem acaba de ser eleito para dirigir a Câmara de Comércio de Barlavento.
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