Alegria no campo e desespero na cidade da Praia
As chuvas intensas caídas no último fim-de-semana fizeram correr muita água nas ribeiras e ruas das cidades do país. Algo que há muito não se via. Na cidade da Praia, a força das águas inundou casas, provocou a morte de uma criança e arrastou carros e até contentores. Já no campo, a chuva levou muita água às sete barragens construídas no interior da ilha de Santiago.
Cabo Verde esteve sob o efeito da passagem de uma depressão que provocou chuvas fortes em todas as ilhas durante o último fim-de-semana. Uma vez mais, essas as chuvas vieram colocar a nu várias fragilidades existentes no ordenamento da cidade da Praia, nomeadamente, no que tange à drenagem da água pluvial, bem como em relação a certas construções feitas no velho pressuposto de que em Cabo Verde não chove.
A capital do país viveu momentos verdadeiramente dramáticos na madrugada de sábado, 12, e durante todo o dia. As fortes cheias e enxurradas provocaram estragos vários, além da morte de uma criança de sete meses, inundação de residências, estabelecimentos e espaços comerciais, assim como a queda de muros de protecção, arrastamentos das passadeiras aéreas e dezenas de carros.
Se uma semana antes a chuva era motivo de alegria e festejos pelas ruas dos bairros da cidade da Praia, já as chuvas de sábado,12, e domingo,13, passaram a ser motivo de preocupação e tristeza, mormente para as famílias que residem nas encostas e leitos das ribeiras e zonas baixas da cidade.
Zonas mais afectadas
Os bairros de Pensamento, Safende, Vila Nova, Fazenda, Castelão, Jamaica, Paiol e Várzea foram os mais afectados. A situação mais triste foi a morte de um bebé de sete meses em Pensamento. A residência da mãe foi invadida pelas cheias durante a madrugada e ao tentar sair de casa com duas crianças no colo, sendo uma de seis anos de idade e outra de sete meses, a mais pequena foi arrastada pela força da água e foi encontrada minutos depois já sem vida dentro da casa.
Cerca de seis dezenas de famílias afectadas foram realojadas no Estádio Nacional e em apartamentos alugados pela Câmara Municipal da Praia.
Avultados estragos materiais
Os danos materiais na cidade da Praia também são avultados. Para além de estragos nas casas das famílias, dezenas de viaturas foram arrastadas e destruídas pelas cheias, assim como animais e até contentores. Muitos estabelecimentos comerciais foram inundados e os bens danificados, com realce para o mercado de Sucupira, onde os comerciantes se queixam de milhares de contos de prejuízos e pedem ajuda ao Governo.
A nível das infraestruturas públicas, a ponte de Vila Nova ficou parcialmente destruída devido à força das cheias. E, na rampa que dá acesso ao bairro da Achada de Santo António, uma parte do muro ruiu, pondo em perigo as construções no local.
O polivalente do bairro do Paiol também ficou parcialmente destruído e várias passadeiras aéreas nas ribeiras, foram arrastadas pelas correntezas.
Factores colaterais
Os estragos causados pelas cheias não resultaram exclusivamente do nível de pluviometria registado, mas também devido à obstruções dos canais de drenagem da água, ribeiras assoreadas e construções clandestinas em locais indevidos, mormente nas encostas e leitos das ribeiras.
A degradação ambiental foi também notória pelo tipo de detritos arrastados do interior até à zona marítima, na Praia. O vazamento de todo o tipo de lixo nas ribeiras e encostas, a par de entulhos e outros restos da construção civil nas ribeiras vem contribuído para o assoreamento da ribeira que passa pela Ponte de Vila Nova e vai até Praia Negra.
Com as chuvas caídas no sábado,12, ficou demonstrado que, pelas razões atrás mencionadas, a ponte da Vila Nova já não suporta muita água.
Em suma, ao fim de quatro anos de seca, há muito que os capitalinos não viam cenas iguais. Por um lado, a força da natureza expressa no volume e força das águas e por outro no rasto de destruição que esse espectáculo foi deixando à sua passagem.