“Se não for no palco, que seja na engenharia civil”
Z
uleica Barros começou a dar os seus primeiros passos na música na adolescência, na Boa Vista, sua ilha natal, quando acompanhava o pai “Dacruz” às tocatinas com os amigos no bar “Ca Izilda”, da localidade de Bofareira.
“Eu divertia-me, envolvia-me e deixava fluir em mim a boa influência musical dos mais-grandes”, conta, em conversa descontraída com A NAÇÃO.
Influência do pai
A influência paterna semeou nela a paixão pela música. “Meu pai é minha inspiração, não só como artista, mas também como o homem guerreiro, responsável e grande pai que sempre foi. Apesar de todas as dificuldades, ele sempre manteve a sua grandeza e altruísmo. Ele inspira-me a tocar, cantar, compor e a viver”.
Na estrada, à procura do seu lugar no firmamento musical cabo-verdiano, Zuleica diz procurar, o tempo todo, aperfeiçoar o seu dom de cantar, tanto assim que tratou de aprender a tocar o violão.
Após o desafio duplo, tocar e cantar, as coisas foram acontecendo naturalmente e logo começaram a surgir os primeiros convites para actuações a solo ou em grupos.
“Convidavam-me para um ou outro evento das festas do município, datas comemorativas importantes, como celebração do dia das mulheres, semana da juventude, entre outros, que me ajudaram a singrar no mercado”, relembra, realçando que a sua carreira profissional começou, “verdadeiramente”, há cerca de um ano e meio, quando deixou Boa Vista, rumo à cidade da Praia.
“As pessoas começaram a conhecer um pouco mais do meu trabalho, e recebia, cada vez mais, convites para noites de tocatina Voz&Violão. Foi assim que comecei a ganhar o meu espaço e, claro, com o apoio de outros colegas artistas”, faz questão de pontuar.
Estilo
Zuleica Barros é uma jovem intérprete e compositora natural da Boa Vista, que está a “experimentar” a carreira na cidade da Praia, seguindo os passos do pai. Em tempos de Convid-19, ela tem batalhado para, quando não estiver no palco, for, “algures, na engenharia civil”, a outra grande paixão da sua vida.
Focada no que faz, Zuleica Barros diz que prefere aproveitar o máximo a versatilidade que a música proporciona sem ter um estilo próprio e fechado.
“Sou apaixonada pela diversidade e riqueza que a música proporciona e tento vivenciá-la o mais intensamente possível a todos os níveis. Sou apaixonada pela nossa música tradicional, mas também viajo pelo blues, jazz, bossa nova, rap. Acho que o que torna a música ainda mais apaixonante é a sua transversalidade”, explica a artista que, nas composições da sua autoria, prefere “transcrever” a vida, história, experiências amorosas, familiares, enfim, “o quotidiano do nosso povo, a nossa localidade, a nossa gente”.
Primeiro “Single”
Zuleica lançou o seu primeiro single, “Alma Forte”, em Abril deste ano. O trabalho “foi bem aceite e teve uma apreciação positiva”, facto que a motivou a pensar já na próxima produção.
“Alma Forte foi produzido por Ivan Medina. Agora estou a trabalhar juntamente com o artista, guitarrista Jorge Almeida para lançar uma coladeira que promete surpreender os nossos fãs”, avança.
Sobre o seu crescimento, ou evolução, a jovem artista diz que tem amadurecido bastante, não só a sua performance musical, como na sua postura perante várias adversidades.
“Nem sempre se encontra pessoas de boa-fé nesta estrada”, assim como “em outras!”. “O importante é sermos firmes nos nossos objetivos, prioridades e certezas para podermos driblar e ultrapassar as dificuldades que nos surgem pelo caminho”.
Destinos…
Guiada pela música, Zuleica diz que já conheceu grande parte da ilha de Santiago, com actuações em vários concelhos. Também já actuou nas ilhas do Maio e do Sal e acredita que as viagens vão continuar logo assim que deixar de haver a Covid-19. De entre outras vantagens que esta área lhe proporciona, realça, são as novas amizades e experiências vividas e partilhadas com outros colegas.
“Cada um traz consigo algo único e diferente, todos têm uma parte boa para oferecer e partilhar. Esse tipo de sinergia deve ser aproveitado e sentido”, explica a jovem que tem como maior sonho, concretizar o seu álbum e levá-lo aos quatro cantos do mundo, além de “cantar ao lado da diva Mayra Andrade, uma das ícones da voz feminina cabo-verdiana no mundo”.
“Engenharia civil, minha outra paixão”
E porque hoje, com a Covid-19 e outros motivos, a música deixou de ser uma garantia, Zuleica Barros, que diz cantar por paixão, prefere investir em outras áreas. Neste momento, está a formar-se em engenharia civil, uma área que sempre gostou.
“Ao mesmo tempo que tenho a paixão pela música, sempre fui voltada para as ciências exatas. A engenharia civil também é uma outra paixão minha. Muitos questionam por ser uma área ‘dos homens’ mas eu me sinto bem lá”, confessa a jovem, que, além de cantar e cursar engenharia civil, faz parte da “Associação de Estudantes da Boa Vista Residentes Fora” e trabalha como monitora na Casa da Ciência, da Universidade de Cabo Verde.