Augusto forçado a negociar com Titota
Em São Vicente, Augusto Neves renovou o seu mandato à frente da Câmara Municipal, porém não saiu com a vida facilitada. Perdeu a maior absoluta, o seu MpD elegeu apenas 4 dos 9 vereadores, o que vai forçar a negociar para a viabilizar o seu governo.
Do ponto vista ideológico, seria mais fácil aproximar-se da UCID, partido que elegeu três vereadores e com o qual o MpD já conseguiu negociar em outros tempos. Desta vez, ao que parece, esse caminho apresenta-se espinhoso. Logo na noite eleitoral, o presidente da UCID, António Monteiro, deu sinal disso mesmo: chamou Augusto Neves de corrupto e ficou sem margem de manobra para se sentar à mesa de negociação.
Ainda assim, nesta terça-feira, Monteiro já se abriu mais. Reiterou que com Augusto Neves não negoceia, mas há hipótese de se sentar com o presidente do MpD, Ulisses Correia e Silva, para buscar uma solução para São Vicente.
Entretanto, partindo do princípio de que Neves quererá encontrar o caminho com os próprios pés, resta-lhe armar uma parceria estratégica com Albertino Graça, que concorreu nas listas do PAICV mas fez questão de se declarar “independente”. Sendo próximos em termos pessoais, não será de estranhar que os dois possam sentar-se à mesa para viabilizar o governo municipal.
Nessas negociações, poderiam entrar não só a possibilidade de profissionalizar um ou os dois vereadores eleitos na lista liderada por Graça mas também lugares na mesa da Assembleia Municipal. O tempo dirá.
Desavindos
A acontecer as negociações com Augusto Neves, Albertino Graça ganharia mais uns desavindos no seio do PAICV, mesmo porque nunca a sua candidatura convenceu parte de membros do partido. Tanto assim é que muitos não entraram na campanha. Ou porque não foram chamados, ou porque simplesmente não acreditavam na solução Titota. Aliás, esse afastamento de alguns militantes explica em parte o fraco desempenho da candidatura. Entretanto, tudo isso pode importar pouco a quem diz colocar os interesses de São Vicente acima de qualquer um.
Votos de gratidão
Júlio Lopes (MpD- Sal), Herménio Fernandes (MpD-São Miguel), Orlando Delgado (MpD-Ribeira Grande), Carlos Silva (PAICVSanta Cruz) reelegeram-se presidentes das respectivas câmaras municipais com larga margem de vantagem eleitoral. Um voto de gratidão a quem no seu primeiro mandato mudou a cara dos respectivos municípios – Lopes e Fernandes – mas também a quem, concorde-se ao não com os métodos, defende o seu concelho até ao limite.
Desafio de Tarrafal
José “Mayka” dos Reis venceu Tarrafal de Santiago pelo PAICV, sagrando-se um dos grandes vencedores da noite de domingo, tendo em conta que esta foi a sua segunda tentativa de conquistar a CMT. Mas prepare-se. Tem pela frente o desafio de colocar nos trilhos uma das câmaras mais problemáticas e endividadas do país.
Ao longo destes quase trinta anos, de tanto recrutar gente como forma de pagamentos políticos, quase todos os recursos que a CMT recebe do governo central é para pagar salários, daí o atraso e o marasmo em que o concelho se encontra e que os munícipes, desta feita, decidiram dar um retundo “basta”.
Com muito menos tempo de vida, Calheta de São Miguel, para não falar de Santa Cruz, parece ter registado muito mais progressos.
Derrotado José Luís Santos, o regresso
Após um mandato como independente à frente do grupo Basta, José Luís Santos voltou ao MpD e pediu aos boavistenses mais um mandato para concretizar os projectos. Não conseguiu o intento.
Para isso, terão contribuído três factores: a) alguns dirigentes locais do MpD não engoliram o retorno depois da traição de 2016 e, por isso, não moveram uma palha nesta eleição; b) a votação em peso das pessoas oriundas de Santiago no candidato adversário também natural da ilha maior e c) a (má) gestão da Covid-19 que voltou em força a infectar na ilha depois de meses sem registrar caso. O facto de ter ficado apenas por um mandato, coisa rara nos hábitos dos eleitores, fala por si. Os eleitores chegaram rapidamente à conclusão que quatro anos era tempo suficiente para dizer “basta” a quem gritou “Basta!” ao MpD em 2016.
PP vítima da proliferação
O Partido Popular (PP) não colheu os frutos da oposição cerrada que fez ao governo de Óscar Santos na cidade da Praia, onde amiúde chegou a ser mais contundente do que o PAICV. A candidatura do PP, liderada pelo líder Amândio Barbosa Vicente, nem conseguiu mil votos nas eleições de último domingo. Terá sido vítima da proliferação de votos nas quatro candidaturas independentes, surgidas do nada, e com nova forma de fazer política mobilizou mais os “descontentes” do sistema do que o PP, suposto beneficiário do voto protesto. Realça-se, entretanto, o facto de o PP ter conseguido três vagas na assembleia municipal da Boa Vista, ilha onde a mesma formação política concorreu apenas ao órgão deliberativo.
Nuías, o reconquistador
Nuías Silva cumpriu o repto lançado por Janira Hopffer Almada. Reconquistou São Filipe e agora tem alguns meses para ajudar o seu partido a retomar a maioria nas legislativas do próximo ano. Para observadores locais, Nuias Silva teve a vida facilitada face a um adversário que apenas chegou à CMSF, em 2016, devido à divisão em que o PAICV se encontrava na altura.
Mosteiros, o render da guarda
Nos Mosteiros, ilha do Fogo, Fábio Vieira rende Carlos Fernandino Teixeira, que se retira ao fim de 18 anos como edil da segunda mais importante autarquia da iIlha do Vulcão. Pela segunda vez, Lourenço Lopes vê inviabilizada a sua ambição de dirigir o seu concelho natal.
Veteranos
Estas eleições não correram de feição para dois veteranos, ou dinossauros, do nosso poder local: Eugénio Veiga, em Santa Catarina do Fogo, e Pedro Alexandre Rocha, em Santa Cruz, ilha de Santiago. Depois de afastados dessas lides, nem um nem outro conseguiu que o povo os recebesse de braços abertos. No caso de Santa Cruz, nunca Sueki teve a vida tão facilitada. De 5.542 votos em 2016, contra Orlando Dias, saltou para 7678, contra Pedro Alexandre.