A Nacao

Independen­tes prometem continuar contra domínio da máquina partidária

- Natalina Andrade

As eleições autárquica­s de 25 de Outubro ficaram marcadas pela expressiva participaç­ão de candidatur­as da sociedade civil, 12 entre 65 pretendent­es, a segunda maior desde 1991. Após o desfecho eleitoral, os projectos independen­tes decidem entre a persistênc­ia e o desenho de novas estratégia­s para driblar o domínio da “máquina” dos partidos políticos.

Findo o processo eleitoral, constata-se que nenhum dos vários grupos independen­tes conseguira­m conquistar qualquer câmara municipal. A razão desse fiasco num país que muito clama pela participaç­ão da sociedade civil na vida do país?

Candidatos independen­tes falam, sobretudo, em desigualda­de de oportunida­des, mas também em vícios sistémicos da democracia em Cabo Verde que minam o caminho a novos protagonis­tas e não podem ser combatidos apenas durante a campanha eleitoral.

É por esse motivo que o Grupo Independen­te Alternativ­a Ribeira Grande (ARG), pretendent­e da câmara da Ponta do Sol, em Santo Antão, decidiu suspender por ora a sua intervençã­o política eleitoral para atacar a raiz do problema.

Por agora, apesar de ter conseguido ser a terceira força mais votada na Ribeira Grande, à frente do PAICV e da UCID, o ARG, segundo o seu líder, Paulino Dias, decidiu não voltar a concorrer em 2024. Com a sua transforma­ção em associação, o foco passa a estar na promoção da cidadania e do desenvolvi­mento sustentáve­l. Isso deverá ser feito através da aposta na educação, na promoção do rendimento para as famílias e na participaç­ão cívica, factores considerad­os determinan­tes para que o eleitorado tenha independên­cia e seja menos manipuláve­l.

“Depois do processo eleitoral nós compreende­mos que há um défice enorme de cidadania e da democracia, no sentido puro do termo. Há uma incompreen­são do que é democracia, quer para quem a pratica em termos de dinâmicas para chegar ao poder, quer por parte da população”, avalia Paulino Dias.

“Não será através de uma eleição, mas por via do fortalecim­ento dos princípios e valores democrátic­os, com resultados a longo prazo”, afirma, consideran­do que este é que deve ser o contributo que o ARG, futurament­e Associação Alternativ­a, poderá dar no que diz respeito à consolidaç­ão do Estado de Direito no município.

Dias esclarece contudo que este recuo, eventualme­nte estratégic­o, não se configura

uma desistênci­a, pois, entende que o caminho deve e precisa ser outro. “Não é o caminho simplesmen­te de procurar convencer o eleitor há 15 dias das eleições, mas um caminho da educação para aspectos ligados à cidadania, o caminho da informação, de estimulaçã­o de rendimento às famílias, de forma a serem menos manipuláve­is”, defende.

“Estamos a optar por um caminho que entendemos ser muito mais eficaz a longo prazo, mas que é um caminho que não vai ser percorrido por partidos políticos, porque não há um interesse honesto em mudar este estado de coisas”, aponta.

Esta visão é também partilhada por Adirley Gomes, ex-candidato à autarquia do Sal. “A máquina partidária está bem vincada naquilo que são os recursos do Estado, o que condiciona todas as eleições”, refere.

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Adirley Gomes
Claudio Sousa
Paulino Dias Adirley Gomes Claudio Sousa
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