Connect Services pega nas rotas da “sodade” abandonadas pela TACV/CVA
A Cabo Verde Connect Services, com sede em Portugal, pretende passar a fazer voos ligando este arquipélago à Europa, mas também aos EUA, já a partir de 2 de Dezembro. Os mesmos mercados que a TACV/CVA disse não serem rentáveis. Entre outros aspectos estranhos, a Agência de Aviação Civil (AAC) garantiu ao A NAÇÃO que não existe qualquer pedido dessa novel companhia para obter o Certificado de Operador Aéreo para voar para Cabo Verde.
Contactada sobre a notícia de que a Cabo Verde Connect Services pretende operar voos internacionais para este arquipélago, a partir do dia 2 de Dezembro, a Agência da Aviação Civil (AAC) garantiu ao A NAÇÃO não ter dado entrada, até ontem pelo menos, nos seus serviços, qualquer pedido de certificação nesse sentido.
A AAC esclarece, porém, que se a companhia em questão pretender realizar operações em Cabo Verde (doméstica) ou a partir de Cabo Verde (internacional), “terá que constituir-se de acordo com as leis nacionais e obter junto da AAC, os correspondentes Certificado de Operador Aéreo (AOC) e Licença de Explorador Aéreo”.
“Cumpre-nos,contudo, transmitir, que até a data de hoje não deu entrada na AAC, qualquer pedido de certificação de operador aéreo com o nome Cabo Verde Connect Services (CVCS)”, garante.
A título elucidativo, a AAC informa que os únicos detentores de AOC em Cabo Verde são neste momento a TACV e a TICV (ex-Binter).
Entretanto, soube o A NAÇÃO que a Connect Services pretende operar como operador turístico, mesmo sendo para mercados da “Sodade”, em parceria com a SATA. Nesta parceria, a Connect Services irá vender os bilhetes de passagem e a SATA fazer os voos com as suas aeronaves, uma vez que a SATA já é certificada pelo Governo português para voar para outros países.
Mistérios da Connect Services
Estranhamente, a Cabo Verde Connect Services, que acaba de se apresentar, publicamente, é liderada por Mário Almeida, ex-director da TACV para a Europa, e Tiago Raiano. Ao que tudo indica, esta é a mesma empresa que detém a Lease Fly, que prestava serviços à TACV nas ligações inter-ilhas, depois desta não ter conseguido chegar a acordo com a Binter (actual TICV) para distribuição dos passageiros do Hub do Sal.
Além da Lease Fly, a Connect tinha como accionistas o grupo açoriano Newtour e o grupo hoteleiro New Horizons (presente no Senegal e em Cabo Verde). Esta informação tinha sido reportada pelo A NAÇÃO na sua edição número 633, de 17 de Outubro de 2019.
Ora, segundo uma fonte deste semanário, a Newtour, que de certa forma agora é concorrente da TACV/CVA e da TAP nos voos para este arquipélago, representa a CVA nas questões de protecção de passageiros na Europa.
Entretanto, segundo informações avançadas pela própria Cabo Verde Connect, em comunicado ao A NAÇÃO, essa companhia vai operar com aparelhos da SATA, que, por sua vez, tem à frente Mário Chaves (ex-CEO adjunto da CVA). Como se refere também, o objectivo é aumentar a conectividade de Cabo Verde, especialmente do Sal, São Vicente e Santiago, com os mercados europeus e americanos.
“A operação irá centrar-se, numa primeira fase, nas principais cidades europeias, como Lisboa e Paris, e norte-americanas (Boston), onde residem as maiores comunidades cabo-verdianas, explicam em comunicado, numa aposta clara nos mercados da “Sodade”, abandonados pela TACV/CVA pelo Hub do Sal, alegadamente porque não eram rotas rentáveis, que dinamizará a conectividade com as ilhas de Santiago e São Vicente.
Os mesmos garantem que os voos estarão disponíveis para reserva em “GDS” e permitirão às agências de viagem e operadores turísticos ter acesso a tarifas muitos acessíveis, partir de 182 euros (por percurso).
Mário Almeida garante no mesmo comunicado que a empresa acredita “no potencial” das rotas que vai comercializar.
“Estamos seguros da qualidade de serviço comprovada que podemos prestar aos nossos parceiros de negócio. Aliamos a tecnologia a uma equipa qualificada e profissional, o que nos permitirá fazer desta operação um sucesso”.
A acontecer, o primeiro voo da Cabo Verde Connect Services está previsto para 2 de Dezembro, com a rota Lisboa-Praia-Lisboa, em aparelhos A320/A321ER, com periodicidade semanal.
Entretanto, sabe o A NAÇÃO, que o objectivo dessa companhia é operar de forma temporária, até que a TACV/CVA volte a estar operacional para voar.
Por sua vez, segundo fontes do A NAÇÃO, a TACV/CVA não deverá voar mais até final do ano, pois, todos os voos previstos entre 15 de Dezembro e 15 de Janeiro foram cancelados. Ao que consta porque, uma vez mais, por falta de entendimento com os “parceiros” islandeses.