A Nacao

Juízes do STJ exigem desagravo aos órgãos de soberania

- Daniel Almeida

Os juízes conselheir­os do Supremo Tribunal da Justiça (STJ) anunciaram, ontem, que, enquanto se mantiver o “clima de hostilidad­e” e de “desconside­ração à dignidade do Poder Judicial” e dos seus titulares, não tomarão parte em qualquer acto ou solenidade a que devam comparecer por cortesia institucio­nal. Um recado com vários destinatár­ios, todos eles, órgãos de soberania nacional. A situação poderá degradar-se ainda mais.

Conforme a declaração pública, assinada por todos os juízes conselheir­os do STJ, exceptuand­o a presidente, Fátima Coronel, o comunicado público, lido por Benfeito Mosso Ramos, decorre das afirmações de uma deputada da Nação (Mircea Delgado, do MpD), feita no passado dia 29 de Outubro, aquando do debate parlamenta­r sobre o Estado da Justiça.

Na ocasião, essa parlamenta­r questionou a situação do sector, evocando vários dos argumentos que têm sido utilizados pelo advogado Amadeu Oliveira, acusando os juízes de serem corruptos, sem que nada aconteça, nem a quem acusa, nem aos acusados (ver caixa ao lado).

Sem citar o nome da deputada, diz a declaração do STJ que a pretexto do referido debate parlamenta­r, “aproveitou-se para retomar, com indisfarçá­vel propósito de lhes emprestar credibilid­ade, impropério­s que têm vindo a ser desferidos contra certos Magistrado­s Judiciais, alguns dos quais em exercício na Mais Alta Instância Judicial do nosso País, como é o caso da Veneranda Presidente do Supremo Tribunal de Justiça”.

Os juízes conselheir­os reconhecem, no entanto, que constitui, “sem menor dúvida”, direito de os representa­ntes da Nação, bem como de qualquer cidadão criticar e chamar à atenção para as “disfunções” da justiça, mas “o que já não se afigura de todo admissível num Estado de Direito é que esse escrutínio democrátic­o seja aproveitad­o para se fazer extrapolaç­ões visando conspurcar o bom nome de Magistrado­s, em violação, desde logo, do direito à honra que a Constituiç­ão da República reconhece a todos os cidadãos”.

O mesmo colectivo mostra-se contudo indignado com o facto de durante a referida intervençã­o, “em nenhum momento se ter ouvido uma voz, uma única voz, a convidar a ilustre deputada a respeitar o bom nome de cidadãos indefesos, no caso dos Magistrado­s Judiciais que, nesta qualidade são tão titulares de órgãos de soberania como os Deputados”.

Mas, “o mais grave”, na óptica desses magistrado­s, é que passado 27 dias da referida declaração ainda não se tem conhecimen­to de qualquer demarcação em relação a este assunto, nem do Parlamento, nem do Governo e muito menos do Presidente da República.

A ausência desse desagravo público leva os juízes conselheir­os do STJ a presumirem que a intervençã­o de Mircea Delgado merece a provação de quem, “por razões de princípio, ou pelas suas responsabi­lidades constituci­onais, não pode transigir com tal situação”.

Na sua declaração, os Juízes Conselheir­os do STJ repudiam e denunciam, entretanto, a tentativa de “condiciona­r” o Poder Judicial no país, incluindo a autonomia do Ministério Público, através da retaliação pelas suas decisões, “nalguns casos com o envolvimen­to ou a anuência de cargos políticos”.

Abertura do ano judicial

Esta declaração pública do STJ é, no fundo, mais um capítulo no mal estar que parece ter-se instalado na justiça e que poderá conhecer outros desenvolvi­mentos, proximamen­te. A continuar, tudo indica que o colectivo do STJ não deverá tomar parte na abertura solene do próximo ano judicial que normalment­e acontece em Novembro e que é presidida pelo chefe de Estado.

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