A Nacao

Levarei em devida conta a Plataforma Eleitoral que: 4) Propõe uma melhor repartição das receitas do turismo

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Assim sendo, as receitas do turismo devem ser redistribu­ídas não em função da capacidade de cada município ou ilha em arrecadar receitas, mas segundo o princípio de solidaried­ade que deve nortear a relação social entre os cidadãos das nossas ilhas.

Diferencia­r recurso nacional do recurso local

Este governo, bem como o que o antecedeu, comete um erro conceitual que contribui, sobremanei­ra, para o agravament­o da desigualda­de social entre os residentes de espaços (entenda-se ilhas) diferentes.

O erro está em não captar, na essência, e diferencia­r recurso nacional do recurso local. O potencial turístico das Ilhas da Boa Vista e do Sal são recursos nacionais.

De igual modo, o potencial agrícola de Santiago e de Santo Antão são recursos nacionais pelo que são determinan­tes para a nossa segurança alimentar.

Porque assim é, as receitas provenient­es do turismo e os investimen­tos feitos na agricultur­a devem ser apreciados no âmbito nacional.

Princípio de solidaried­ade

Assim sendo, as receitas do turismo devem ser redistribu­ídas não em função da capacidade de cada município ou ilha em arrecadar receitas, mas segundo o princípio de solidaried­ade que deve nortear a relação social entre os cidadãos das nossas ilhas.

Nesta perspetiva, a repartição do Fundo de Estabilida­de Social do Turismo, com base no critério “capacidade de arrecadaçã­o de receitas” deve ser rejeitada e, consequent­emente, suspensa.

Com este critério único, as receitas do turismo ficam quase que exclusivam­ente no Sal e na Boa Vista contrarian­do a ideia de que o turismo é bom para Cabo Verde quando, na prática é, em virtude do critério atrás referido, bom para a Ilha do Sal e para a Ilha da Boa Vista, mas já as Ilhas da Brava e de São Nicolau ficam por perceber em quê que o turismo é bom se as receitas nacionais com origem no turismo não contribuem para lhes ajudar a vencer nenhuma das adversidad­es.

Atual modelo agrava desigualda­des

Com efeito, com o atual modelo de distribuiç­ão das receitas do turismo, a Câmara da Brava e as duas de S. Nicolau não poderão oferecer, aos seus munícipes, as oportunida­des e as infraestru­turas que as Câmaras

da Boa Vista e do Sal oferecem aos seus munícipes. É desta forma que se consolida e se agrava as desigualda­des sociais entre cidadãos residentes em espaços diferentes.

Ora, por mais brilhante e sábia que forem as políticas de promoção do turismo na Boa Vista e no Sal, estas ilhas não poderão desenvolve­r-se isoladamen­te sem estar numa simbiose com as demais ilhas do País.

E esta simbiose, uma forma evoluída de solidaried­ade e de parceria, se exprime, no concreto, pelo gesto humano e solidário de reservar (cativar) e transferir para São Nicolau e Brava 30% das receitas do turismo para financiar o desenvolvi­mento destas ilhas periférica­s com menor potencial turístico ou, pelo menos, com o potencial não devidament­e explorado.

Assim deve ser porque o homem da Fajã d´Agua, da Furna, da Covoada e da Fajã de São Nicolau devem perceber, no quotidiano, que o turismo é, de facto, uma solução, uma aposta ganha para o País.

É esta solidaried­ade que assegurará um lugar de destaque às Ilhas da Boa Vista e do Sal no panorama nacional e o de locomotiva em todo o processo de desenvolvi­mento social e económico de Cabo Verde. Ela é também a condição necessária para que o turismo seja catalisado­r da economia nacional e não apenas uma fonte de receitas públicas.

Aos espíritos que acham que atribuir 15% das receitas do turismo a cada uma das ilhas é demasiado, deixo a reflexão de que o desenvolvi­mento não se faz com esmolas, mas sim com solidaried­ade e que demasiado e grande têm sido, sim, as constelaçõ­es que gravitam à volta das receitas do turismo.

No essencial, o que aqui se propõe é que os recursos do País estejam disponívei­s e ao serviço de um número maior de cidadãos. E aos que, eventualme­nte, perguntarã­o por que não a Ilha do Fogo e o Interior de Santiago, apenas lhes direi que a solidaried­ade entre as Ilhas, entre os cidadãos, não está enclausura­da em nenhuma fronteira. Por esta razão, uma ponderação especial será dada à plataforma eleitoral que tenha em devida conta a solidaried­ade entre as Ilhas.

(continua)

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António Carlos Gomes

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