“Desde que anunciamos as operações, nunca tínhamos visto as tarifas baixarem tanto”
Mário Almeida, director da Cabo Verde Connect Services, desmistifica a polémica associada à entrada dessa empresa nos voos internacionais com aparelhos da SATA de e para Cabo Verde, garantindo que o projecto foi pensado com a Cabo Verde Airlines e que os cabo-verdianos é que saem a ganhar. Até porque, assegura, a relação com a CVA é “de parceria” e “não de concorrência”.
Aterrou esta quarta-feira, 2, à tarde, no aeroporto da Praia, o primeiro voo da Cabo Verde Connect Services (CVCS) proveniente de Lisboa, em parceria com a SATA. Além da Praia, a empresa vai realizar voos para Sal e São Vicente, ligando o país a Lisboa, Paris e Boston.
Este primeiro voo, em contexto adverso, devido às restrições impostas pela covid-19, acontece duas semanas depois que os bilhetes foram postos à venda. Por isso mesmo, chegou com pouco mais de 40 passageiros a bordo, mas com muita carga. O importante, diz Mário Almeida, é começar.
“O intuito era mesmo esse, arrancar. Infelizmente a aviação tem estado parada e, ao estar parada, as agências de viagens perderam confiança, muitas vezes nos voos, e o cliente também nas companhias, por isso nós quisemos iniciar”, argumenta.
Por agora, a ideia é resgatar a confiança, nomeadamente, dos passageiros e das agências.
“Há muitas pessoas que querem ir para Cabo Verde mas não têm confiança; quando o país fechou as fronteiras, as companhias abandonaram os passageiros, não fizeram voos nos dias seguintes para os tirar onde estavam. Isto é uma coisa que ficou cravada nos operadores, nas agências de viagens e nos passageiros”, lembra.
Como explica também, este é o início de um projecto cujo plano remonta a 2018 e, segundo o nosso entrevistado, “não mudou nenhuma linha”, como uma complementaridade à CVA.
“O projecto nasce falando com a CVA, até 2019, altura em que englobamos a Associação das Agências de Viagens e Turismo de Cabo Verde”.
E continua: “Fomos aos bancos com as agências de viagens, fomos à Cabo Verde Airlines e pouca gente sabe que em 2019 ajudámos a CVA a introduzir o 737 na linha Lisboa-Praia-Lisboa, com duas finalidades: uma delas é que acreditamos que o mercado existe e deve ser explorado, segundo porque, na altura, achamos, e continuamos achar que centrar o Hub só no Sal, deixando as outras ilhas como Santiago e São Vicente livres, vai permitir que os concorrentes da CVA aumentem os preços nesses dois pontos, e que depois baixariam os preços de tal forma no Sal que levariam a CVA a perder dinheiro”.
Complementares
Questionado se mesmo operando as rotas da “Sodade”, abandonadas pela CVA, incluindo durante a gestão de Mário Chaves na TACV/CVA, que agora está na SATA, não se serviram de informações privilegiadas e que agora se aproveitam disso para fazer concorrência à CVA, essa fonte nega mais uma vez, categoricamente.
“Não. Isso é falso. Antes da pandemia já era assim e pós-pandemia vai continuar a ser assim. Vender aviação não é diferente de vender qualquer outro produto. Quem acha que pode estar sozinho numa indústria tão cara é um tiro no pé. Nós não entramos nas rotas da ‘Sodade’. Duas informações importantes: nós falamos com o CEO da CVA, ele sabe e lhe explicamos. No nosso contrato com a SATA está explicito que as rotas são prioritariamente operadas pela CVA e nós só operaríamos se a CVA não estiver. Está escrito no nosso acordo. A CVA e a SATA estão em “code-share” e este
é um dos motivos pelos quais escolhemos a SATA”, elucida.
Mário Almeida garante, entretanto, que se a CVA estiver amanhã no “BSP” (Billing and Settlement Plan – IATA), “em 24 horas nós estamos em ´code-share` com a CVA e a CVA em ´code-share`, connosco”.
“Nós só conseguiríamos o que estamos a fazer, se dominássemos e fossemos nós os responsáveis pela gestão da infraestrutura de publicação das tarifas. Não há mais nenhum operador no mercado, neste momento, que nos dava esta garantia, além da SATA. O nosso projecto é de unir toda a gente”, reforça.
Vantagens
Mário Almeida lembra que Cabo Verde é um mercado particular, pequeno, que exige medidas à sua dimensão.
“Cabo Verde precisa de uma tarifa simples em que todas têm bagagem incluída e de regras simples. Se o passageiro tiver Covid-19 não tem de se preocupar, nós devolvemos o dinheiro. Eu sei que ele não embarcou porque tinha Covid-19, logo não tenho de lhe dar um ´voucher` para tentar viajar daqui a um ano”, explica, garantindo uma vez mais que este tipo de estratégia só era possível com a SATA.
“Para ficar claro, trabalhei muitos anos na TACV, 23 ao todo, e saí por não concordar com coisas que foram feitas e estou a fazer as coisas que defendi em 2016 e que defendi durante 23 anos. Mas continuo a trabalhar com a TACV todos os dias, defendo a TACV e continuo a defender. Eu preciso de uma TACV/CVA forte, porque no meu Grupo (Newtour) nós fazemos turismo para Cabo Verde há mais de 30 anos”.
E conclui: “Se a CVA meter um cliente no nosso avião, a CVA tem logo um ganho, porque há uma comissão automática dentro do ´code share`. Este é um negócio de pequenos tostões, mas se for todos juntos, nós ganhamos. Atenção que o ´code share entre a CVA e a SATA está activo e se a CVA entra amanhã no BSP, entra automaticamente no code share”. .