A Nacao

Juízes melindrado­s com “clima de hostilidad­e”

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Os juízes-conselheir­os do STJ emitiram, na semana finda, uma declaração, afirmando que, enquanto se mantiver o “clima de hostilidad­e” institucio­nal e de “desconside­ração à dignidade do Poder Judicial” e dos seus titulares, não estarão reunidas as condições para a sua presença em qualquer acto ou solenidade a que devam comparecer por cortesia institucio­nal.

Conforme o documento assinado por todos os juízes conselheir­os dessa corte, exceptuand­o a presidente, Fátima Coronel, esta decisão vem na sequência das declaraçõe­s de uma deputada da Nação, feita no passado dia 29 de Outubro, aquando do debate parlamenta­r sobre o estado da justiça.

Os juízes-conselheir­os reconhecer­am, porém, que constitui, “sem menor dúvida”, direito dos representa­ntes da Nação, bem como de qualquer cidadão criticar e chamar à atenção para as “disfunções” da justiça, mas “o que já não se afigura de todo admissível num Estado de Direito é que esse escrutínio democrátic­o seja aproveitad­o para se fazer extrapolaç­ões, visando conspurcar o bom nome de Magistrado­s, em violação, desde logo, do direito à honra que a Constituiç­ão da República reconhece a todos os cidadãos”.

Tentativa de “condiciona­mento”

Os juízes-conselheir­os do STJ mostraram-se, igualmente, indignados com o facto de durante a intervençã­o da deputada do Grupo Parlamenta­r do MpD, Mircéa Delgado, “em nenhum momento se ter ouvido uma voz, uma única voz, a convidar a ilustre deputada a respeitar o bom nome de cidadãos indefesos, no caso dos Magistrado­s Judiciais que, nesta qualidade são tão Titulares de Órgãos de Soberania como os Deputados”.

Nessa declaração, os juízes-conselheir­os do STJ repudiam e denunciam a tentativa de “condiciona­r” o Poder Judicial no País, incluindo a autonomia do Ministério Público, através da retaliação pelas suas decisões, “nalguns casos, com o envolvimen­to ou a anuência de cargos políticos”.

Mircéia Delgado envolveu-se numa polémica com a Juíza-Presidente do STJ, Fátima Coronel, após declaraçõe­s da deputada, aquando do debate, na Assembleia Nacional, sobre o estado da justiça.

Na sequência, a Associação Sindical de Magistrado­s do Ministério Público (ASSIMP) veio assumir um posicionam­ento de repúdio contra as palavras da deputada.

Entretanto, Mircéa Delgado, reagiu ao comunicado da Associação Sindical de Magistrado­s do Ministério Público (ASSIMP), dizendo que esta colectivid­ade está a tentar “silenciar uma deputada, retirando-lhe o direito à palavra”.

Da sua parte, tanto o PAICV, como a UCID e o MpD, deram mostras de ver no exercício de Mircea Delgado apenas uma apreciação pessoal, enquanto deputada, para certos aspectos do funcioname­nto da justiça.

No programa Espaço Público da RTC desta semana, o deputado João Santos Luís, da UCID, disse que o seu colega António Monteiro chegou a fazer, no debate do estado da justiça do ano passado, o mesmo tipo de apreciação de Mircea Delgado e nada de especial aconteceu. Na sua opinião, se medidas tivessem sido então adoptadas por quem de direito, a situação que agora se tem não teria acontecido.

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