Boko Haram assassina mais de cem agricultores
Pelo menos 110 civis, homens e mulheres, foram assassinados no sábado num ataque nos arrozais localizados na aldeia de Koshobe, nordeste da Nigéria, de acordo com um balanço das Nações Unidas publicado no domingo. O Boko Haram é um dos grupos islâmicos radicais que actua na Nigéria e nos Camarões, principalmente.
De acordo com agências várias, homens armados chegaram em motocicletas no sábado passado e realizaram um brutal ataque contra homens e mulheres que trabalhavam nos campos arroz de Koshobe.
“Pelo menos 110 civis morreram cruelmente e muitos outros ficaram feridos”, disse o coordenador humanitário da ONU na Nigéria, Edward Kallon. “Todo o país está ferido”, disse o presidente Muhammadu Buhari, por seu turno.
As vítimas eram agricultores e que estavam desarmados. Várias dezenas foram decapitados no ataque, que começou no sábado pela manhã na aldeia localizada no Estado de Borno, nordeste da Nigéria, onde o grupo jihadista Boko Haram costuma agir.
Ainda que ninguém tenha assumido a responsabilidade pelo massacre, o Boko Haram realizou matanças deste tipo no passado e se mantém ativo na região, onde os terroristas mataram pelo menos 30 mil pessoas na última década. E já há fontes que os apontam como responsáveis.
“É sem dúvida a obra do Boko Haram, que opera na região e ataca frequentemente os agricultores”, afirmou no sábado Babakura Kolo, comandante de uma milícia governamental.
Os assaltantes, que chegaram armados em motocicletas, amarraram os camponeses e cortaram suas gargantas, segundo uma milícia antijihadista pró-governo. Moradores locais afirmaram à agência de notícias DPA que alguns dos mortos apresentam ferimentos à bala, outros tiveram a garganta cortada.
Em Zabarmari, dezenas de pessoas rodearam neste fim de semana os corpos dos assassinados, que foram envoltos em sudários funerários brancos e colocados em esteiras de madeira enquanto os clérigos faziam orações aos falecidos.
Enquanto isso, no sábado as autoridades continuavam procurando corpos, especialmente nas regiões pantanosas dos arrozais e nos campos de cultivo. O ataque de sábado foi no dia das eleições locais no conflituoso Estado de Borno, as primeiras organizadas desde o começo da insurreição do Boko Haram em 2009.
O número de vítimas mortais foi aumentando com o passar das horas após o atentado. Após participar do enterro de 43 pessoas, o governador de Borno, Babaganan Umara Zulum, informou que já haviam contabilizado 70. “Ao chegar me informaram que agora são 70”, disse aos jornalistas.
O governador falava do povoado de Zabarmari, bem próximo ao campo atacado. Depois, o coordenador humanitário da ONU elevou a contagem para mais de uma centena.
A rede britânica BBC afirma que, além da matança, por volta de quinze mulheres foram sequestradas pelos atacantes. Os agricultores “foram atacados porque na sexta-feira desarmaram e prenderam um pistoleiro do Boko Haram que os estava incomodando”, disse Ahmed Satomi, membro do parlamento local, ao jornal Premium Times e citado também pela BBC.
Zulum pediu ao Governo federal que aumente a presença de forças de segurança para proteger os agricultores da região. “Por um lado, [os camponeses] ficam em casa, podem morrer de fome e de inanição; por outro, vão às suas plantações e correm o risco de ser assassinados pelos insurgentes”, lamentou. Os preços dos alimentos na Nigéria aumentaram drasticamente durante o último ano, impulsionados por inundações, fechamentos de fronteiras e insegurança em algumas áreas produtoras de alimentos.
“Mortes sem sentido”
O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, condenou o ataque. “O país inteiro foi ferido por essas mortes sem sentido”, disse.
O ataque ocorreu em meio a eleições locais realizadas com atraso no estado de Borno. As votações foram repetidamente adiadas por causa de um aumento nos ataques do Boko Haram e de uma facção dissidente rival, a milícia «Estado Islâmico Província África Ocidental».
Os dois grupos foram acusados de aumentar os ataques a agricultores, pescadores e suas famílias, a quem acusam de espionar para o Exército e para as milícias pró-governo.
Pelo menos 2,4 milhões de pessoas estão refugiadas por causa da violência de grupos armados no nordeste da Nigéria e em países adjacentes, de acordo com a Agência de Refugiados da ONU. O governo federal da Nigéria é acusado de ser inoperante e incapaz de fazer face às investidas do Boko Haram.