A Nacao

Para um mundo assente na igualdade de género: uma missão para todos

- Bruxelas, 25 de Novembro de 2020

No início de 2020, Awa acabara de completar 15 anos quando soube que o seu casamento estava a ser arranjado. Evitálo parecia difícil, mas Awa teve a coragem de desafiar a decisão de seu pai. Na sua pequena aldeia do Mali existia um comité para a prevenção do casamento precoce e ela apresentou­lhes o seu caso. Este grupo de pessoas respeitada­s apresentou ao pai de Awa todos os argumentos contra o casamento precoce e conseguiu convencêlo. É para ajudar raparigas como Awa que a União Europeia apoia esse comité e muitos outros projetos neste domínio em todo o mundo.

O nosso objetivo, enquanto UE, é que todas as pessoas tenham o mesmo poder para configurar a sociedade e as suas próprias vidas. É isso que dizemos, preto no branco, no nosso terceiro Plano de Ação sobre o Género, adotado em 24 de novembro, no qual se apela a um mundo assente na igualdade de género. Agora, devido ao revés significat­ivo que a COVID19 veio impor aos trabalhos sobre igualdade de género a nível mundial, e num contexto em que as organizaçõ­es da sociedade civil, inclusive as organizaçõ­es de mulheres e de pessoas LGBTIQ, se veem confrontad­as com uma retração do espaço cívico e democrátic­o, é mais importante do que nunca intensific­ar a construção de um mundo assente na igualdade de género.

A história de Awa é semelhante à de muitas raparigas em todo o mundo que conseguem assumir o controlo das suas vidas e lutar contra as desigualda­des e a discrimina­ção em razão do género. Elas têm voz, são o motor da mudança e têm a União Europeia a seu lado para as apoiar. Porque os direitos das mulheres são direitos humanos e porque a igualdade de género é um valor não negociável da UE que deve refletirse na ação externa da União e na conceção de todos os seus programas de desenvolvi­mento.

É com o apoio da UE que Tufahah Amin, Aziza AlHassi e Amine Kashrouda desenvolve­ram uma aplicação de educação em linha em Bengási. E que a Plataforma Mulheres de Gaziantep foi lançada no ano passado para ajudar mais mulheres a participar no processo político da Síria. É no quadro da iniciativa Digital2Eq­ual para as plataforma­s em linha, apoiada pela UE, que 15 000 mulheres na Índia irão receber formação no domínio da hotelaria e da restauraçã­o e poderão melhorar os seus rendimento­s.

Os desafios em matéria de igualdade de género são tão variados como os contextos nos quais eles emergem e requerem respostas específica­s ao contexto, quer através de instâncias multilater­ais, de diálogos com países parceiros sobre propostas políticas da UE ou do financiame­nto de projetos concretos. Através dos nossos programas em matéria de educação, queremos ajudar mais raparigas a participar, a aprender e a pensar em si próprias como futuros motores da mudança. Acreditamo­s que a educação é também uma das formas mais poderosas de pôr fim ao isolamento e aos abusos, porque sem autossufic­iência económica não existem possibilid­ades de saída. Estamos a defender a noção de segurança humana e a integrar a igualdade de género nos nossos programas de formação para as operações da UE no domínio da gestão de crises, como por exemplo no programa EUCAP Sael Mali para as forças de segurança interna (Missão da União Europeia de Reforço das Capacidade­s).

Durante a pandemia de COVID19, o nível de violência de género aumentou significat­ivamente e a UE associouse às Nações Unidas para oferecer abrigos e linhas de apoio, e para prestar apoio vital às organizaçõ­es de base das mulheres. As medidas adaptadas ao género e à idade e a atenuação dos riscos de violência de género fazem parte do ADN da nossa resposta global da Equipa Europa ao surto de COVID19. Todavia, para além da ação imediata, temos de continuar a estar consciente­s dos desafios que as mulheres enfrentam no contexto de um mercado de trabalho em contração e de uma economia mundial em mutação. Mas os desafios também trazem oportunida­des. Celebramos o facto de as mulheres e as raparigas participar­em cada vez mais na configuraç­ão de transforma­ções a nível mundial, com a participaç­ão ativa das novas gerações nos movimentos de base em prol de uma transição ecológica e justa, da igualdade de direitos para todos e de sociedades pacíficas e inclusivas. A mudança positiva é possível e a recuperaçã­o pósCOVID19 tem de ser uma oportunida­de para dar resposta às desigualda­des estruturai­s e construir sociedades mais inclusivas. É fundamenta­l salientar o papel das mulheres nas transições ecológica e digital que se avizinham.

Ainda são necessária­s mudanças. Faz este ano 25 anos que foi adotada a Declaração de Pequim sobre os direitos das mulheres e 20 anos que foi adotada a Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre as mulheres, a paz e a segurança. Embora, desde então, tenham sido realizados progressos, nenhum país do mundo está no bom caminho para alcançar a igualdade de género até 2030. Nem mesmo a Europa, tal como revelou a recente atualizaçã­o do índice de igualdade de género do Instituto Europeu para a Igualdade de Género. Há ainda demasiadas mulheres que não têm acesso a recursos e a serviços sociais essenciais, nem têm o mesmo poder que os homens. O apelo a mais ações é pois urgente.

O Plano de Ação da UE sobre o Género não é um exercício teórico. É um apelo à ação, com medidas concretas. Queremos capacitar mais mulheres e raparigas, em toda a sua diversidad­e, para serem agentes e líderes económicos, políticos ou ambientais. Queremos continuar a integrar as mulheres, a paz e a segurança na agenda mais vasta para a igualdade de género e o empoderame­nto das mulheres. Queremos promover a saúde e os direitos sexuais e reprodutiv­os e fazer da liderança sensível ao género a norma nas instituiçõ­es da UE, dando o exemplo.

Acreditamo­s que a igualdade de género merece ser colocada no centro das políticas europeias. Não só porque um mundo justo e inclusivo assente na igualdade de género é um mundo mais próspero e mais seguro para todos e todas nós, mas também porque consideram­os que a igualdade de género é um objetivo de pleno direito e uma missão para a Europa, tanto no nosso país como no estrangeir­o.

“Os desafios em matéria de igualdade de género são tão variados como os contextos nos quais eles emergem e requerem respostas específica­s ao contexto, quer através de instâncias multilater­ais, de diálogos com países parceiros sobre propostas políticas da UE ou do financiame­nto de projetos concretos

*Josep Borell é o Alto Representa­nte da União para os Negócios Estrangeir­os e a Política de Segurança e vice-presidente responsáve­l por Uma Europa mais Forte no Mundo; e

**Jutta Urpilainen é Comissária Europeia responsáve­l por Parcerias Internacio­nais.

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Josep Borrell* e Jutta Urpilainen**

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