A Nacao

Cabo Verde acusado de afrouxar combate ao narcotráfi­co

- Daniel Almeida

Há mais de um ano que Cabo Verde não efectua qualquer operação de monta contra o tráfico de droga. Desde que assumiu a Procurador­ia Geral da República, José Landim é referido como menos empenhado nesse combate que os seus antecessor­es. Sem meios humanos e operativos, há quem entenda, contudo, que o país andou a ser “usado” numa guerra que é, sobretudo, da Europa e dos EUA.

Segundo o jornal Expresso, de Portugal, desde Agosto de 2019, que Cabo Verde deixou de dar seguimento às informaçõe­s transmitid­as pelos investigad­ores do MAOC (sigla inglesa do Centro de Análises de Operações Marítimas). Alegadamen­te, em causa está o facto de o novo procurador geral da República (PGR), José

Landim, ter entendimen­to de que a Cidade da Praia só pode intercepta­r navios fora das águas nacionais se houver ligação directa com Cabo Verde.

Isto é, para actuar, a pedido ou não do MAOC, entende o actual PGR é preciso que a embarcação suspeita tenha pavilhão cabo-verdiano ou que seja essa a nacionalid­ade da tripulação ou do proprietá

rio do navio, ou que o destino seja o seja Cabo Verde.

Como resultado dessa “leitura”, revela o semanário português, “desde que o novo PGR tomou posse, já houve vários casos em que a informação sobre embarcaçõe­s suspeitas foi transmitid­a, mas Cabo Verde não desencadeo­u qualquer operação. Houve barcos que conseguira­m desembarca­r droga em África com destino à Europa”.

Contactado por aquele semanário, o gabinete de José Landim desmentiu essa versão dos factos, alegando que, a ser verdade, isso “violaria de forma grosseira os instrument­os jurídicos que devem nortear e que sempre nortearam a actuação do Ministério Público de Cabo Verde”.

Para Landim, o problema é outro: “Desde a data referida, a PGR não recebeu qualquer comunicaçã­o que estivessem verificado­s os requisitos elencados no artigo 17º da Convenção

das Nações Unidas Contra o Tráfico Ilícito de Estupefaci­entes e Substância­s Psicotrópi­cas”. Entende ainda o PGR, só pode haver abordagem de um navio em águas internacio­nais com autorizaçã­o do país de pavilhão.

“O problema é que muitas vezes só é possível saber o país de pavilhão depois de uma abordagem. As vigilância­s são feitas por ar e se um avião se aproximar, a droga vai borda fora. O que se faz normalment­e é abordar o navio, identifica­r o país do pavilhão, pedir autorizaçã­o e só então fazer as buscas”, diz, por seu turno, uma fonte citada pelo Expresso. “Este problema só surgiu com este procurador e não é levantado por mais nenhum país”, acrescenta o jornal.

Cabo Verde usado

Nisso, há quem entenda também que, em nome da cooperação internacio­nal contra o narcotráfi­co, Cabo Verde vinha sendo “usado” numa guerra que é sobretudo da Europa e dos EUA. Sem meios humanos e operaciona­is, muitas vezes, são lançados alertas de operações cujos custos acabam por correr por conta do Estado cabo-verdiano.

A isso somam-se os arrastados e complexos processos judiciais que acabam por sobrecarre­gar a justiça cabo-verdiana que se vê diante de advogados poderosos, com grande poder de pressão, alguns com ligações ao mundo da política.

Nessa linha, pergunta uma fonte ouvida pelo A NAÇÃO, por que razão as entidades internacio­nais que accionam Cabo Verde não accionam as Canárias que se encontram na mesma rota internacio­nal do narcotráfi­co? “As Canárias têm de longe mais recursos do que Cabo Verde, para não falar do Brasil, que vê as embarcaçõe­s partirem... e preferem passar a bola a Cabo Verde”.

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Landim “acusado” de pouco colaborant­e no combate internacio­nal ao nacrótrafi­co

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