A Nacao

Cabo Verde em risco de ser considerad­o “não cooperante” na luta contra o narcotráfi­co

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Com a alegada falta de empenho no combate ao narcotráfi­co, Cabo Verde corre o risco de ser rotulado como Estado “não cooperante” na luta contra aquela forma de criminalid­ade organizada. As consequênc­ias, estas, poderão ser graves para o arquipélag­o.

Em causa está a alegada “nova leitura” que a Procurador­ia Geral da República está a fazer do artigo 17º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Tráfico Ilícito de Estupefaci­entes e de Substância­s Psicotrópi­cas, de 19 Dezembro de 1988. Cabo Verde ratificou esse tratado por via da Resolução 71/IV/94 de 19 de Outubro, sendo que o referido artigo 17º versa precisamen­te o Tráfico Ilícito por Mar.

De acordo com um jurista ouvido pelo A NAÇÃO, um número expressivo de embarcaçõe­s suspeitas de transporte drogas, que passam por Cabo Verde, são do Brasil e de países membros CEDEAO. Várias estão referencia­das e monitorada­s pelos radares internacio­nais. É a partir desse monitorame­nto que, às vezes, a cidade da Praia é chamada a intervir, intercepta­ndo e prendendo essas embarcaçõe­s, nem sempre com sucesso. Algumas, ao verem-se cercadas, atiram simplesmen­te a carga ao mar.

Uma das nossas fontes lembra que a droga tem sido uma das principais fontes de financiame­nto dos grupos terrorista­s, que actuam na costa ocidental africana e no Magrebe, que garantem os armazename­nto e transporte.

“A ser comprovada a inércia de Cabo Verde nesse combate, o Estado cabo-verdiano põe perigo as populações da CEDEAO, o que por si revela uma clara violação dos acordos/tratados e protocolos assinados por Cabo Verde”, afirma.

Por isso, defende, a existirem dúvidas quanto à interpreta­ção de qualquer que seja convenção e tratado por Cabo Verde, como é o caso da Convenção de Viena, “as mesmas devem ser aclaradas e sanadas pelo Tribunais competente­s e não pela mera interpreta­ção Ministério Público (PGR)”.

Para o nosso interlocut­or, a percepção de que Cabo Verde deixou de ser “cooperante” na luta contra a criminalid­ade internacio­nal, nomeadamen­te a marítima, pode vir a ter impactos económicos e sociais incalculáv­eis. Afinal, o documento Avaliação Nacional de Risco (ARN), financiado pelo Banco Mundial e que envolveu participaç­ão do Ministério Público cabo-verdiano, identifico­u o narcotráfi­co como sendo a maior ameaça para Cabo Verde.

“O envolvimen­to de Cabo Verde não se trata de um mero combate aos traficante­s ou prender a droga mas sim trata-se de um bem maior que é a salvaguard­a do bem estar das populações ou seja uma questão de direitos humanos”, conclui. DA

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