“Queremos deixar uma Associação capaz de participar na construção ‘des Mundu Nobu’”
Eleita em Outubro e empossada nos finais de Novembro, num processo conturbado, polémico e que promete, ainda, fazer corer muita tinta e troca de argumentos, a novel presidente da Cinquentenária ACV (Associação Caboverdeana), baseada em Duque de Palmela, Lisboa (Portugal), Filomena Lubrano Vicente, evita “debates” na praça pública, preferindo, antes, relembrar ao que veio. “Queremos deixar uma Associação capaz de participar na construção ‘des Mundu Nobu’”, reitera
Lubrano Vicente escusa comentar “considerações postas a circular, no intuito de confundir a opinião pública e vindas de pessoas bem localizadas”.
Mesmo assim - sem nunca nomear José Luís Hopffer Almada -, Filomena Vicente vai dizendo que “estas questões deveriam ser dirimidas em lugar próprio, ou seja: nos Tribunais, onde cada um apresentava os seus argumentos e assumia as suas responsabilidades”.
E avalia: “Tudo o que está a ser propalado em praça pública, tem um único objetivo: arranhar a reputação da ACV”.
Vicente garante cumpriu todo o roteiro eleitoral, “no mais estrito rigor estatutário e ganhámos” o pleito do passado dia 24 de Outubro.
“Apresentámos a nossa candidatura dentro do prazo, conforme os Estatutos da ACV. O presidente da Mesa da Assembleia-Geral e da Comissão Eleitoral, aprovou três das listas candidatas, uma das quais se retirou do escrutínio eleitoral, tendo-se mantido na corrida às eleições, as lista B e a C”, conta ao A NAÇÃO, assegurando que, no dia da Assembleia-Geral Electiva, “os associados compareceram em elevado número, facto que há muitos anos não se verificava” em pleitos para os Órgãos Sociais da ACV.
Ainda ela, após a contagem e três recontagens de votos, publi
“Maledicência”
Garantindo não fazer “más-ausências, nem ser dada à maledicência”, Vicente remarca que, nestes dois últimos anos, após à demissão do presidente eleito, Filipe Nascimento, no último trimestre de 2019, por motivos políticos que o obrigaram a regressar a São Tomé e Príncipe – onde preside a Região Autónoma do Príncipe -, as relações deterioram e azedaram-se na ACV.
“Com Filipe Nascimento, tivemos uma relação de amizade, cordialidade e respeito entre duas pessoas de gerações diferentes e pudemos trabalhar bem, apesar das diferenças de alguns pontos de vista”, conta.
Com a saída do “presidente eleito”, não foi possível manter a união e a dinâmica então criada. “A apatia instalou-se. A Direção interina não conseguiu criar estruturas capazes de dinamizar a ACV, no sentido de fazer face aos novos desafios, especialmente, àqueles agravados pela Pandemia de COVID-19”, descreve.
Os associados – de acordo com Filomena Vicente - foram-se afastando do convívio e dos eventos da ACV, tendo como sócios, à data das últimas, eleições, “só cerca de 30 associados efectivos (com as quotas em dia), num universo de quase mil e 500 registados.
No entendimento de Vicente, as listas-candidatas “fizeram um árduo trabalho”, para angariar novos sócios e convencer os antigos a voltarem e a votarem.
“É, por isso, que apelamos a todos os associados e a todos aqueles que já foram, assim como, aos amigos de Cabo Verde, sejam eles cabo-verdianos, portugueses ou de outros países (Artº 12º dos Estatutos), que voltem, que nos ajudem a dinamizar, a modernizar e a reerguer, de modo a que consigamos devolver a ACV aos associados e amigos”, clama, convidando aos jovens - cabo-verdianos, portugueses e/ou de qualquer outra nacionalidade -, que “venham conhecer a Língua, a Cultura e o modo de vida cabo-verdianos”.
Constrangimentos
O maior constrangimento vivido pela ACV, foi o “não passar de Pastas” pela Direção-cessante à Direção eleita, “norma instituída e garante de boas-maneiras e respeito”.
E acrescenta: “Isso está a dificultar sobremaneira o trabalho que temos em mãos. Mas isso não nos faz desistir. Pelo contrário: já começamos, com os elementos que temos, a fazer um levantamento de todos os assuntos relativos à Gerência da ACV, ou seja: a arrumar a casa”.
Outro constrangimento “é o estado de desorganização do vasto espólio histórico e documental”, acumulados ao longo dos 50 anos de vida da Associação.
Vicente não considera que a ACV “está dividida”, mas sim, “que perdeu a sua capacidade de convergência e inter-acção com a comunidade e com seus associados”.
E ilustra: “A ACV ficou apática perante os desafios que então se impunham, e não conseguiu acompanhar as alterações exigidas, por forma a colmatar maiores danos” admitindo, entretanto, que a Pandemia só veio acentuar a situação e mostrar a realidade.
Propósitos
A aposta de Filomena Vicente é cumprir e executar o seu Programa Eleitoral.
“Trabalharemos para ter uma ACV aberta à comunidade cabo-verdiana, portuguesa e a todas as outras comunidades migrantes ,residentes em Portugal e que procuram os nossos serviços”, reafirma, acrescentando a preocupação de promover a Educação e a Igualdade de Género.
A valorização do papel da Mulher na sua comunidade, a capacitação para o mercado de trabalho e o oferecimento aos associados e amigos de “um espaço acolhedor, com um ambiente cheio de morabeza” figura, também no rol das preocupações de Vicente.
Filomena Vicente tem, ainda, na sua Plataforma, a criação de uma Biblioteca de autores cabo-verdianos e de um Centro de Documentação, onde os estudantes universitários, investigadores e estudiosos possam aceder ao vasto arquivo, acumulado ao longo dos mais de 50 anos de existência da ACV.
“Queremos deixar, trabalho feito, não só até ao termo do nosso mandato, como deixar à Direcção seguinte, projectos elaborados, aos quais queiram dar continuidade. No essencial, queremos deixar uma Associação capaz de participar na construção ‘des Mundu Nobu’”, remata a novel presidente da ACV.