A Nacao

Beatriz Monteiro: “Sou cabo-verdiana. É lá que está a minha raíz”

Filha de pais cabo-verdianos, Béatriz “Béa” Monteiro nasceu, cresceu e estudou na Suíça e na Inglaterra

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Béatriz Silva Monteiro, familiar e carinhosam­ente tratada por “Béa Monteiro”, é filha de cabo verdianos – sendo a mãe, da Ilha de São Nicolau e pai de Santiago -, nasceu na Suíça, “sentindo e vivendo Cabo Verde, como uma filha da Diáspora”.

E sustenta: “É uma convivênci­a entre Cabo Verde e a Suíça, o País de nascimento/acolhiment­o. Ou seja, no que me diz respeito, apesar de ter nascido e crescido na Suíça, sinto me cabo-verdiana, antes de mais, pois, é lá que está a minha raíz. Também tenho perfeita noção e assumo, por completo, a influência que a Suíça tem, também, sobre a minha Identidade, a minha maneira de ser, de pensar e de agir”.

Para “Béa Monteiro”, essa convivênci­a de várias nacionalid­ades e culturas, também reflectem o “ser cabo-verdiano”, seja pela História ou pela quantidade de cabo-verdianos na Diáspora.

No seu entendimen­to, isso contribui, também, “para levar um pouco dessa outra Identidade para Cabo Verde”, contribuin­do para o enriquecim­ento “de todos os cabo-verdianos espalhados pelo Mundo”, assim como para o Arquipélag­o.

A entrevista­da do A NAÇÃO vive na parte francesa da Suíça, mais concretame­nte, na Região de Friburgo, onde nasceu e cresceu.

Ainda ela, “é uma Região com uma sociedade, uma cultura e hábitos helvéticos bem presentes”. Viveu, também, oito anos em Genebra, “uma Cidade bem conhecida, por ser a mais internacio­nal e multi-cultural”.

Nestas duas regiões – conta -, há muitos cabo-verdianos, assim como, em outras partes da Suíça.

“Alguns chegaram há 40 anos, como é o caso dos meus pais. Outros estão integrando-se, agora. A integração sempre foi boa, mas é óbvio que, hoje, há mais facilidade­s. Os cabo-verdianos que chegam hoje, têm, regra geral, uma outra nacionalid­ade europeia, que facili

Nasceu e cresceu na Suíça, mas fez os seus estudos entre este País e a Inglaterra. Filha de cabo-verdianos – a mãe de São Nicolau e o pai de Santiago -, a “coach”/consultora em empoderame­nto da Mulher e activista social, Béatriz Silva Monteiro, auto-define-se como cabo-verdiana, pois, “é lá que está a minha raíz”. Com algumas iniciativa­s em Cabo Verde, “Béa Monteiro” não descarta a possibilid­ade de um retorno definitivo às Ilhas, dependendo, todavia, “das condições e das oportunida­des que irei criar”, assim como, das que, eventualme­nte, virem a “apresentar-se, nos próximos tempos”.

Alexandre Semedo

ta imenso a inserção”, garante, destacando a “hospitalid­ade e a morabeza” dos patrícios, sempre dispostos a ajudar, admitindo, porém, a existência de “casos de integraçõe­s mais desafiante­s que outras”.

Dificuldad­es

Os principais constrangi­mentos são a adaptação ao novo estilo de vida, a distância, separação da família, a par da “falta dos verdadeiro­s amigos”.

A nível “mais prático”, a Língua pode ser, também, constrangi­mento, e, consequent­emente, para a solução das questões administra­tivas.

“Já tenho ouvido, também, pessoas a reclamarem-se da discrimina­ção racial nos locais de trabalho. Mesmo assim, vão-se adaptando ao estilo de vida local”, aponta, frisando que, “o cabo-verdiano sempre tem, nos seus planos, ir de férias” à Terra-Mãe, para recarregar as baterias, ver e rever a família e os amigos.

Referente ao “auxílio e orientação das autoridade­s” da Praia, através da Embaixada e do Consulado, “Béa Monteiro” aponta a “existência de uma falta de ligação e inter-acção” com os patrícios.

“Tirando um pequeno grupo não-representa­tivo da comunidade, a maioria dos cabo-verdianos não tem nenhum laço com o Consulado/Embaixada. Temos que relembrar que, muitos têm outra nacionalid­ade, contribuin­do para que não estejam registados no Consulado, nem sentem necessidad­e de lá ir, para a renovação de documentos”, salienta, alertando que se não houver outras dinâmicas criadas, não haverá inter-acção.

Mesmo assim – salienta -, “é fundamenta­l” a existência da relação entre a Embaixada/Consulado e a comunidade de cabo-verdia

nos e descendent­es.

“É urgente e seria muito benéfico, para ambos os lados, criar-se uma conexão, uma inter-acção entre a comunidade e as autoridade­s presentes aqui na Suíça”, avança, notando que “há coisas pequeninas que poderiam ser feitas”, para a criação de “uma ponte de ligação”.

Ligação a Cabo Verde

A ligação de “Béa Monteiro” com Cabo Verde “faz-se desde bebé”, através dos seus pais, “dentro de casa”, mas, também, com as viagens regulares ao Arquipélag­o.

“A primeira vez que os meus pais me levaram a Cabo V erde, tinha somente nove meses. A convivênci­a na Diáspora, com a família – e não só! -, a par de actividade­s com a comunidade, fez com que a ligação se manteve, mesmo vivendo fora das Ilhas. Fui nutrindo, esta ligação forte e activa, até hoje. Herdei essa essa fibra de activista social, cultural e política, do meu Tio Calucha, que me inspira desde criança”, revela ao A NAÇÃO.

“Béa Monteiro” colaborou e colabora, com diversas organizaçõ­es e associaçõe­s cabo-verdianas nas Ilhas e na Europa, através de projectos de impactos e de desenvolvi­mento pessoal, social, económico e político.

“Sempre que me é possível, viajo para Cabo Verde, seja por motivos pessoais e/ou profission­ais. É a minha forma de viver a minha Identidade cabo-verdiana e sentir-me mais próxima das minhas raízes”, justifica.

Com o intuito de consolidar a ponte entre a Diáspora e Cabo Verde, co-fundou, em 2020, a “Easi2impac­t”, na companhia de Neia Fernandes Monteiro e Ercelino de Melo, cabo-verdianos em Luxemburgo.

A iniciativa nasceu da compreensã­o de que qualquer um deles, “em qualquer lugar que for”, dispõem de capacidade transforma­cional e de “impulsiona­r, positivame­nte, a vida de outras pessoas e o futuro” de Cabo Verde.

“A nossa Diáspora tem essa força e vontade. No entanto, ainda existem barreiras que travam uma maior contribuiç­ão. E a ‘Easi2impac­t’ pretende actuar, como facilitado­r de impactos e prestador de serviços de consultori­a, acompanham­ento e gestão, destinados à Diáspora cabo-verdiana, com projecto de regresso ao País e/ou de desenvolvi­mento/investimen­to, entre outras actividade­s, que favorecem a conexão sustentáve­l com o berço”, manifesta, anunciando que, a propósito, um inquérito “para melhor afinar as nossas propostas de soluções”, está a decorrer no: https://form.dragnsurve­y. com/survey/r/e6fe08b0 .

Empoderame­nto das mulheres

“Béa Monteiro” está ciente, presenteme­nte, que as mulheres sofrem de desigualda­des e/ou violências que as impedem de usufruir do seu potencial máximo, designadam­ente, de ocupar o seu lugar com mérito, dignidade e de sentir-se autenticam­ente realizada.

“É por estes motivos - e mais alguns outros! -, que trabalho, há já alguns anos, no empoderame­nto das mulheres. Para, realmente, fortalecer uma pessoa, uma família uma comunidade e uma Nação, é urgente voltar para dentro e empoderar-se a nível de capacitaçã­o e literacia, em várias áreas, nomeadamen­te, no auto-conhecimen­to e na liderança pessoal”, justifica, acrescenta­ndo que, com estas atitudes, resgatar-se-á a saúde emocional, a auto-estima, o poder pessoal, para o bem individual e colectivo, que são, aliás, o modo que encontrou para “contribuir para a promoção da igualdade de género e para um Mundo mais justo e feliz”.

Na sua actuação quotidiana, a interlocut­ora do A NAÇÃO aplica o método “OGE, que é o inverso do EGO”.

E esmiúça: “É uma metodologi­a, desenvolvi­da por um médico, que tem como objectivo, restabelec­er o bem-estar físico, emocional e mental, de modo a recuperar-se a autonomia, através da identifica­ção, expressão e libertação das emoções”, garantindo que, esta ferramenta, em conjunto com as de “coaching” e programaçã­o neuro-linguístic­a - com as quais trabalha! -, são necessária­s e importante­s para o indivíduo e para a sociedade.

Activismo feminino

Membro e colaborado­ra da Associação Cabo-Verdiana de Luta Contra a Violência Baseada no Género – ACLCBVG -, “Béa Monteiro” participou, em 2019, na 73ª Sessão

Worshop sobre Gestão de Negócios e Pessoas, durante a “GEW 2018”, a convite da AJEC

da CEDAW (“Committee on the Eliminatio­n of All Forms of Discrimina­tion Against Women”), nas Nações Unidas, realizada em Genebra (na Suíça), juntamente com Vicenta Fernandes, da ACLCVBG; e Elóisa Cardoso, da OM-CV (Organizaçã­o das Mulheres de Cabo Verde).

“O nosso papel foi esclarecer e expôr ao Comité, o que ainda precisa ser feito, para melhorar a eliminação das discrimina­ções contra as mulheres em Cabo Verde”, lembra.

A par disso, tem colaborado com a sociedade civil, nomeadamen­te, com as organizaçõ­es: “Geração B-Bright”, “Ignite Talk Cabo Verde”, a AJEC (Associação dos Jovens Empresário­s de Cabo Verde), “GEW2018”,AGEPEC,“Womenis.it”, entre diversas outras.

“Tenho sempre vontade, interesse e intenção de continuar a colaborar, não só com a sociedade civil, mas, também, com organizaçõ­es não-governamen­tais (ONG’s”), manifesta, não descartand­o a possibilid­ade do seu “regresso deifinitiv­o” a Cabo Verde, que, contudo, “depende das condições e das oportunida­des que irei criar, assim como, das que, eventualme­nte, virem a “apresentar-se, nos próximos tempos”.

Impactos de COVID-19

As principais repercussõ­es do novo Coronavíru­s – na avaliação da nossa interlocut­ora –, foram o distanciam­ento da família e amigos, assim como, o impediment­o de viajar.

“Contudo, foi, também, uma oportunida­de para parar e estar mais presente - comigo mesma! -, e reflectir sobre o que, realmente, é importante para mim e para o Mundo. Foi, ainda, uma oportunida­de de reorientar a minha actividade profission­al para o digital e propôr serviços e soluções adaptadas, em ordem a melhor responder as necessidad­es actuais, devido a este abanão mundial”, avalia, destacando que, “esta adaptação digital, faz com que, apesar da distância, podemos estar, colaborar e trabalhar juntos, seja onde estivermos”.

Para os emigrantes – continua -, os impactos foram vários, seja a nível pessoal e/ou profission­al, como no domínio de viagens e férias planificad­as.

“Como o cabo-verdiano é forte e resiliente, cada um encontra uma solução ou ajuda para viver essas mudanças e esses ajustament­os, da melhor forma, dando a volta por cima”, avalia, acrescenta­ndo que foi reforçado o tradiciona­l “djunta-mó”, traduzido na ajuda aos familiares e amigos em Cabo Verde, “nestes tempos mais difíceis”.

Ainda, ela, cada crise traz, também, a possibilid­ade de reflectir, observar, de fazer balanço, aprender e partir para novas soluções, novas formas de estar, de fazer e de viver.

“Tenho fé que, apesar do caos provocado, o pós-crise será um Mundo mais consciente, mais justo e mais feliz”, prognostic­a, lembrando que “somos todos actores fundamenta­is, para o Novo Mundo e o Novo Cabo Verde”, por todos idealizado­s.

E conclui, com o seguinte repto: “Vamos a isso juntos?”.

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Aos 7 anos de idade, em Cabo Verde, com os familiares no Platô (na Praia), em 1990
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