Teresa Lopes da Silva: Cala-se a voz de “Promessa” cumprida
Teresa Lopes da Silva, cantora, figura marcante das músicas tradicionais cabo-verdianas e viúva do escritor Baltasar Lopes da Silva, faleceu no passado dia 29 de Dezembro, no Mindelo, aos 99 anos de idade. Um ano em que o país perdeu grandes figuras da sua cultura e intelectualidade.
Teresa Lopes da Silva é autora do disco “Promessa”, que retrata a vivência e recordações do seu tempo de infância, muitas das quais há muito perdidas da nossa memória colectiva. O álbum foi gravado em 1993, em Lisboa, Portugal. Segundo recordou no programa “Código de Vida”, de Novembro de 2017, o disco resultou de uma promessa feita ao marido, Baltasar Lopes da Silva, e um forma de gravar e preservar cantigas da sua infância, para não caírem no esquecimento.
Dona Tereza, como era conhecida, fica assim ligada para sempre à cultura cabo-verdiana, especialmente das músicas tradicionais de Santo Antão, sua ilha natal. A artista, que cantava desde criança, dizia que a música havia nascido dentro dela.
“Sinto que a música nasceu no meu corpo, a música é viva dentro de mim”, explicava, em 1992, através do programa “Antena da Mulher”, da Rádio de Cabo Verde.
Tida como uma verdadeira fonte de “sabedoria cultural”, como recorda o músico multi-instrumentista Bau – com quem trabalhou no disco “Promessa” – , Teresa era também “depositária de um valioso acervo de música tradicional que guardou na memória desde menina, quando ouvia a mãe cantarolar, em português, canções de tempos remotos, ou então quando a curiosidade a arrastava para fora de casa e punha-se a observar as festas de casamento, batizado ou cerimónias fúnebres”.
Teresa Lopes da Silva, que também tocava violão, era viúva do professor e escritor Baltasar Lopes da Silva, com quem esteve casada por mais de 50 anos. Natural da Ribeira das Patas, Santo Antão, a cantora residia no Alto Mira Mar, São Vicente, onde faleceu aos 99 anos.
“Nha Kretxeu â nha strela, el ê flor d’ nha lapela. Mudjer bunita ness mundo tem txeu, mas sima nha kretxeu ainda m ka oia”, cantava a falecida, no “Código de Vida”, da RTC, em Novembro de 2017.