Máquinas partidárias e dinheiro engolem independentes
Com 12 candidaturas, a segunda maior participação na história do país, os Independentes não ajudaram a amenizar a abstenção nas eleições autárquicas de 25 de Outubro. Na hora da campanha, as máquinas partidárias e o dinheiro engoliram, uma vez mais, quem tem pouco suporte para chegar ao eleitor, de modo a reverter o jogo, por si, desigual e por isso de cartas marcadas.
Obipartidarismo enraizado no país condiciona a actuação dos independentes. Conforme afirma o analista Redy Lima, é uma “minoria” que vota com consciência política e não partidária. A “maioria” faz da política “clube de futebol”. A falta de consciência política impede que uma parte importante dos eleitores percebam a disputa política “muito além” dos partidos políticos.
Redy Lima considera que os independentes não tiveram bons resultados porque não se uniram. “No dia que houver unidade entre esses grupos, vai haver, de facto, uma unidade que seja capaz de identificar com os que não votam, aí vão votar”.
Por sua vez, o analista de comportamento eleitoral, Graciano Nascimento, reconhece que a força das máquinas partidárias ou elimina ou enfraquece os independentes, a partir do momento que elas entram em campanha.
Questão financeira
A questão financeira é aqui primordial, segundo o nosso entrevistado, pois, como é sabido, uma campanha eleitoral custa muito dinheiro.
“As eleições no país estão muito marcadas pela capacidade de orçamento das candidaturas, o que torna difícil uma candidatura independente ser tão forte do ponto de vista financeiro, como são as candidaturas dos partidos políticos”.
Por outro lado, com uma leitura geral, Nascimento diz ser raro encontrar nos independentes uma figura de destaque, com personalidade politicamente vincada, capaz de contrariar a lógica das candidaturas partidárias.
Rejeição
Os fracos resultados poderão ainda ser explicados, segundo aquele especialista, por uma falta de confiança dos eleitores e rejeição dos projetos independentes.
“Se está em jogo político um confronto entre candidaturas independentes e candidaturas partidárias e os resultados são os que já vimos, mostra que há uma rejeição, portanto há uma falta de confiança nas candidaturas independentes e uma escolha clara das candidaturas partidárias”, analisa.
Os líderes dos movimentos independentes tentaram, conforme Graciano Nascimento, conquistar espaços que à partida acharam que estavam livres, mas que os resultados acabaram por mostrar que, afinal, não estavam.
No caso da Praia, o município com mais número de candidaturas (oito, quatro das quais eram independentes), os votos acabaram por se dispersar nos vários “grupos”, totalizando 2117 mil votos.
Equilíbrio de forças
Apesar dos fracos resultados ditados pelos independentes, alguns conseguiram eleger deputados municipais, para a satisfação desses movimentos. Entretanto, Graciano Nascimento considera não ser uma forma de equilibrar forças, não por agora, mas sim de ser o “fiel da balança” em algumas negociações.
Os grupos independentes menos votados nas autárquicas foram o Dja Sta Bom (189), Unidos por Tarrafal (203), Ami e São Domingos (313), Movimento Justiça e Trabalho (385) e o Movimento Independente Tarrafal (421).
Os mais votados foram o Movimento Independente Más Soncent (2357), Santa Catarina Acima de Tudo (1855), Alternativa Ribeira Grande (1719) e Sociedade em Ação para a Liberdade (1032) que, apesar das altas expectativas e de terem tentado aproveitar as fragilidades e o desgaste dos partidos no poder, não atingiram os resultados esperados. Alguns, quando muito, contribuíram para destronar quem há muito estava no poder.