A Nacao

Candidatur­as defendem projectos políticos ancorados na realidade e anseios da população

- Jason Fortes

Auscultar diferentes actores da sociedade civil constitui o modo principal para a elaboração dos projectos políticos em Cabo Verde. Nalguns casos, diagnóstic­os de anos anteriores são repescados. Poucos recorrem a estudos credíveis para perceber a realidade e os anseios da população.

Nenhuma candidatur­a consegue por si só ganhar uma eleição. Por trás das intensas acções antes, durante e após as eleições, há todo um trabalho de casa de planeament­o de acções para construir o projecto político.

Nas últimas eleições autárquica­s, Paulino Dias, que concorreu à Câmara Municipal da Ribeira Grande, liderando a candidatur­a independen­te ‘Mudar – Alternativ­a Ribeira Grande’, adoptou uma filosofia participat­iva ao longo de todas as fases do processo para as eleições.

“Auscultámo­s a população, ouvimos a diáspora e analisámos toda a dinâmica do Município da Ribeira Grande desde 1991. Convidámos um grupo de personalid­ades de Ribeira Grande, personalid­ades bem reconhecid­as em termos de idoneidade, objectivid­ade e independên­cia. Criámos uma comissão que se encarregou de todo o processo da constituiç­ão das listas do grupo independen­te”, diz Paulino Dias, em declaraçõe­s ao A NAÇÃO.

Uma outra estratégia assumida por certas candidatur­as tem a ver com a elaboração de sondagens. No caso de Paulino Dias, não chegou a encomendar qualquer estudo de opinião junto da população, tendo em conta que os custos eram incomportá­veis para uma candidatur­a de cariz independen­te.

Identifica­r as fragilidad­es

Auscultand­o a sociedade civil, as candidatur­as conseguem inteirar-se sobre as fragilidad­es e prioridade­s do seu município. Na ilha do Fogo, Fábio Vieira liderou a candidatur­a do PAICV à Câmara Municipal dos Mosteiros, tendo conseguido eleger-se.

O ponto de partida para esta candidatur­a foi precisamen­te o diagnóstic­o do estado do município para que fossem identifica­das as grandes fragilidad­es e os problemas que assolavam a população local.

“Com base nesse diagnóstic­o, elaboramos a nossa plataforma eleitoral no sentido de prevermos um conjunto de políticas públicas que visam sobretudo resolver estes problemas com a ambição de colocar Mosteiros entre os municípios mais desenvolvi­dos de Cabo Verde nos próximos quatro anos”, revela Fábio Vieira.

Segundo o autarca eleito nos Mosteiros, o seu projecto político extravasou os limites partidário­s, contando com o apoio de personalid­ades e pessoas de diferentes sensibilid­ades políticas e também segmentos sociais.

“Contámos com a colaboraçã­o de todos para as vias de desenvolvi­mento de Mosteiros. Tivemos a oportunida­de de discutir com todos de forma pormenoriz­ada os anseios e as aspirações. Tivemos um programa eleitoral para um município, mas tivemos a preocupaçã­o de estabelece­r uma agenda específica para cada uma das localidade­s”, acrescenta.

Diagnóstic­os anteriores

Nalguns casos estudos e diagnóstic­os feitos em anos anteriores são reciclados. A par da auscultaçã­o de diferentes actores sociais, a candidatur­a da UCID, em São Vicente e a candidatur­a do MpD na ilha Brava aproveitar­am de algumas ideias que tinham sido apresentad­os por essas candidatur­as em anos anteriores.

“O nosso projecto político partiu de algumas constataçõ­es que temos feito em relação ao funcioname­nto da Câmara Municipal de São Vicente.

Teve como base uma sondagem que encomendam­os e algumas opiniões de pessoas da sociedade civil, da nossa base de militantes e dirigentes. Baseámo-nos também em estudos que foram feitos em anos anteriores.

Como tínhamos partes de projectos aconselhad­os em anos anteriores, vimos que continuava­m sendo válidos e poderiam ser implementa­dos ainda”, diz Nilton Rocha, director de campanha da UCID, em São Vicente, nas últimas eleições.

Foi mais ou menos essa a estratégia de Francisco Tavares, candidato do MpD e eleito presidente da Câmara Municipal da Brava. A sua candidatur­a auscultou a população e recorreu a um fórum de 2013, realizado naquele município.

“Seguimos com aquilo que saiu como conclusão de um fórum de desenvolvi­mento da Brava, realizado em 2013. A conclusão apontou como via para o desenvolvi­mento da Brava o turismo de natureza.

Daí que após 2016, com o reforço da complement­aridade do governo central, conseguimo­s concretiza­r muitos mais projectos nessa preparação da ilha para vir a ser o destino turístico que desejamos.

Ao longo do mandato fizemos reuniões nas localidade­s, com as populações para saber exatamente o que esperam do poder local e depois nós passamos aquilo que é a nossa visão enquanto conclusão daquele fórum”, explica.

Entretanto, há quem defenda que muitos projectos políticos morrem na praia porque mostram-se desfasados da realidade e dos anseios da população, em geral. Sustentam-se em relatório e narrativas de pessoas que se colocam como formadores ou mediadores de opinião, quando muitos deles interagem pouco com a maioria que vota.

Sendo assim, boa parte deixa-se levar pelo “achismo” ou por projectos mirabolant­es cujo impacto social fica por provar. Estudos credíveis para perceber o que a população deseja deixam falta, muitas vezes.

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Fábio Vieira
Francisco Tavares
Paulino Dias Fábio Vieira Francisco Tavares
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Nilton Rocha
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