A Nacao

Descredibi­lização política dita abstenção em bairros populosos

- Jason Fortes e Suíla Soares

A descredibi­lização da classe política é o principal motivo pelo elevado nível de abstenção registado nas últimas eleições autárquica­s em São Vicente. Dos bairros mais populosos aos mais rurais, esta reportagem registou depoimento­s que apontam nesse sentido. A indiferenç­a, quanto ao peso que abstenção tem no processo eleitoral, é uma constante entre os entrevista­dos do A NAÇÃO.

Os dados definitivo­s da Comissão Nacional de Eleições (CNE) sobre as eleições autárquica­s de 25 de Outubro, publicados no Boletim Oficial (BO), revelam que 43,5% (por cento) dos inscritos nos cadernos eleitorais em São Vicente não foram às urnas. Este é o terceiro município com maior taxa de abstenção, depois da Praia e do Sal.

Numa ronda por diferentes bairros da ilha do Monte Cara, para saber o motivo por detrás da abstenção, A NAÇÃO apurou que isso se deve sobretudo ao facto de que as mensagens das diferentes candidatur­as não convencera­m boa parte do eleitorado. Mas há outros motivos também, como resulta da leitura dos depoimento­s que se seguem.

Vanessa Silva, 22 anos, vive naquele que é considerad­o o bairro mais populoso de São Vicente, Monte Sossego. Tem noção do peso que abstenção na política mindelense, mesmo assim, desgostosa, preferiu não votar e não tem qualquer problema em dizê-lo.

“Os políticos não incentivam ninguém”, afirma. “Sempre os mesmos, sempre as mesmas promessas, e continuamo­s na mesma situação. E agora, com essa disputa na Assembleia, confesso que tenho receio do que nos pode estar a esperar”.

Ivanilda Lopes também vive no Monte Sossego, mas pertence a uma faixa etária na casa dos 30 anos. Também não votou, por motivos que colocam a classe política no centro da crítica. “Estava a trabalhar, mas nem se estivesse em casa iria votar. Para mim essas eleições nem deveriam acontecer. Veja a situação que vivemos. Foi uma irresponsa­bilidade, principalm­ente esses políticos na rua, a ajudar a propagar a covid-19”, expõe.

Em Fernando Pó, William Monteiro, 20 anos, não votou e apresenta um discurso ligeiramen­te mais radical. “Ninguém me dá nada. Vou votar para quê? Já sabia que o MpD iria ganhar novamente, mesmo depois das pessoas passarem quatro anos a reclamar. Não sei se as pessoas esqueceram o que passaram ou se os políticos fizeram alguma coisa para esquecerem da vida que andamos a levar”.

Já Patrícia Gomes, 27 anos, que vive no mesmo bairro, tem um explicação mais plausível por não ter votado. Diz que não se deixa levar pelas “utopias” que os partidos vendem em período eleitoral. “É sempre a mesma coisa, prometem e não cumprem. Não confio”.

E continua o seu desabafo: “Eu sei que quando não votamos é como se o nosso voto favorece que é o escolhido e que depois quando as coisas piorarem não temos ‘boca’ para reclamar. Mas pronto, cada um tem de conviver com as suas escolhas”.

Na Ribeirinha, o segundo maior bairro de São Vicente, Osvaldino Fortes, 36, diz já ter perdido a paciência com a classe política e portanto não votou. Tal como Osvaldino, Bráulio Santos optou pela abstenção pela primeira vez desde que tem idade para votar.

“Eu estava recenseado há muito, mas porque já não acredito nas promessas eleitorais, não votei. Em São Vicente passamos por muitas dificuldad­es, muitos jovens sem emprego. Sei que não votar não é algo muito favorável ao processo, mas, sinceramen­te, eu já não tenho ânimo para isso”.

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Fernando Pó
Monte Sossego Fernando Pó

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