Professores destacam importância da introdução da temática da Igualdade de Género no ensino
Amarilis Rodrigues - psicóloga, formadora, activista social e professora do Liceu Domingos, (Praia)
“É uma iniciativa louvável que chegou em boa hora”
É uma iniciativa louvável que chegou em boa hora. Para mim é fundamental a integração deste módulo no sistema de ensino em Cabo Verde e gostaria que fosse desde o pré-escolar até ao ensino superior. É certamente um marco histórico para a igualdade de género no país, tendo em conta que com este módulo iremos com certeza minimizar os estereótipos sexistas e do género e a discriminação no que se refere à questão do género na construção social.
Apesar de ser um conteúdo que tem sido abordado transversalmente no ensino, creio que deve ser trabalhado numa disciplina específica. Penso que haverá uma aceitação serena e tranquila por parte da comunidade educativa e com certeza já existe uma sensibilidade nesta matéria porque o género está vinculado à construção social.
Além do mais, o ICIEG tem sido um parceiro incansável da educação na promoção e execução de políticas públicas de igualdade e equidade de género. Acredito que com o envolvimento da família este processo terá sucesso.
Admiro do Rosário - professor na escola secundária Dr. Teixeira de Sousa, S. Filipe (lha do Fogo)
“A desigualdade de género perpetuada na escola pode passar em branco pelo facto de ser silenciosa e implícita”
O género é uma das primeiras categorias sociais que a criança aprende, e essa identidade contribui para a relação que constrói com os outros. A identidade de género é construída a partir de modelos de normalidade que são adoptados por grupos sociais.
Os espaços, os objectos e as actividades são divididos, separando tradicionalmente o sexo, firmando o hábitos feminino ou masculino. Desta forma, a escola é uma instituição de construção e desenvolvimento de identidades, onde se ditam comportamentos, concepções e atitudes expectáveis por parte dos alunos e das alunas, punindo os considerados desviantes.
A questão da (des)igualdade nas escolas quando, por exemplo, se propõem actividades de educação física diferenciadas para meninos e meninas, traduz a (in)capacidade de meninos e meninas na realização de actividades físicas específicas. A linguagem utilizada na escola reforça a subjugação social que as mulheres historicamente sofreram ao ter o masculino como ponto de referência.
A desigualdade de género perpetuada na escola pode passar em branco pelo facto de ser silenciosa e implícita. As ideologias e comportamentos repassados no ambiente escolar influenciam diretamente na construção da identidade de género das crianças. Para existir equilíbrio entre valores femininos e masculinos, o respeito pela igualdade deverá ter como base o respeito individual.
Portanto, as escolas representam um dos locais de disseminação cultural, um espaço de construção de valores e atitudes e, neste contexto, é de elevada importância na promoção da solidariedade, justiça, respeito, conhecimento e da não (re)produção de estereótipos de género, que condicionam recursos, oportunidades e liberdades de homens e de mulheres.
Joaquina Rodrigues - docente na escola secundária Dr. Teixeira de Sousa, S.Filipe (ilha do Fogo)
“É um meio para erradicar todas as formas de preconceito e desigualdade de gênero”
Considero extraordinariamente importante a introdução da problemática de igualdade de género no programa do Ensino Básico e Secundário porque acredito que é um meio de erradicar todas as formas de preconceito e desigualdade de género e proporcionar um maior equilíbrio entre homens e mulheres.
Os estereótipos transmitidos entre gerações e práticas discriminatórias conduziram mulheres e homens, meninas e rapazes a uma desigualdade de género, atribuindo maior valor às características masculinas, facto que deu origem à desigualdade de género, a partir de padrões normativos, com maior benefícios e oportunidades para rapazes/homens,
Romice Silva - Professora Escola na Secundária António Silva Pinto, Ribeira das Patas, Porto Novo (Santo Antão)
“A igualdade e equidade de género requer um investimento na educação, visando a mudança de mentalidades”
Uma das maiores riquezas do mundo em que vivemos é a sua diversidade. Essa diversidade para que continue a ser riqueza, nunca deve servir para justificar a desigualdade. Por este facto, é necessário que os agentes educativos façam com que haja igualdade de oportunidades nas escolas, para que todos se realizem, enquanto pessoas, enquanto cidadãos.
A educação é um processo de desenvolvimento de aptidões, de atitudes e de outras formas de conduta exigidas pela sociedade que têm importância no processo de socialização e em relação a meninas/mulheres.
A escola tem um papel preponderante na desconstrução desses estereótipos através da ampliação dos conhecimentos que visam a adoção de comportamentos de géneros igualitários.
Cabo Verde, introduziu no programa do EBO um ensino voltado para a igualdade e equidade de género o que representa um ganho para a educação, pois, as nossas crianças aprendem desde cedo a ultrapassarem esses estereótipos de género que afetam e impedem, tanto meninas como meninos, de desenvolverem todo o seu potencial com comportamentos que toleram estas práticas. na construção de género. Também é de realçar que a igualdade e equidade de género requer um investimento na educação, visando a mudança de mentalidades.
Muitas vezes, a família e a escola reforçam as desigualdades de género, pois quando elas não buscam problematizar e discutir essa questão, não educam as crianças de modo a contribuirem com equidade de género nas relações sociais, pelo contrário vêm acentuado as diferenças dos papeis sociais entre homens e mulheres.
Graciano Miranda – Professor na Escola Secundária
Januário Leite, Paul (Santo Antão)
“É importante começar a ensinar desde criança que todos nós temos igualdade de oportunidades”
A integração da temática da igualdade de género no ensino, tanto básico como secundário, é de extrema importancia porque, primeiro, é um tema actual e que faz parte do quotidiano cabo-verdiano e que nos últimos anos tem sido muito debatido.
Depois, numa sociedade onde muitas vezes temos comportamentos que apelidamos de “machistas”, é importante começar a ensinar desde criança, passando pelos adolescentes, que todos nós temos igualdade de oportunidade e participação em todos os domínios da sociedade: político, económico, laboral, pessoal e familiar.