“Temos uma sociedade civil que funciona à deriva das circunstâncias”
Tem sido prática os independentes e pessoas afectas à sociedade civil serem cooptados pelos partidos, quando se destacam nas actividades de cariz social e política. Outros fenómenos, como foi o caso do MAC #114, em 2016, acabam por desaparecer da cena política depois de devidamente explorados pelos partidos políticos.
Para a politóloga Roselma Évora, o fenómeno dos independentes, em si, revela a existência de um certo cansaço do bipartidarismo reinante em Cabo Verde desde 1991.
“A partir de um momento em que as pessoas se apercebem da repetição de práticas, tentam procurar alternativas fora do `establishment`. Por sua vez, os partidos encontram nos independentes uma forma de capitalizar o carisma dos mesmos a seu favor em votos”.
Esta analista alerta, no entanto, para os riscos desse “casamento” nem sempre feliz entre os partidos e os independentes.
“Como nem sempre existe uma identidade ideológica entre as duas partes, poderá, num determinado momento, surgir uma quebra de confiança e uma das partes poderá ficar refém da outra”.
No caso de Cabo Verde, são vários os “independentes” que tendo surgido na sociedade civil acabaram absorvidos e diluídos nos sistemas partidários contra os quais, muitas vezes, os ditos independentes surgiram, em nome da autonomia de pensamento e actuação, etc.
Roselma Évora considera por isso necessário investir na educação cívica, como forma de empoderar a sociedade civil.
“A educação cívica é fundamental, porquanto é a partir daí que se fomenta a autonomia da sociedade civil, para que esta possa funcionar fora da lógica de interesses”, realça esta politóloga.
Infelizmente, como diz, “temos uma sociedade civil que funciona à deriva das circunstâncias” e os partidos também “sabem disso”.