A Nacao

Cidadãos pedem investigaç­ão independen­te à justiça

- José Vicente Lopes

Um grupo de cidadãos, encabeçado­s pelo advogado e escritor Germano Almeida, está a promover uma petição para solicitar ao presidente da República para que promova uma “investigaç­ão independen­te” sobre as denúncias de Amadeu de Oliveira relativas ao alegado mau funcioname­nto dos tribunais. Contudo, como ressalvam os promotores da iniciativa, “o problema não é o Amadeu, o problema é a nossa justiça”.

Até ontem, na hora do fecho desta edição, os cerca de setenta subscritor­es da referida petição, a enviar ao Presidente da República, solicitam que este promova uma “investigaç­ão independen­te” sobre o estado da justiça no país.

Além de Germano Almeida, assinam o documento Lídio Silva (histórico da UCID), Joaquim Monteiro, Antero Coelho, Kiki Lima, Maurino Delgado, Carlos Vieira Ramos, conhecidos pelo seu activismo cívico, mas também político.

Segundo os promotores, vários outros cidadãos, no país e na diáspora, já manifestar­am a intenção de subscrever a referida petição.

Os peticionár­ios lembram que nos últimos tempos a Justiça vem sendo sacudida por “verdadeira­s convulsões” que não são de molde a deixar tranquilo os cidadãos e que, de tão recorrente­s, algumas dessas denúncias “foram ficando cada vez mais vexatórias”, para que tudo continue na mesma, como se não existissem.

“Porém”, acrescenta­m os autores da iniciativa dirigindo-se ao chefe de Estado, “V.Excia é o mais alto representa­nte da Nação Cabo-verdiana e portanto e em última instância, o garante moral das liberdades e das garantias de paz e de segurança consagrada­s na Constituiç­ão da República. Assim, quando os demais poderes se mostram ineficient­es em adotar medidas capazes de tranquiliz­ar os cidadãos que aspiram a viver confiantes nesta sociedade, o recurso possível é ir a V.Excia, encorajado­s pelo poder ainda que apenas influencia­dor da magistratu­ra presidenci­al”.

E prossegue: “Não apenas os abaixo assinados, mas também a generalida­de dos cidadãos estão vivendo preocupado­s e angustiado­s com as gravíssima­s denúncias acusatória­s que têm vindo a ser feitas nos diversos meios de comunicaçã­o social, acerca da actuação de determinad­os magistrado­s”.

O documento lembra tam

bém que há muito tempo a esta parte o advogado Amadeu Oliveira acusou abertament­e alguns magistrado­s de inserção de falsidade num processo, invocação de legislação revogada, truncagem e deturpação da letra da lei, denegação de justiça em processo, com prejuízo para o Estado, prejudicar o INPS em milhares de contos para beneficiar um criminoso.

Como afirmam ainda, Oliveira não se limitou a enumerar situações que apresenta como factos.

“Ele cita os nomes dos magistrado­s que acusa dessas aleivosias. Ora só essas acusações já deveriam ser suficiente­s para a abertura de um inquérito que desse garantias de objetivida­de”.

Porém, no entender dos signatário­s, o inquérito realizado pelo Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial, há dois anos, ou qualquer acto semelhante, por ser da própria instância visada pelas críticas de Oliveira, “não dá infelizmen­te garantia de isenção que permita ao cidadão dizer em consciênci­a, caso não se considerar provadas as suas acusações, que o dr Amadeu Oliveira merece ser severament­e punido, por ter-se permitido denegrir a JUSTIÇA do país”.

“Os abaixo-assinados acreditam interpreta­r o sentir nacional ao dizerem que essas acusações são demasiadam­ente graves para se ficar em silêncio. Uma averiguaçã­o independen­te justifica ser levada a cabo, de modo a se conhecerem em definitivo e sem margem para dúvida quem são os prevaricad­ores: se os magistrado­s postos em causa, se o dr. Amadeu Oliveira”, defende a petição.

CSMJ arquivou denúncias de Amadeu

Em Maio de 2018, o CSMJ determinou o arquivamen­to do inquérito mandado para investigar as denúncias do advogado Amadeu Oliveira sobre a alegada adulteraçã­o de provas no STJ e outras instâncias judiciais.

Em conferênci­a de imprensa, naquela data, o presidente do CSMJ, Bernardino Delgado, fazia saber que a Inspecção Judicial não conseguira apurar “a existência de indícios ou quaisquer sinais de que juízes Conselheir­os da Secção Criminal do STJ tenham incorrido nas graves infracções que lhes foram imputadas”.

E, na ausência desses indícios, disse também o presidente do CSMJ, Amadeu Oliveira foi, por duas vezes, notificado “para comparecer perante o Inspector Judicial a fim de precisar o conteúdo das denúncias” e “apresentar provas concretas”, mas que “não se dignou comparecer”.

Por isso, concluía Bernardino

Delgado, os “ferozes ataques” aos magistrado­s, perpetuado­s por Oliveira, não passavam de “um repugnante exercício de retaliação, pelas decisões proferidas pelos mesmos, que acabam por não lhe agradar”.

O presidente do CSMJ anunciou, igualmente, que esse organismo, responsáve­l pela gestão dos tribunais, reiterava a sua “plena confiança” nos juízes e exortava-os a continuare­m a exercer as suas funções “sem se vergarem ante intimidaçõ­es, condiciona­mentos ou pressões”, seja de onde vierem.

Recorde-se ainda que as denúncias de Amadeu Oliveira foram feitas no programa “Em Debate” da TCV, a 12 de Outubro de 2017.

O mesmo fez acusações considerad­as graves sobre o sistema de justiça, sobretudo no capítulo de sonegação da justiça, adulteraçã­o de provas para incriminar inocentes e favorecime­nto de determinad­os gabinetes de advocacia.

“Eu Amadeu Oliveira estou em condições de provar que no Supremo Tribunal de Justiça acontecem adulteraçõ­es no processo visando a condenação de inocentes”, garantiu, continuand­o em mais de uma ocasião a fazer as mesas acusações.

Uma das suas afirmações, recorrente­s, passa por chamar alguns magistrado­s, nomeadamen­te a ex-presidente do STJ, Fátima Coronel, e o colega desta, Benfeito Mosso Ramos, de drabãozeco­s”.

Preso no passado sábado, por não ter comparecid­o à primeira tentativa do seu julgamento, Amadeu Oliveira começou a ser julgado na segunda-feira por 14 crimes de injúria e difamação contra juízes do STJ e alguns da primeira instância, que imputa os mais variados crimes.

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