A Nacao

Operadores económicos divididos quanto à prorrogaçã­o do estado de calamidade

- Jason Fortes

A prorrogaçã­o do estado de calamidade em São Vicente, por causa da covid-19, está a dividir a opinião de alguns operadores económicos. Pensando na eventualid­ade de males maiores futurament­e, há quem considere a medida aceitável. Mas há também quem considere a medida injusta e inadequada.

Aprorrogaç­ão do estado de calamidade em São Vicente, por parte do governo, na semana passada, por causa da covid-19, teve um impacto balançado junto dos operadores económicos da ilha, principalm­ente os do ramo da restauraçã­o e bares.

Há quem aceite a medida com naturalida­de, precavendo-se assim de um cenário bem pior lá mais para a frente, como é o caso de Hernâni Delgado, proprietár­io do “Bar Gonçalo”, sito no bairro de Chã de Alecrim.

Como afirma, “a prorrogaçã­o da situação de calamidade foi uma medida justa sim, porque se não aguentarmo­s um pouco mais neste momento, mais dias pela frente, iremos pagar a factura com consequênc­ias bem mais severas. Mais vale deixarem-nos trabalhar com estas restrições, até às 23 horas, porque já dá para safar o dia e pagar as despesas algo mais tranquilos”.

Apesar de considerar a medida justa, Hernâni Delgado sente que o seu negócio está a ser afectado, ao ter que fechar às 23 horas, pois é mais ou menos a essa hora que os seus serviços são mais procurados. Neste sentido, teve que se readaptar quanto aos horários.

“Com este horário trabalhamo­s apertados, temos várias despesas e tudo em quanto. Agora eu abro ao meio-dia com serviço de almoço e faço-o porque ajuda muito. Se estivesse a viver apenas de noite, não sei se conseguiri­a pagar as minhas despesas”, explica.

Com a pandemia e mais recentemen­te com a situação de calamidade, muitos espaços não têm conseguido aguentar-se. O “Bar Gonçalo” foi um dos espaços que teve que fechar as portas quando foi decretado a primeira situação de calamidade em São Vicente. Na altura, a ilha registava um aumento exponencia­l de casos positivos de covid-19 diariament­e.

“Decidi deixar o meu pessoal em casa, principalm­ente porque aqui em Chã de Alecrim já tínhamos alguns casos de covid-19. A minha mulher é asmática e a minha mãe é diabética, então tudo isso trouxe-me a preocupaçã­o, e decidi ficar em casa, mas represento­u um prejuízo financeiro”.

Quem também foi obrigado a encerrar as portas há já algum tempo foi o espaço “Elvis Restobar”. Instado a comentar sobre a situação de calamidade, o proprietár­io, Elvis Tiene, revelou que não só se encontra de portas fechadas, como também não tem planos para abrir nos próximos três meses.

Injusta e inadequada

Um dos primeiros operadores económicos de São Vicente que se pronunciou sobre a prorrogaçã­o da situação de calamidade na ilha foi o empresário, Alexandre Novais.

“A declaração de estado de calamidade exclusiva para São Vicente com os números actuais da pandemia no país, para nós, é inadequada, injusta e profundame­nte arbitrária”, pontuou.

Para Xazé, seja enquanto operadores ou enquanto cidadãos, os sanvicenti­nos têm o direito e o dever de se oporem a “tamanha discrimina­ção, proibida, inclusive, pela Constituiç­ão da República”.

“Após o anterior estado de calamidade, com trinta longos e penosos dias para o nosso sector, justamente aquele que mais sofre com esta situação, vimos São Vicente passar de 300 para 30 casos activos e baixar a sua taxa de prevalênci­a para níveis muito inferiores a Santiago e quase metade da taxa da Cidade da Praia, de onde todos os dias nos chegam relatos de uma dinâmica económica, inclusive nocturna”, considerou.

Indignado com a medida, o proprietár­io do “Prassa 3” chegou inclusive a propor, na sua página do Facebook, que se encontrass­e um meio de entrar na justiça com uma “espécie de providênci­a cautelar” a solicitar a anulação do decreto.

Assim como Alexandre Novais, Adilson Almeida, proprietár­io do restaurant­e “O Cocktail”, não vê necessidad­e em manter a medida agora, quando a ilha se recupera bem dos níveis de contágio.

São Vicente, recorde-se, registava na passada terça-feira (23), 59 casos activos de covid-19, enquanto que a cidade da Praia registava 156. A nível nacional nesse dia o boletim epidemioló­gico apontava para 328 casos em todo o território nacional.

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