Operadores económicos divididos quanto à prorrogação do estado de calamidade
A prorrogação do estado de calamidade em São Vicente, por causa da covid-19, está a dividir a opinião de alguns operadores económicos. Pensando na eventualidade de males maiores futuramente, há quem considere a medida aceitável. Mas há também quem considere a medida injusta e inadequada.
Aprorrogação do estado de calamidade em São Vicente, por parte do governo, na semana passada, por causa da covid-19, teve um impacto balançado junto dos operadores económicos da ilha, principalmente os do ramo da restauração e bares.
Há quem aceite a medida com naturalidade, precavendo-se assim de um cenário bem pior lá mais para a frente, como é o caso de Hernâni Delgado, proprietário do “Bar Gonçalo”, sito no bairro de Chã de Alecrim.
Como afirma, “a prorrogação da situação de calamidade foi uma medida justa sim, porque se não aguentarmos um pouco mais neste momento, mais dias pela frente, iremos pagar a factura com consequências bem mais severas. Mais vale deixarem-nos trabalhar com estas restrições, até às 23 horas, porque já dá para safar o dia e pagar as despesas algo mais tranquilos”.
Apesar de considerar a medida justa, Hernâni Delgado sente que o seu negócio está a ser afectado, ao ter que fechar às 23 horas, pois é mais ou menos a essa hora que os seus serviços são mais procurados. Neste sentido, teve que se readaptar quanto aos horários.
“Com este horário trabalhamos apertados, temos várias despesas e tudo em quanto. Agora eu abro ao meio-dia com serviço de almoço e faço-o porque ajuda muito. Se estivesse a viver apenas de noite, não sei se conseguiria pagar as minhas despesas”, explica.
Com a pandemia e mais recentemente com a situação de calamidade, muitos espaços não têm conseguido aguentar-se. O “Bar Gonçalo” foi um dos espaços que teve que fechar as portas quando foi decretado a primeira situação de calamidade em São Vicente. Na altura, a ilha registava um aumento exponencial de casos positivos de covid-19 diariamente.
“Decidi deixar o meu pessoal em casa, principalmente porque aqui em Chã de Alecrim já tínhamos alguns casos de covid-19. A minha mulher é asmática e a minha mãe é diabética, então tudo isso trouxe-me a preocupação, e decidi ficar em casa, mas representou um prejuízo financeiro”.
Quem também foi obrigado a encerrar as portas há já algum tempo foi o espaço “Elvis Restobar”. Instado a comentar sobre a situação de calamidade, o proprietário, Elvis Tiene, revelou que não só se encontra de portas fechadas, como também não tem planos para abrir nos próximos três meses.
Injusta e inadequada
Um dos primeiros operadores económicos de São Vicente que se pronunciou sobre a prorrogação da situação de calamidade na ilha foi o empresário, Alexandre Novais.
“A declaração de estado de calamidade exclusiva para São Vicente com os números actuais da pandemia no país, para nós, é inadequada, injusta e profundamente arbitrária”, pontuou.
Para Xazé, seja enquanto operadores ou enquanto cidadãos, os sanvicentinos têm o direito e o dever de se oporem a “tamanha discriminação, proibida, inclusive, pela Constituição da República”.
“Após o anterior estado de calamidade, com trinta longos e penosos dias para o nosso sector, justamente aquele que mais sofre com esta situação, vimos São Vicente passar de 300 para 30 casos activos e baixar a sua taxa de prevalência para níveis muito inferiores a Santiago e quase metade da taxa da Cidade da Praia, de onde todos os dias nos chegam relatos de uma dinâmica económica, inclusive nocturna”, considerou.
Indignado com a medida, o proprietário do “Prassa 3” chegou inclusive a propor, na sua página do Facebook, que se encontrasse um meio de entrar na justiça com uma “espécie de providência cautelar” a solicitar a anulação do decreto.
Assim como Alexandre Novais, Adilson Almeida, proprietário do restaurante “O Cocktail”, não vê necessidade em manter a medida agora, quando a ilha se recupera bem dos níveis de contágio.
São Vicente, recorde-se, registava na passada terça-feira (23), 59 casos activos de covid-19, enquanto que a cidade da Praia registava 156. A nível nacional nesse dia o boletim epidemiológico apontava para 328 casos em todo o território nacional.