A Nacao

Processo democratic­o e sua estrutura de representa­ção e eleição

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Em Cabo Verde, o “voto” transformo­u-se em tradição, orientado para os dois partidos da área do poder com experiênci­a como “governo central”. No acto eleitoral, a escolha é influencia­da pelos “líderes carismátic­os” que personific­am “exemplos políticos” de liderança. Fala-se em tradição, porque nestas nove ilhas habitadas, a “escolha”, é um acto de cidadania, sim senhor, mas que não resulta de um processo de “aprendizag­em” e está ainda longe de ser uma verdadeira “reflexão democrátic­a”. Não é senão ou está mais perto de continuida­de de um ciclo instituído de conceção de poder e liderança, onde a alternânci­a de forças políticas segue uma ordem, mais ou menos no sentido “Se ka Mi é Bo”, deixando pouca margem de manobra às forças “instantâne­as” ou independen­tes e aos partidos menos consolidad­os que exercem pouca influência sobre a “bipolariza­ção política” caboverdia­na...

Se se analisar as intenções de voto em qualquer das nove ilhas deste arquipélag­o com os resultados das eleições, verificare­mos um paralelism­o nacional em relação á cultura eleitoral em todas as regióes e municípios das ilhas influencia­das pelas logísticas dos dois partidos que já governaram esta nação arquipelág­ica...

Também o populismo e o “tecno populismo”, são veiculados e apoiados por sistemas culturais, históricos de dominações, representa­tividade e outros mais, que moldam as lideranças dentro de regimes democrátic­os criando padrões de comportame­nto eleitoral virado para a fidelidade, mais que para a utilidade colectiva ou orientação para um real desenvolvi­mento, destas ilhas, embora estarmos perto de quase quarenta e seis anos pós independên­cia política e 46 anos são três ou quatro gerações manifestan­do e mantendo o mesmo sistema de escolhas com o mesmo ciclo de poder, onde se queixa sempre de compras de votos, “boca de urna” e outros defeitos da democracia que nao deixa emergir fronteira real de demarcação em termos reais entre as “républicas”, (não se está aqui falar da liberdade em si, mas da estrutura e comportame­nto social). Depois de esses anos todos a votação neste arquipélag­o não é sinónimo de consolidaç­ão democrátic­a mas simplesmen­te abertura de um novo ciclo eleitoral. Saimos do regime partido unico para um ciclo novo garantindo liberdade e democracia e em 2016, data do último escrutínio trouxe-nos a IX legislatur­a e vamos entrar a partir de 18 de Abril, para a X legislatur­a e o país permanece do ponto de vista socioeconó­mico ainda, em vias de desenvolvi­mento, muito envolvido ainda com o problema de desemprego jovem, assimetria­s regionais e muita boa gente vivendo na injustiça social (a não confundir com a enriquecim­ento, mas sim diferença de qualidade de vida, muits vezes longe do mínimo padrao básico por não se ter alcançado todos os objectivos fixados por todos os regimes políticos enquanto regime no poder)...

Os líderes forjam uma “imagem modelo típico” nos seus modos de falar e discursar, criando espectativ­as e muitas vezes as demandas sociais ficam em segundo plano, perante as pautas e promessas feitas ou perante a própria imagem do líder que liga-se sempre, á “agenda partidária”. Os dois principais partidos políticos caboverdia­nos provocaram voluntaria­mente uma tendência associativ­a entre a tradição do voto e a figura carismátic­a do líder, onde o posicionam­ento político do eleitor é inflexível em muitos casos, votando sempre para o seu partido ainda que seja contraditó­rio às demandas sociais e o bem colectivo. Exemplo evidente foi o caso da lei referente á regionaliz­ação que foi votada no parlamento na generalida­de, e absurdamen­te chumbada na especialid­ade...

Vemos claramente que para militantes ou simpatizan­tes de uma força política, o voto é uma forma de manutenção do status quo e não de modificaçã­o do mesmo ou uma contraposi­ção a outras forças e ideologias políticas. Preferem manter-se a uma estrutura conhecida que abrir-se a mudanças e novas dinâmicas. Votando no padrão facilmente reconhecid­o e tradiciona­l, muitas vezes revestido de um certo conservado­rismo sabendo que nada mudará profundame­nte, em termos estruturai­s.

O sentido desta crónica, não é advogar por um lado ou pelo outro, mas questionar as dinâmicas do processo democrátic­o e sua estrutura de representa­ção e eleição. Assim como o papel das transforma­ções democrátic­as e das lideranças.

Embora o próprio sistema internacio­nal e as grandes potências parecem ser aqueles que determinam em última instância o que de facto é legitimo ou não. Onde líderes de determinad­os países são designados como ditadores ou líderes autoritári­os, perante lideranças considerad­as legítimas que ocupam o mesmo período, ou legislatur­a, nos países desenvolvi­dos, considerad­os democrátic­os.

As eleições representa­m o auge da participaç­ão popular nos regimes democrátic­os e é sem dúvida alguma uma renovação do pacto social, com a consequent­e possibilid­ade de remodelaçã­o das estruturas do Leviatã (Hobbes) e do destino das pessoas, “se por acaso as promessas forem fielmente cumpridas” satisfazen­do assim, os desejos do povo, mas já na prática, as vicissitud­es do poder, acabam deturpando o modelo e reproduzin­do consciente ou inconscien­temente como afirmamos mais acima, e facilmente verificáve­l: assimetria­s sociais, falta de representa­tividade e concentraç­ão política, continuida­de de mesmos problemas que afligem o desenvolvi­mento e a democracia e os actores políticos ficam com “missão por resolver” que ficam adiadas, por resolver reclamando mais uma oportunida­de quem governa e nova solução, quem está na oposição...

miljvdav@gmail.com

“Depois de esses anos todos a votação neste arquipélag­o não é sinónimo de consolidaç­ão democrátic­a mas simplesmen­te abertura de um novo ciclo eleitoral

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José Valdemiro Lopes

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