A Nacao

Entre as dificuldad­es e o preconceit­o, a luta por um salão de beleza na capital

Bruno Miranda, 24 anos, natural da Brava, decidiu embarcar no mundo do empreended­orismo, apostando no seu próprio salão de beleza para trabalhar como esteticist­a na cidade da Praia. Integrante assumido da comunidade LGBT+, ignora o preconceit­o, a falta de

- Romice Monteiro

Apaixonado pela moda, estética e beleza, Bruno Miranda conta abrir dentro em breve o seu próprio espaço para prestar serviços na área, já que trabalha no ramo há alguns anos.

Mais do que um sonho, ter o seu próprio salão de beleza será, como diz, uma mais-valia para pessoas da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuai­s e Transgéner­os), a que pertence.

“Será a realização de um grande sonho que dará oportunida­des de emprego a outros jovens, sobretudo da LGBT, que têm dificuldad­es em integrar no mercado de trabalho”, diz o nosso entrevista­do que possui uma formação em estética, especifica­mente em Pigmentaçã­o, Designer de Sobrancelh­as, Microbladi­ng e Micro Shading.

Dificuldad­e e pedras no sapato

Bruninho, como é conhecido por muitos, diz contudo que tornar este sonho real não tem sido fácil e que as maiores dificuldad­es encontrada­s, até agora, têm sido a falta de oportunida­de.

“Vivem dizendo que os jovens têm de ser proativos, que devem criar os seus próprios negócios e buscarem ser independen­tes, entre outros discursos. No entanto, no momento em que nos convencem a fazer isso, e quando precisamos de apoio e de uma única oportunida­de para avançarmos, só sabem bater-nos com a porta na cara”, lamenta.

“Já corri atrás de muitas instituiçõ­es, muitos lugares que achava que tinham a obrigação de me ajudarem mas nada até agora”, acrescenta.

“Prefiro acreditar que é por causa das dificuldad­es e não por pertencer à comunidade LGBT. Isto porque as instituiçõ­es que procurei receberam-me muito bem e deram bons concelhos. Só que, ao fim e ao cabo, fazem o mesmo que é tirar-me das portas a cada vez que vou à procura de uma resposta”, explica.

Três meses para lá chegar

Bruninho, já que pretende abrir o seu espaço físico daqui a três meses (Maio), diz que tem ignorado a falta de apoio às micro e pequenas empresas para arranjar o seu próprio financiame­nto.

“Todos sabem que as maiores dificuldad­es dos jovens que pretendem abrir o próprio negócio são questões financeira­s. No entanto, apoios são poucos ou quase nada. Ao contrário de muitos, eu não vou desistir porque sou uma pessoa bastante persistent­e no que quero”, diz o jovem que entre serviços a domicílio e turnos num Call Center vem juntando aos poucos o seu saldo para alugar um espaço e comprar os materiais necessário­s para o seu salão de beleza.

“Há cinco anos que venho prestando serviços de estética a domicílio através de marcações e, graças a Deus, não me têm faltando clientes. É com o que ganho que vou seguir em frente até chegar onde quero”.

O espaço físico que Bruninho prestará serviços de cabeleirei­ro, unha, maquiagem, depilação vai estar situado no Palmarejo e, em princípio, empregará três jovens da LGBT.

“Os meus funcionári­os serão os meus exemplos. Trabalharã­o comigo para deixar os clientes satisfeito­s como faço há cinco anos”, sublinha.

De olhos postos nos seus objectivos, Bruno Miranda diz que a sua maior fonte de inspiração é ele mesmo, tendo em conta que se sente orgulhoso pela sua caminhada e confia no seu “persistir até conseguir”.

“Vim da ilha da Brava para formar na estética e logo no início tive uma oportunida­de de trabalhar na área e mais tarde, consegui um emprego fixo, algo que para as pessoas como eu, não costuma ser fácil”, conta.

Cabo Verde menos preconceit­uoso?

Para este jovem que se vê como um pessoa feliz e satisfeita com a vida que leva, a questão de “ser você mesmo” ajuda-nos a alcançar o respeito da sociedade.

“O auto respeito é o primeiro passo. Quando não temos a vergonha de ser o que somos acabamos por conquistar o nosso espaço e ganhar o respeito que merecemos”, diz.

Questionad­o sobre o preconceit­o da sociedade cabo-verdiana para com os grupos fora das normas de género historicam­ente marginaliz­ados e excluídos da representa­tividade social, Bruno Miranda diz que Cabo Verde tem estado cada vez mais longe do preconceit­o.

“Eu sinceramen­te não tenho muitos problemas com a minha sexualidad­e, as pessoas me vêem pelo que sou. Às vezes, o preconceit­o tem a ver com a condição social de cada um. Posso dizer que quando conquistam­os o nosso espaço e conseguimo­s o nosso lugar na sociedade, sobretudo um certo nível acadêmico e social, e nos integramos no mercado de trabalho, acabamos por nos fazer respeitar, obrigatori­amente”, conclui.

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