Entre problemas e ganhos estruturais
Os dados do mais recente estudo da Afrosondagem, divulgado no passado fim de semana, e que mede os níveis de satisfação em relação à democracia no país, foram colhidos em Dezembro de 2019.
Caso a recolha fosse hoje, no contexto de crise pandémica em que o país passou a viver logo a seguir àquela data, a que se acresce os resultados das últimas eleições autárquicas (Outubro), o director-geral da Afrosondagem, José Semedo, admite que alguns resultados poderiam ser outros.
Como explicou ao A NAÇÃO, “da mesma forma que há problemas estruturais há também ganhos que são estruturais e isso vem sendo demonstrado ao longo dos vários estudos que já efectuamos”.
Aliás, como ressalva, desde que os estudos da Afrosondagem começaram a ser realizados, em 2002, o desemprego, o crime e a segurança encabeçam, por norma, a lista das principais preocupações dos cabo-verdianos.
A insatisfação, ao que tudo indica, é sobretudo a nível da política, isto é, do funcionamento da democracia e suas instituições.
“Os níveis de satisfação têm vindo a baixar desde 2014, mas, mesmo assim, os cabo-verdianos continuam a preferir a democracia a outro sistema de governo”.
“Normalmente”, acrescenta, “a partir do momento que se passa a viver em democracia, os níveis de satisfação tendem a baixar. E isso acontece sobretudo quando as pessoas não estão satisfeitas com a economia, isto é, quando boa parte das suas necessidades socio-económicas não estão a ser satisfeitas”.
Um dos itens que neste momento poderia ter uma outra apreciação dos inquiridos seria, provavelmente, a questão alimentar/fome que apenas obteve 4,1%, abaixo do abastecimento de água (5,4%) e acima da electricidade (3,7%).
Com a covid-19, diz o director-geral da Afrosondagem, “esta é uma hipótese provável, a ter em devida conta. A covid-19 trouxe vários problemas, um dos quais a nível da sociedade, ganhos que estavam consolidados poderão ter sofrido algum recuo”.
De qualquer forma, conclui José Semedo, “assim como há problemas estruturais, que persistem e se arrastam até hoje, há também ganhos estruturais; por exemplo, a nível do abastecimento de água, electricidade, estradas, educação... Estes são ganhos consolidados e os resultados dos nossos inquéritos apontam para esse sentido”.