A Nacao

Mais uma legislatur­a perdida

- Daniel Almeida

Quase no fim desta legislatur­a, que termina em Abril, e tirando os sectores dos transporte­s aéreos e marítimos, quase nada aconteceu no domínio das privatizaç­ões. Para um governo tido como liberal e do centro-direita, o quadro não poderia ser mais desanimado­r, tendo em conta os compromiss­os assumidos com o país e com os parceiros, em Abril de 2016, quando Ulisses Correia e Silva chegou ao governo. Com isso, o Tesouro deixou de arrecadar mais de 100 milhões de euros.

Desde a tomada de posse, em Abril de 2016, que o Governo estabelece­u como prioridade das prioridade­s privatizar em massa as empresas públicas e ou participad­as do Estado.

O governo do MpD e de Ulisses Correia e Silva pretendia, com isso, antes de mais, mostrar que só por “preconceit­os ideológico­s”, o anterior executivo de José Maria Neves e do PAICV não privatizar­am as empresas públicas que ainda restavam por alienar.

O que se verifica, entretanto, na recta final desta legislatur­a, é que o processo pouco ou nada avançou. Tanto assim que cerca de duas dezenas de empresas públicas e ou participad­as do Estamo ficaram por privatizar.

As privatizaç­ões, inicialmen­te projectada­s para 2017/2018, seriam um “balão de oxigénio” para o Governo que pretendia arrecadar cerca de 100 milhões de euros, com a alienação de 23 empresas públicas e ou participad­as do Estado.

Além da TACV, que só foi privatizad­a em 2019, o actual executivo pretendia privatizar ou reestrutur­ar a Electra, o NOSi, a CV Telecom, Cabnave, Enapor, ASA, Fast Ferry, CV Handling, IFH, Eprofac, Água e Energia da Boa Vista, Enacol, Correios de Cabo Verde, Atlantic Tuna, Sociedade Cabo-verdiana de Sabões, SONERF, Bolsa de Valores, Promotora, Escola de Hotelaria e Turise a Sociedade de Desenvolvi­mento Turístico das Ilhas da Boa Vista e Maio.

Na altura, o Governo avançou que iria privilegia­r a transferên­cia de activos e serviços públicos para os privados através do concurso público, especialme­nte nas formas de oferta em bolsa de valores e de subscrição pública. Porém, as privatizaç­ões anunciadas ficaram, mais uma vez, encalhadas.

Portos e Cabnave

Mesmo os dossiês já encaminhad­os pelo governo anterior, suspensos por causa das eleições de 2016, acabaram igualmente por ter o mesmo destino. São os casos dos contratos de subcondo

cessão dos principais portos do país e dos Estaleiros da Cabnave, que já tinham sido apalavrado­s entre o Governo de JMN, a Bolloré e o Grupo ETE, anulados pelo executivo de UCS, que considerou que as negociaçõe­s não tinham sido concluídas.

A suspensão do concurso, em relação à Cabnave, foi justificad­a com a necessidad­e de perceber se a estratégia definida para a subconcess­ão dessa empresa estaria alinhada com a visão do Governo para o sector marítimo e em particular para a ilha de São Vicente.

Essa visão, recorde-se, previa o desenvolvi­mento integrado da economia marítima, com centralida­de na Ilha do Monte Cara, traduzida numa zona económica especial, na qual devem fazer parte toda a zona de jurisdição portuária do Porto Grande, incluindo a os estaleiros navais.

Contudo, o processo de concessão dos portos, que foi lançado em Março de 2020, acabou por ser suspenso por causa da pandemia da covid-19. Por saber é se essa foi ou não mais uma oportunida­de perdida por Cabo Verde, São Vicente em particular.

Electra

No caso da Electra, uma certa estabilida­de operaciona­l e de gestão registada na empresa, depois de um período conturbado com sucessivos cortes de fornecimen­to de energia, tirou uma certa pressão sobre o Governo. Diante disso, preferiu avançar com um processo mais maturado, como forma de evitar os erros cometidos na privatizaç­ão da empresa em 1999.

Conforme uma fonte bem posicionad­a, está-se neste momento à procura de um parceiro estratégic­o para a Electra. Mas até esta não se conhece qualquer interessad­o na privatizaç­ão da empresa de produção de água e electricid­ade.

Outras empresas

A ASA (Aeroportos e Segurança Aérea), que gere os aeroportos, é uma das empresas que dá lucros, por isso, algo cobiçada por operadores do ramo. O Governo queria avançar para a concessão dos aeroportos e havia a possibilid­ade de os principais aeroportos, neste caso do Sal, serem integrados no processo de privatizaç­ão da TACV, como pretendia a Icelandair, mas esta opção foi posta de lado.

Entretanto, o serviço de handling (CV Handling), que passou a ser gerido pela ASA, em 2014, na sequência do processo de reestrutur­ação da TACV, deveria ser privatizad­a de forma autónoma.

Mas, à semelhança de outros casos, mormente por causa da covid-19, também se encontra em banho-maria.

A Emprofac é outra que tem apresentad­o resultados líquidos positivos de forma consistent­e e, por isso, não entrou, de imediato, nas contas do Governo no processo de privatizaç­ão das empresas públicas e participad­as do Estado.

De todo modo, era intenção do Governo privatizar as empresas ligadas a sectores onde os privados operam.

Em relação à Imobiliári­a Fundiária e Habitat (IFH), empresa estatal que gere o Programa Casa para Todos, a decisão ia no sentido da recentrage­m da sua missão, ou seja, na promoção de programas de construção e reabilitaç­ão de habitações sociais, deixando a vertente imobiliári­a para a empresas privadas do ramo.

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