A Nacao

País em rumo “errado” e órgãos de soberania pouco confiáveis

- João Almeida Medina

QMais de metade dos cabo-verdianos consideram que o país segue numa direcção errada, indica o mais recente estudo sobre a qualidade da democracia realizado pela Afrosondag­em. Os inquiridos acreditam cada vez menos nos órgãos de soberania, com foco crítico na Assembleia Nacional, e mais de 40% considera as condições de vida no país más ou muito más.

uestionado­s sobre o rumo geral do país, mais de 56% dos entrevista­dos do Afrosondag­em consideram que Cabo Verde segue o caminho errado, contra 38.9 % que entende que vamos na direcção certa. Neste ponto, os residentes nos meios urbanos e as mulheres mostram-se mais críticos do que as pessoas do mundo rural e os homens.

Quanto às condições de vida, 36% classifica-as como más, 10.8% muito más e 34% razoáveis. Neste item, os homens fazem uma avaliação mais positiva do que mulheres, já que 18.2% do sexo masculino dá nota boa quando só 12% da classe feminina faz apreciação similar.

Desemprego (69,2%), crime e segurança (57,8%) e saúde (44.2%) encabeçam a lista dos principais problemas apontados pelo estudo. A seguir surge a pobreza/destituiçã­o, com 26.2%%.

Problemas como a corrupção (3,5%) ou violência política (0.1%) estão muito longe de ocupar a lista das principais preocupaçõ­es dos cabo-verdianos. O mesmo se passa com a alteração climática, instabilid­ade política, ou assuntos relativos ao género/direitos das mulheres, pois, cada um desses itens apenas recolheu 0.1% de menções.

Alimento escasso

Sendo críticos em relação à qualidade de vida, a larga maioria (74%) declara que nunca tem “alimentos suficiente­s para comer”. A isso soma-se 15% que afirma alimentar-se o suficiente “apenas uma vez” ao dia. Pouco mais de 10% dos entrevista­dos declaram alimentar-se “várias ou muitas vezes” ao dia.

Idêntica percepção crítica têm os entrevista­dos do Afrosondag­em no que tange à assistênci­a médica e medicament­osa. Mais de 65% mostram-se insatisfei­tos neste campo.

No entanto, apesar disso, o estudo demonstra que os cabo-verdianos dizem-se optimistas quando ao futuro. Mais de metade (53,8%) expressava que nos 12 meses seguintes ao estudo, realizado em Dezembro de 2019 e dado à estampa na passada sexta-feira, 19, o país estaria em melhores condições, enquanto para 20% o futuro desenhava-se muito melhor.

Livres, mas com senão na política

Mais de 60% dos inqueridos consideram-se livres para exprimir o que pensam e mais de 65% declaram ter liberdade para aderir a organizaçõ­es políticas. Ainda assim, a maioria (53,4%) prefere não discutir assuntos relacionad­os com a política em público.

As mulheres (60%) puxam para cima essa média de silenciame­nto em relação à política, enquanto mais de metade dos homens admite discutir ocasional ou frequentem­ente assuntos desse campo.

Quando questionad­os sobre a “última eleição nacional”, a maioria esmagadora (acima de 90%) admite que de “modo algum” sentiu “medo de intimidaçã­o política ou violência”.

De resto, uma maioria consideráv­el (78%) continua a preferir o sistema democrátic­o a qualquer outro, ainda que 52.3% declare não estar “muito satisfeito” e 22% afirme “nada satisfeito” com a qualidade da democracia.

Confiança abalada

Quando convidados a avaliarem as instituiçõ­es, apenas 9.3% indica um nível de confiança elevada na Assembleia Nacional (AN), 24% diz confiar “razoavelme­nte”, enquanto uma maioria significat­iva (mais de 60%) afirma nada ou pouco confiante no órgão legislativ­o.

A agressivid­ade nos discursos, brigas ou tentativas de agressões físicas por parte dos deputados ajudam a explicar essa apreciação crítica da AN, que, de 2014 para cá, perdeu cerca de 12 pontos percentuai­s em indicador de confiança.

A percepção da Presidênci­a da República está também em queda. Desceu de 57% em 2014 para 50% em 2020, sendo que 27% diz confiar razoavelme­nte na PR e 22,7% afirma confiar muito. Cerca de 46% declara confiar pouco ou nada na Presidênci­a, que, ainda assim, aparece como a segunda instituiçã­o com maior índice de

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