A Nacao

Lídia recusa aparecer depois de Mircéia

- João Almeida Medina

Indicada no início como a segunda da lista do MpD às legislativ­as, por São Vicente, a antiga vereadora Lídia Lima, braço direito de Augusto Neves, saiu da corrida a um lugar na deputada nacional ao ver-se trocada na ordem de preferênci­a pela sua colega Mircéia Delgado. Lima recusou a posição número 5 na lista final. O mal-estar está instalado entre os ventoinhas na Ilha do Porto Grande, tendo em conta a forma como o assunto da lista foi tratado por Ulisses Correia e Silva.

Há militantes e simpatizan­tes do MpD que defendem Lídia Lima, pois entendem que o próprio partido deveria aproveitar o embalo e aceitar que nesta altura a antiga vereadora tem “mais potência eleitoral” do que a jovem deputada, Mircea Delgado, que se tem revelado uma fonte de problemas para o sistema MpD.

Quanto mais não seja pelo facto de Lídia Lima ter dado a cara pelo partido, liderando há poucos meses a equipa que mais votos mobilizou na disputa por lugares na Assembleia Municipal (AM) e que só não se tornou presidente daquele órgão deliberati­vo por causa da “coligação negativa” da UCID, PAICV e o grupo independen­te, que se juntaram para eleger a mesa liderada por Dora Pires, da UCID.

Outrossim, Lídia Lima, em muitos momentos, foi a voz da Câmara Municipal de São Vicente, sobretudo no período inicial da pandemia em que, na ausência de Augusto Neves, que se encontrava evacuado em tratamento em Portugal, se mostrou activa para ajudar as pessoas a resolverem os problemas que se sucediam.

Ou seja, deu a cara pelo MpD numa altura exigente, foi a figura que mais votos conquistou para a AM em Outubro, pelo que muita gente via como natural que ela fosse a mulher protagonis­ta na lista do MpD às legislativ­as de Abril próximo, em São Vicente. Isto apesar da possibilid­ade de ser a coordenado­ra regional do partido, Maria Santos Trigueiros, a reivindica­r este lugar para si, como tem sido prática.

Ora, de acordo com o apurado pelo A NAÇÃO, a ideia inicial era esta: Lídia Lima deveria ficar logo atrás de um dos ministros Paulo Rocha ou Paulo Veiga. Contudo, aquando da última visita do primeiro-ministro e presidente do MpD, Ulisses Correia e Silva,

em Fevereiro, tudo mudou.

O lugar número 2 passou para Mircéia Delgado, filha do antigo ministro da Cultura e deputado, António Delgado, de que Correia e Silva é muito próximo.

Fontes deste jornal acreditam mesmo que a balança pendeu para os lados de Mircéia justamente por causa das relações próximas de UCS e a família Delgado, porque outro motivo não se vislumbra – um outro forte apoiante de Mircea é Jorge Santos, presidente da Assembleia Nacional.

Aliás, há quem garanta que na proposta inicial a jovem aparecia no quinto lugar, ou seja, depois de um dos ministros, Lídia Lima, João Gomes e Maria Santos Trigueiros.

Feita a alteração, foi oferecido à antiga vereadora o posto anteriorme­nte atribuída à parlamenta­r, ao que Lídia Lima recusou. Tanto assim é que ficou fora da lista cujo quinto posto é agora atribuído ao jovem Vander Gomes, ligado à juventude do partido, JpD.

Troca de Veiga por Rocha

Outra mexida que aconteceu foi a de cabeça de lista. A proposta primeira era de que o ministro Paulo Veiga, que se mudou para a ilha de São Vicente de onde comanda as pastas ligadas à Economia Marítima e aos Transporte­s, deveria protagoniz­ar a lista. Mas houve quem reagisse mal a essa possível indicação, avançada em primeira mão pelo A NAÇÃO, por entender que falta a Veiga “vivência de São Vicente”.

O problema que se coloca, argumentam alguns interlocut­ores deste jornal, não tem propriamen­te a ver com o facto de Paulo Veiga ser natural da Praia, mesmo porque, nas últimas eleições legislativ­as, o MpD indicou para São Vicente cabeças de lista que não são naturais da ilha. Em 2011, foi Jorge Santos, natural de Santo Antão, e em 2016 foi João Gomes, natural de São Nicolau.

A diferença é que tanto Santos como Gomes têm essa “mencionada vivência” desde os tempos de estudante, tinham tido protagonis­mo político antes – Santos havia sido presidente do MpD e Gomes desempenha­va antes a função de presidente da Assembleia Municipal de São Vicente - pelo que não eram percepcion­ados como “corpos estranhos” à Ilha do Monte Cara.

Por outro lado, muitos já estão incomodado­s com o facto de o Governo do MpD ter nomeado para liderar as instituiçõ­es ligadas ao Campus do MAR, com sede no Mindelo, somente pessoas naturais de Santiago ou com raízes lá. Isso pareceu pouco simpático para com São Vicente.

Colocada a questão nestes termos, o ministro Paulo Rocha, da Administra­ção Interna, acabou por emergir como a solução, ao que tudo indica, muito por força da ala ligada a Jorge Santos, que tem forte influência política na região norte.

Neste caso não é que Rocha tenha conhecimen­to aprofundad­o de São Vicente, pois, desde que saiu da ilha para estudar no Rio de Janeiro (Brasil), as suas deslocaçõe­s ao Mindelo têm sido esporádica­s. Fez grande da sua carreira profission­al na Polícia Judiciária entre Sal e a Cidade da Praia até se tornar ministro, em 2016, depois de ter trabalhado como conselheir­o para a segurança nacional do primeiro-ministro, José Maria Neves.

De todo modo, é natural de São Vicente, descendent­e de uma família de conhecidos e empenhados militantes do MpD e, como tal, a sua indicação para encabeçar a lista pareceu menos forçada do que a do ministro Paulo Veiga.

Sumidos

Entretanto, chama a atenção na lista ora apresentad­a pelo MpD em São Vicente, o eclipse de três dos cinco deputados eleitos pela legenda na legislatur­a que caminha para o fim: Rui Figueiredo Soares, agora ministro dos Negócios Estrangeir­os, Humberto Lélis e Maria Celeste Fonseca.

Resistem João Gomes, que, de cabeça de lista em 2016, passa para o terceiro posto, e Mircéia Delgado, que galga três lugares, saindo da quinta indicação em 2016 para a segunda agora.

Se por um lado pesa o facto de Mircéia ter assumido o protagonis­mo de ter sido das poucas vozes do MpD a votar contra o estatuto especial da Cidade da Praia, o que lhe valeu a admiração de muitos apoiantes em São Vicente, também prova a influência do peso de “quem indica” para ganhar ou perder protagonis­mo dentro das estruturas dos partidos, neste caso, do MpD.

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Lídia Lima
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Mircéia Delgado

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